segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Chã de Alvares - Janeiras cobertas por um manto branco

Chegámos a Chã de Alvares perto da hora de jantar. O frio lá fora era intenso e as nuvens escondiam as estrelas. Dentro de casa o ambiente estava agradável, fruto do calor que a salamandra libertava. Estava o jantar no final, quando ouvimos o António Miguel junto à porta gritar:
- Oh pessoal está a nevar! Venham ver, está a nevar!
Abrimos-lhe a porta com a finalidade de o cumprimentar e convidá-lo a entrar afim de beber um copo, não acreditando muito no que dizia. Mas surpresa das surpresas, estava efectivamente a nevar. Do céu caíam pedaços de neve, flocos brancos e muito grandes que nos deixaram fascinados, excitados e extasiados. Toda a família num ápice veio para a rua sentir aquela precipitação branca e cândida que lentamente caía no chão, cobrindo-o de branco em poucos minutos. Para muitos de nós era a primeira vez que assistíamos à queda de neve, para os outros - os mais velhos - era o recordar de tempos muito distantes.
Na manhã seguinte o espectáculo foi ainda melhor. O dia acordou radioso, cheio de sol, e Chã de Alvares completamente atapetada de branco. Foi altura de se tirar algumas fotos, brincar com a neve e apreciar a beleza de todo aquele esplendor.
De tarde o Marcelo, o Chico, o Carlos e mais alguns amigos, com as respectivas concertinas, começaram a percorrer todos os lugares da povoação cantando as "Janeiras". E cantavam assim:
Acabadas são as festas
À porta temos os reis
Venha lá dessa casa
Alguma coisa que nos deis.


Menina que está sentada
Nesse banco de cortiça
Sai lá dessa cozinha
E venha dar uma chouriça

Ou da gorda ou da magra
Ou daquela que unta a barba
Ou da carne do fumeiro
Ou do pão do tabuleiro.


Depois destas quadras os residentes da casa visitada depositaram no saco a sua contribuição - hoje em dia euros, noutros tempos alimentos - ao que os tocadores e cantadores retribuíram com a quadra de agradecimento:
Estas casas não são casas
Estas casas são casinhas
Tantos anos vivam os donos
Como ela tem de pedrinhas.

No final da ronda mais de uma centena de pessoas juntaram-se na sede da Liga de Melhoramentos para saborearam um esplêndido cozido à portuguesa, onde nada faltava, nem a comida de óptima qualidade e abundância, nem a boa disposição.
A terminar, realizou-se um baile à moda antiga, novamente abrilhantado pelos acordeonistas presentes e que muitos aproveitaram para darem uns passos de dança, recordando assim os bailaricos antigos e os velhos tempos de juventude.
Estão de parabéns todos os que contribuíram para a realização de mais estas "Janeiras", nomeadamente a Alice que coordenou a cozinha e que no final nos surpreendeu com a recitação de um belo poema da sua autoria.
Parabéns mais uma vez. Para o ano lá estaremos de Seus quiser.
José Manuel Simões Anjos
in O Varzeense, de 15/01/2009

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