sábado, 7 de fevereiro de 2009

Regionalismo goiense: do apego à terra e da notalgia ao fantasma seratista (II)

- A Casa do Concelho de Góis enquanto dispositivo psico-afectivo ou melhorar vida


Também quero destacar outras personalidades que são credoras do agradecimento público de todos os goienses: o dr. José dos Santos Pais, antigo presidente da assembleia geral, cargo que desempenhou após uma carreira jurídica e judiciária brilhante e depois de ter assumido pastas ministeriais nos governos provisório e constitucionais da Republica; o Eng João Nogueira Ramos, também Homem da História, impulsionador primeiro da construção da História da Casa de Góis, que iniciou com coragem e saber, Presidente do Conselho Regional, o único que o fez renascer depois do Prof. Baeta Neves ter cessado funções, antigo autarca, do qual se espera a continuação da produção histórico-científica sobre Góis e a sua casa concelhia; António Lopes Machado, Homem das letras , das viagens e, principalmente, do Regionalismo, a quem a Casa muito deve. Para o final reservei uma figura incontestável e incontestada do Regionalismo, um Homem que se pode considerar um regionalista de todos os costados: Armando Gualter de Campos Nogueira! A sua obra em prol do Regionalismo não cabe na economia de uma comunicação: é impossível pensar em regionalismo, pensarem Góis, sem evocar o Gualter. Dotado de personalidade alegre, extrovertida, imensamente afectivo, foi um dos maiores Amigos dos meus pais, pessoa a quem eu e a Isabel habituámos as nossas memórias infanto-adolescentes. Referência enorme das lutas pelo regionalismo, o Gualter é um marco indelével pelo exemplo que representa e um Amigo de todas as horas.
4. Ao longo das minhas aparições de adulto pelo Regionalismo contactei muitas pessoas, Mulheres e Homens de que guardo imagens perenes; uns, na Casa, alguns dos quais já frisei; outros, por paragens diversas, por exemplo na Câmara. Essa a razão por que desejo sublinhar aqui uma Mulher de grandes causas e de rara sensibilidade social, com a qual desenvolvi uma amizade, forjada nos bancos da Casa. Refiro-me à Dra. Maria de Lurdes Castanheira, na época em que nos conhecemos vereadora do município. Disse-lhe uma vez, numa reunião pública da Casa, que invejava Góis vereadora que tinha; e que, se pudesse, procuraria transferi-la para a Câmara de Lisboa, na qual seria imensamente útil. Estas as razoes para que, neste momento, lhe deixe um aceno de justiça pelo muito que fez - e a esperança que continue a rumar pelas rotas de combate a desertificação e de promoção da inclusão social.
5. Perguntar-se-á, talvez, por que razão a Câmara Municipal me dirigiu este convite. Eu próprio me interrogo sobre o assunto.
Quando convidado, coloquei a questão a um núcleo restrito de Amigos, uma espécie de roda de afectos, porventura algazarra de dúvidas. As respostas não se ofereceram animadoras: eras o único que estava em Agosto em Portugal, vaticinaram uns, a acrescentando porque és um pelintra, um forreta, que nem o teu bisavô Pemeta! Porque falas muito e não dizes nada, alvitrou outra voz; Cá para mim eles estão em penitência, obra do Padre Carlos Alberto, e em vez de irem todos a pé até Fátima, vão escutar uma fala tua, explicava a minha irmã, tradicionalmente optimista. Mas aditava: ainda se nunca te tivessem ouvido ... As opiniões dividem-se; porém - há sempre poréns nestas coisas, interpelando-me muito só posso concluir que a Isabel está coberta de razão: vantagens de ser muito mais velha que eu! A outra explicação possível será a da boa vontade dos escuta dores: na realidade, de regionalista tenho pouco: apenas o espírito, porventura, e o herdo, pois nada fiz que me converta em regionalista; da Casa, embora associado desde que nasci, nada me recomenda: estreei-me nas lides numa direcção que ficou malquista, quiçá exageradamente, registe-se; nos outros cargos só tenho permanecido pela simpatia dos meus amigos das Direcções mais recentes. A dúvida mantém-se, pois. Naturalmente que não represento aqui a Casa de Góis: essa função caberia sempre ao seu Presidente da Direcção, José Dias Santos, A palestra solicitada também não versa a Psicologia Forense e da Exclusão Social, portanto, também não é por aí; bem, se calhar até será, porque falar sobre Regionalismo é, de certa maneira, discorrer sobre a problemática da exclusão social e da promoção da sociedade inclusiva. Então, reorganizemo-nos: estou aqui em nome das minhas actividades académicas, para falar de exclusão social, resultante da desertificação, da pobreza, do abandonismo, da seriação, da estigmatização, da vida dorida da interioridade, a que a Casa de Góis pretendeu acorrer.
. Fico muito mais aliviado! E com a consciência mais tranquila. Mas com um prazer muito grande, por poder partilhar convosco algo que me preenche o tempo. Então, vivamos a constelação reorganizativa dois: estou aqui porque a vida, nas suas entrelinhas, me fez trocar o Direito pela Psicologia, a sede onde estas questões são também equacionadas, Nesta conformidade, permitam que me dirija a todos apenas como um goiense de segunda geração, um regionalista por filiação mas também por afiliação, representando-me a mim mesmo e, de certa maneira, face aos temas que vou abordar, como Director da Faculdade de Psicologia da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.
(Palestra proferida na sessão solene comemorativa do feriado municipal de Góis)
Carlos Alberto Poiares
in A Comarca de Arganil, de 4/02/2009

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