Aigra Nova - Conhecer no presente as recordações e tradições do passado
A Aigra Nova, com a Aigra Velha, a Comareira e a Pena, no concelho de Góis, integram a Rede das Aldeias do Xisto.
E foi através deste Programa das Aldeias do Xisto, que estas aldeias outrora tão cheias de vida e que depois foram sendo abandonadas pelos seus habitantes e durante anos ficaram praticamente esquecidas no meio das serranias da Lousã, voltaram a ser recuperadas no seu património mas, apesar disso, infelizmente essa recuperação não trouxe de volta as pessoas que ali habitavam.
Ficaram alguns, valentes e teimosos, para depois da recuperação destas aldeias de xisto mostrar aos visitantes (estes sim, começam a ser muitos) os seus usos e costumes, dar-lhes a conhecer as suas histórias, o artesanato, provar da sua gastronomia, percorrer os caminhos sinuosos mas de belezas ímpares no meio da montanha abrupta e agreste mas de onde brota ainda a água pura e cristalina e correm ventos sempre frescos, às vezes fortes e agrestes, que obriga a procurar o aconchego da lareira à volta da qual, sobretudo nas longas noites de Inverno, a família quase sempre numerosa se reunia para depois de um dia de trabalho duro, comer o caldo, quente, às vezes «adubado» com a carne de porco, salgada, o enchido guardado no azeite ou na banha, ou naco de presunto que era guardado na salgadeira e que tão bom governo davam às mulheres que tinham de governar a casa.
Iam para o trabalho a cantar, andavam no trabalho a cantar, regressavam do trabalho a cantar
Eram tempos difíceis, mas muito saudáveis. E alegres. Porque nas noites mais quentes, sobretudo, depois do trabalho e da ceia, as pessoas juntavam-se no largo da aldeia, à luz dos lampiões, para conviver, cantar e dançar, para combinar os trabalhos do dia seguinte, em que todos se ajudavam mutuamente. E iam para o trabalho a cantar, andavam no trabalho a cantar, regressavam a casa a cantar. Era assim na Aigra Nova, no tempo em que a aldeia tinha muita gente, nova e menos nova, moçoilas bonitas e casadoiras, que levavam os rapazes das redondezas a subir até lá e um ou outro com a concertina às costas fazia o bailarico e todos se divertiam noite fora ou nas tardes calmas de domingo.
Susana Marques, uma citadina que se apaixonou por estas terras
E é um pouco de tudo isto, destas histórias e memórias, que o Programa das Aldeias de Xisto também quis recuperar. E está a conseguir, trazendo às aldeias pessoas de todo o lado, que além das paisagens têm à sua disposição as «oficinas» que mostram os saberes e os sabores de outrora. Foi um pouco de tudo isto que numa destas últimas tardes, fomos ouvir à Aigra Nova, no aconchego da lareira da Loja da Aldeia, onde fomos recebidos pela dr.ª Susana Marques, uma psicóloga que veio da cidade e que se apaixonou por estas terras e que há 10 anos vive no concelho e, através da Lousitânea, tem desenvolvido um trabalho notável na divulgação e promoção destas aldeias.
À volta do lume e de uma mesa onde não faltou o queijo de cabra, o chouriço e a broa, em amena cavaqueira
E enquanto lá fora caía a chuva e soprava forte o vento frio e agreste, à volta do lume e da mesa onde não faltou o queijo de cabra, o chouriço e a broa, em amena cavaqueira, juntaram-se ainda a D. Júlia Maria de Nazaré Nunes, nascida há 76 anos na Aigra Nova e onde é uma das últimas residentes, o seu genro, Manuel Claro, a sua neta, Sandra Cristina, enquanto a filha Lurdes ficou em casa a recolher as cabras e a tratar do «vivo».
A D. Júlia é uma dos dois habitantes que restam na aldeia. O genro, agora reformado e embora com residência em Arganil, ali passa a maior parte do seu tempo, enquanto a Sandra, apesar de jovem, continua a subir com muita frequência à também sua Aigra e naquele dia veio ajudar a avó a encher as chouriças, que já estavam penduradas no caniço, a secar.
Na sua desenvoltura de mulher dinâmica, apesar de curtida pela dureza do trabalho e da montanha, D. Júlia começou a recordar os tempos saudáveis da sua criação. Da mesa farta que dava o trabalho do campo e mesmo que ao tempo não fosse obrigatório ir à Escola, ela frequentou a Escola da Ponte do Sótão e fez a 3.ª classe. Com 19 valores, que só muito mais tarde, quando as netas andavam a estudar, é que acabou por perceber o valor que tinham... aqueles valores. E como se perderam tantos valores, tantas inteligências, porque não havia possibilidades de irem muito mais além nos seus estudos.
E ao descer para a escola e ao subir para a aldeia, a pequena Júlia «tirava as tamanquitas», como recorda, e ia descalça para caminhar mais rápido. Mais tarde e como era das poucas que sabia ler e escrever, escrevia as cartas para namorados daquelas que não sabiam ler e pelo meio até uns versos, certamente românticos, umas «flores», acabando mesmo por ser a confidente das raparigas casadoiras da aldeia, algumas até «nem comiam, como acontecia à minha irmã, quando sabiam que ali estavam os rapazes com uma concertina para fazer o bailarico. E não havia ninguém como os do Franco para tocar concertina», recorda.
No largo da Quintã, eram as reuniões das gentes da aldeia. Ali se convivia, ali se combinavam os trabalhos para o dia seguinte. Ali eram tratados os assuntos que interessavam ao povo da Aigra Nova. E com que orgulho a D. Júlia nos disse que ali tinha nascido, sido criada e de onde nunca saiu, numa casa onde eram 5 irmãos, acabando depois por casar com um rapaz da Ribeira Cimeira, o saudoso Cassiano das Neves Rodrigues, de quem é viúva há 12 anos.
Numa terra onde «a maior parte das famílias tinham 10 a 12 filhos» todos os habitantes eram como uma família. «Os vizinhos eram como irmãos», recorda, com saudade, D. Júlia, que pequena ainda, recorda também a alegria «quando vinha o padeiro, do Pontão do Seladinho, com o cabaz às costas vender aqui o pão. E nesse dia comíamos um paposeco», disse-nos, que ao tempo era uma guloseima que não estava ao alcance de todos.
O trabalho era muito e duro, mas na mesa não faltava o pão, lembra D. Júlia, que no seu tempo de menina e moça andava à frente dos bois, no amanho das terras. «Nunca julguei na minha vida ver uma mulher à frente dos bois», diziam alguns quando viam a jovem nos trabalhos da lavoura ou a passar com os animais em locais onde os acessos eram muito difíceis. E a ensinar os animais, que vinham pequenos, eram criados e faziam os trabalhos na lavoura, «para depois serem vendidos na Feira do Mont'Alto», disse-nos. E com o dinheiro que sobrava voltava a ser comprada outra junta de bois para criar e o resto era para alguma necessidade que surgisse, para comprar os bens necessários para casa.
Os tempos foram mudando, a fábrica de papel da Ponte do Sótão (onde trabalhavam algumas pessoas da aldeia) fechou e começou o abandono das terras e da aldeia à procura de melhores condições de vida. E depois de muitos anos, acabou por surgir «esta revolução, que veio tarde», como nos disse a D. Júlia, que foi a recuperação das aldeias através do Programa Aldeias do Xisto.
Um amor que leva às lágrimas
Primeiro com alguma desconfiança, quando se começou a falar deste Programa, como nos disse Manuel Claro, que de quando em vez e enquanto a sogra ia falando, ia dando algumas achegas e os olhos chegaram mesmo a encher-se de lágrimas não só de saudade, mas também pelo amor que tem por estes pedaços de chão onde nasceu e que tanto ama. Com o irmão, André, serve a Associação de Melhoramentos das Aigras, Comareira e Cerejeira, que com a Lousitânea, que gere a Loja da Aldeia, celebrou um protocolo para a cedência do espaço e onde está também instalada desde há 1 ano.
Um ano que foi celebrado em festa no passado dia de Carnaval. Que foi um dia grande para a aldeia, porque a Lousitânea, que ali tem também a Maternidade das Árvores (espaço de educação ambiental), inaugurou o Caminho de Xisto de Aigra Nova, Aigra Velha, Comareira e Pena (integrado na Rota das Tradições do Xisto) e que une estas quatro aldeias do concelho de Góis.
Um Caminho que enriquece as Aldeias de Xisto do concelho de Góis
Num percurso de 9,2 quilómetros, este Caminho leva quem percorre a sair da Aigra Nova, e subindo o caminho antigo passa pela Fonte dos Bois, onde ainda hoje os pastores levam o gado a beber água. Aigra Velha e uma vez no topo do caminho continuar a descer em direcção à Ribeira da Pena, avistando os Penedos de Góis. Seguindo a levada pela ribeira abaixo, chega-se à Pena e saindo da aldeia, chega-se à Pena e saindo da aldeia por um carreiro a subir a encosta ao chegar ao topo avista-se a Serra da Estrela, de longe, para começar a descer para a Comareira até à Aigra Nova, que fica ao lado.
Os pontos de maior interesse, devidamente identificados, durante o Caminho são a Fonte dos Bicos, o açúde e levada antiga e o penedo da Abelha e tem dois pontos de partida e chegada: na entrada de Aigra Nova e Pena, inserindo-se este percurso pedestre, devidamente homologado pela Federação, na Rede Natura 2000 - Serra da Lousã, «devido ao facto de aqui se poderem ainda encontrar algumas espécies de fauna e flora de grande relevância», além das paisagens bonitas dos montes e vales, inóspitos e selvagens, que caracterizam este rico património cultural.
Muitas pessoas, festa, na inauguração do Caminho de Xisto mas a ausência (notada) da Câmara Municipal
É essa a preocupação da Lousitânea, dar a conhecer e a divulgar toda esta riqueza, como nos disse Sandra Marques, que todos os dias está na Loja da Aldeia da Aigra Nova (ou Isabel Martins), que se comove, vive e vibra com os resistentes que ali se encontram e é mais uma no meio deles. Como aconteceu no dia da inauguração, onde mais de 100 pessoas vieram de todo o país para conhecer o novo Caminho posto à sua disposição. E em cada aldeia, as «oficinas» para dar a conhecer aos caminheiros como se cozia a broa, como se ensinavam os cabritos e mamar e a comer dentro do capril, como se moía o milho. Na Comareira a surpresa dos habitantes, a oferecerem presunto e vinho, terminando em festa na Aigra Nova, com o lanche, o jogo do pau e até um baile. Não faltou o artesão sr. Joaquim, que veio de Castanheira de Pera para oferecer uma réplica da Loja da Aldeia. Só faltou um representante da Câmara Municipal.
«Eu sou de Góis»
O que não falta é vontade a Sandra Marques, que ninguém diz que veio da cidade, há 10 anos, e aqui se fixou, apaixonou-se por estas paragens e aqui quer continuar, porque acredita, apesar das vicissitudes, que estas terras poderão ter futuro. No Inverno, como nos confessou, «não são muitas as pessoas que aqui vêm, mas no Verão há gente todos os dias». E nesta caminhada não está sozinha, não está sozinha nesta paixão que é partilhada com o marido e com o filho, de 9 anos, que no dia da festa dizia, com muito orgulho, alto e bom som: «eu sou de Góis».
J. M. Castanheira
in A Comarca de Arganil, de 11/03/2009
E foi através deste Programa das Aldeias do Xisto, que estas aldeias outrora tão cheias de vida e que depois foram sendo abandonadas pelos seus habitantes e durante anos ficaram praticamente esquecidas no meio das serranias da Lousã, voltaram a ser recuperadas no seu património mas, apesar disso, infelizmente essa recuperação não trouxe de volta as pessoas que ali habitavam.
Ficaram alguns, valentes e teimosos, para depois da recuperação destas aldeias de xisto mostrar aos visitantes (estes sim, começam a ser muitos) os seus usos e costumes, dar-lhes a conhecer as suas histórias, o artesanato, provar da sua gastronomia, percorrer os caminhos sinuosos mas de belezas ímpares no meio da montanha abrupta e agreste mas de onde brota ainda a água pura e cristalina e correm ventos sempre frescos, às vezes fortes e agrestes, que obriga a procurar o aconchego da lareira à volta da qual, sobretudo nas longas noites de Inverno, a família quase sempre numerosa se reunia para depois de um dia de trabalho duro, comer o caldo, quente, às vezes «adubado» com a carne de porco, salgada, o enchido guardado no azeite ou na banha, ou naco de presunto que era guardado na salgadeira e que tão bom governo davam às mulheres que tinham de governar a casa.
Iam para o trabalho a cantar, andavam no trabalho a cantar, regressavam do trabalho a cantar
Eram tempos difíceis, mas muito saudáveis. E alegres. Porque nas noites mais quentes, sobretudo, depois do trabalho e da ceia, as pessoas juntavam-se no largo da aldeia, à luz dos lampiões, para conviver, cantar e dançar, para combinar os trabalhos do dia seguinte, em que todos se ajudavam mutuamente. E iam para o trabalho a cantar, andavam no trabalho a cantar, regressavam a casa a cantar. Era assim na Aigra Nova, no tempo em que a aldeia tinha muita gente, nova e menos nova, moçoilas bonitas e casadoiras, que levavam os rapazes das redondezas a subir até lá e um ou outro com a concertina às costas fazia o bailarico e todos se divertiam noite fora ou nas tardes calmas de domingo.
Susana Marques, uma citadina que se apaixonou por estas terras
E é um pouco de tudo isto, destas histórias e memórias, que o Programa das Aldeias de Xisto também quis recuperar. E está a conseguir, trazendo às aldeias pessoas de todo o lado, que além das paisagens têm à sua disposição as «oficinas» que mostram os saberes e os sabores de outrora. Foi um pouco de tudo isto que numa destas últimas tardes, fomos ouvir à Aigra Nova, no aconchego da lareira da Loja da Aldeia, onde fomos recebidos pela dr.ª Susana Marques, uma psicóloga que veio da cidade e que se apaixonou por estas terras e que há 10 anos vive no concelho e, através da Lousitânea, tem desenvolvido um trabalho notável na divulgação e promoção destas aldeias.
À volta do lume e de uma mesa onde não faltou o queijo de cabra, o chouriço e a broa, em amena cavaqueira
E enquanto lá fora caía a chuva e soprava forte o vento frio e agreste, à volta do lume e da mesa onde não faltou o queijo de cabra, o chouriço e a broa, em amena cavaqueira, juntaram-se ainda a D. Júlia Maria de Nazaré Nunes, nascida há 76 anos na Aigra Nova e onde é uma das últimas residentes, o seu genro, Manuel Claro, a sua neta, Sandra Cristina, enquanto a filha Lurdes ficou em casa a recolher as cabras e a tratar do «vivo».
A D. Júlia é uma dos dois habitantes que restam na aldeia. O genro, agora reformado e embora com residência em Arganil, ali passa a maior parte do seu tempo, enquanto a Sandra, apesar de jovem, continua a subir com muita frequência à também sua Aigra e naquele dia veio ajudar a avó a encher as chouriças, que já estavam penduradas no caniço, a secar.
Na sua desenvoltura de mulher dinâmica, apesar de curtida pela dureza do trabalho e da montanha, D. Júlia começou a recordar os tempos saudáveis da sua criação. Da mesa farta que dava o trabalho do campo e mesmo que ao tempo não fosse obrigatório ir à Escola, ela frequentou a Escola da Ponte do Sótão e fez a 3.ª classe. Com 19 valores, que só muito mais tarde, quando as netas andavam a estudar, é que acabou por perceber o valor que tinham... aqueles valores. E como se perderam tantos valores, tantas inteligências, porque não havia possibilidades de irem muito mais além nos seus estudos.
E ao descer para a escola e ao subir para a aldeia, a pequena Júlia «tirava as tamanquitas», como recorda, e ia descalça para caminhar mais rápido. Mais tarde e como era das poucas que sabia ler e escrever, escrevia as cartas para namorados daquelas que não sabiam ler e pelo meio até uns versos, certamente românticos, umas «flores», acabando mesmo por ser a confidente das raparigas casadoiras da aldeia, algumas até «nem comiam, como acontecia à minha irmã, quando sabiam que ali estavam os rapazes com uma concertina para fazer o bailarico. E não havia ninguém como os do Franco para tocar concertina», recorda.
No largo da Quintã, eram as reuniões das gentes da aldeia. Ali se convivia, ali se combinavam os trabalhos para o dia seguinte. Ali eram tratados os assuntos que interessavam ao povo da Aigra Nova. E com que orgulho a D. Júlia nos disse que ali tinha nascido, sido criada e de onde nunca saiu, numa casa onde eram 5 irmãos, acabando depois por casar com um rapaz da Ribeira Cimeira, o saudoso Cassiano das Neves Rodrigues, de quem é viúva há 12 anos.
Numa terra onde «a maior parte das famílias tinham 10 a 12 filhos» todos os habitantes eram como uma família. «Os vizinhos eram como irmãos», recorda, com saudade, D. Júlia, que pequena ainda, recorda também a alegria «quando vinha o padeiro, do Pontão do Seladinho, com o cabaz às costas vender aqui o pão. E nesse dia comíamos um paposeco», disse-nos, que ao tempo era uma guloseima que não estava ao alcance de todos.
O trabalho era muito e duro, mas na mesa não faltava o pão, lembra D. Júlia, que no seu tempo de menina e moça andava à frente dos bois, no amanho das terras. «Nunca julguei na minha vida ver uma mulher à frente dos bois», diziam alguns quando viam a jovem nos trabalhos da lavoura ou a passar com os animais em locais onde os acessos eram muito difíceis. E a ensinar os animais, que vinham pequenos, eram criados e faziam os trabalhos na lavoura, «para depois serem vendidos na Feira do Mont'Alto», disse-nos. E com o dinheiro que sobrava voltava a ser comprada outra junta de bois para criar e o resto era para alguma necessidade que surgisse, para comprar os bens necessários para casa.
Os tempos foram mudando, a fábrica de papel da Ponte do Sótão (onde trabalhavam algumas pessoas da aldeia) fechou e começou o abandono das terras e da aldeia à procura de melhores condições de vida. E depois de muitos anos, acabou por surgir «esta revolução, que veio tarde», como nos disse a D. Júlia, que foi a recuperação das aldeias através do Programa Aldeias do Xisto.
Um amor que leva às lágrimas
Primeiro com alguma desconfiança, quando se começou a falar deste Programa, como nos disse Manuel Claro, que de quando em vez e enquanto a sogra ia falando, ia dando algumas achegas e os olhos chegaram mesmo a encher-se de lágrimas não só de saudade, mas também pelo amor que tem por estes pedaços de chão onde nasceu e que tanto ama. Com o irmão, André, serve a Associação de Melhoramentos das Aigras, Comareira e Cerejeira, que com a Lousitânea, que gere a Loja da Aldeia, celebrou um protocolo para a cedência do espaço e onde está também instalada desde há 1 ano.
Um ano que foi celebrado em festa no passado dia de Carnaval. Que foi um dia grande para a aldeia, porque a Lousitânea, que ali tem também a Maternidade das Árvores (espaço de educação ambiental), inaugurou o Caminho de Xisto de Aigra Nova, Aigra Velha, Comareira e Pena (integrado na Rota das Tradições do Xisto) e que une estas quatro aldeias do concelho de Góis.
Um Caminho que enriquece as Aldeias de Xisto do concelho de Góis
Num percurso de 9,2 quilómetros, este Caminho leva quem percorre a sair da Aigra Nova, e subindo o caminho antigo passa pela Fonte dos Bois, onde ainda hoje os pastores levam o gado a beber água. Aigra Velha e uma vez no topo do caminho continuar a descer em direcção à Ribeira da Pena, avistando os Penedos de Góis. Seguindo a levada pela ribeira abaixo, chega-se à Pena e saindo da aldeia, chega-se à Pena e saindo da aldeia por um carreiro a subir a encosta ao chegar ao topo avista-se a Serra da Estrela, de longe, para começar a descer para a Comareira até à Aigra Nova, que fica ao lado.
Os pontos de maior interesse, devidamente identificados, durante o Caminho são a Fonte dos Bicos, o açúde e levada antiga e o penedo da Abelha e tem dois pontos de partida e chegada: na entrada de Aigra Nova e Pena, inserindo-se este percurso pedestre, devidamente homologado pela Federação, na Rede Natura 2000 - Serra da Lousã, «devido ao facto de aqui se poderem ainda encontrar algumas espécies de fauna e flora de grande relevância», além das paisagens bonitas dos montes e vales, inóspitos e selvagens, que caracterizam este rico património cultural.
Muitas pessoas, festa, na inauguração do Caminho de Xisto mas a ausência (notada) da Câmara Municipal
É essa a preocupação da Lousitânea, dar a conhecer e a divulgar toda esta riqueza, como nos disse Sandra Marques, que todos os dias está na Loja da Aldeia da Aigra Nova (ou Isabel Martins), que se comove, vive e vibra com os resistentes que ali se encontram e é mais uma no meio deles. Como aconteceu no dia da inauguração, onde mais de 100 pessoas vieram de todo o país para conhecer o novo Caminho posto à sua disposição. E em cada aldeia, as «oficinas» para dar a conhecer aos caminheiros como se cozia a broa, como se ensinavam os cabritos e mamar e a comer dentro do capril, como se moía o milho. Na Comareira a surpresa dos habitantes, a oferecerem presunto e vinho, terminando em festa na Aigra Nova, com o lanche, o jogo do pau e até um baile. Não faltou o artesão sr. Joaquim, que veio de Castanheira de Pera para oferecer uma réplica da Loja da Aldeia. Só faltou um representante da Câmara Municipal.
«Eu sou de Góis»
O que não falta é vontade a Sandra Marques, que ninguém diz que veio da cidade, há 10 anos, e aqui se fixou, apaixonou-se por estas paragens e aqui quer continuar, porque acredita, apesar das vicissitudes, que estas terras poderão ter futuro. No Inverno, como nos confessou, «não são muitas as pessoas que aqui vêm, mas no Verão há gente todos os dias». E nesta caminhada não está sozinha, não está sozinha nesta paixão que é partilhada com o marido e com o filho, de 9 anos, que no dia da festa dizia, com muito orgulho, alto e bom som: «eu sou de Góis».
J. M. Castanheira
in A Comarca de Arganil, de 11/03/2009
Etiquetas: aigra nova, aldeias do xisto
3 Comments:
É de extrema importância fazer a divulgação por mercados onde se possa importar turistas com poder de compra. Seria extremamente errado apostar no turismo de massas, sob pena de se degradar a paisagem e se perder todo o seu valor intrínseco. O Sítio não deve ser banalizado: deve ser valorizado com dignidade. Deve haver honestidade intelectual na sua preservação e exploração.
Queria deixar aqui algumas notas soltas de apelo à inteligência:
1º As coisas não são bonitas só de se verem: são bonitas de se sentir, de causar arrepios pelo mistério que as envolve. A iluminação, mal projectada, nas Aldeias de Xisto causa uma poluição visual que retira o encanto e o mistério ao Sítio. O mau gosto dos candeeiros é um pormenor de somenos importância, quando comparado com um cenário de céu laranja, banalizado como nos centros populacionais.
2º Destruíram caminhos que estavam sulcados pela passagem ancestral dos rodados dos carros de bois. Um património incrível, tapado com cubos de granito. Para não falar nas bermas com blocos de cimento: horrível, sem qualidade, sem dignidade,
3º É com regularidade que comitivas de motociclistas passam pela zona dos Penedos de Góis: semanalmente a Natureza é confrontada com um barulho ensurdecedor, tal como nas grandes cidades. Não estou a ver os amantes da Natureza a coabitar com tais práticas e a repetir o regresso.
4º É com grande tristeza que se vê a Lomba do Mouro transformada em parque industrial: sim, a bateria de aerogeradores é incompatível com a rusticidade do Sítio. É triste e quase me dá vontade de chorar quando olho para tal cenário. A Serra ficou mais pobre. Da mesma maneira que a cúpula da capela do Mosteiros dos Jerónimos nunca há-de ter um aerogerador, porque se trata de um Monumento Nacional, nos Penedos de Góis e zonas envolventes deveria acontecer a mesma coisa: é um Monumento Natural. A propósito, à semelhança do que foi feito para as Portas de Rodão, já se lembraram de propor a classificação dos Penedos de Góis para Monumento Natural?
Utilize-se o Sítio com sabedoria. Saibam tirar dele a riqueza suficiente, com inteligência e sem ganância, para o não estragar.
Haja inteligência e saber.
Ó meu caro anónimo, concordo consigo. Às vezes temos a grata surpresa de ver surgir pessoas que pensam pela sua própria cabeça. Conheço a Aigra Nova há uns anos, e quando lá voltei pela primeira vez após a instalação das eólicas fiquei simplesmente chocado. Aquilo que era belo, puro e preservado, de repente tomou uma dimensão industrial, criando uma atmosfera surreal, absurda e chocante. Se lá forem, percebem o que estou a dizer.
Quanto à recuperação das aldeias, há muitos reparos a fazer. Desde logo porque só lavaram a cara às casas. Se entrarem nalgumas delas vão ficar desiludidos com o que vão encontrar, ou seja, nada. A iluminação é outra barbaridade, bem como as ruas pavimentadas a ...granito. Estamos na Beira Litoral, em terras de xisto e quartzites, não há por aqui granito. Aquilo é um novo-riquismo da treta, para compôr a cena de tipo presépio para turista basbaque ver. Qualquer turista mais exigente e informado, nunca mais lá volta.
E a compôr o ramalhete a loja da rede das lojas de xisto, a vender produtos importados da China, ou algum artesanato industrial de obscuras proveniências. Produtos locais ou oriundos da tradição local, embora encham com isso as notícias dos jornais não há lá nada, para além do costumado mel a que já ninguém liga patavina.
Enfim é tudo um mercantilismo bacoco e mal enjorcado. Valia mais ninguém ter mexido naquilo. Para os puristas como eu e para as populações locais tinha sido muito melhor...
Isto está a ficar bonito!
Campanha... (não eleitoral).
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