A sempre eterna Vila de Alvares
Quem como nós conheceu as esquinas, as ruelas e os recantos de Alvares nos anos cinquenta - década da nossa adolescência - reconhece hoje, que já passaram por ela muitas transformações no traçado dos arruamentos e na amplificação do equipamento social, sempre em busca duma melhoria condizente com os ditames e necessidades dos tempos que vão decorrendo, mas sem prévio planeamento. Umas vezes por escassez de verbas, outras por falta de boa vontade, outras ainda por falta de visão e de sensibilidade, estas alterações foram ocorrendo de forma a resolver necessidades do imediato e nunca obedecendo a uma ideia orientadora de maneira a preservar o centro histórico, onde hoje pudessem ser encontrados testemunhos vivos da antiga Vila de Alvares.
Passado que é um século e meio após a extinção do antigo concelho, apenas existe, como sua reminiscência, o velho e decrépito pelourinho. Valha-nos ao menos isso!... Um povo que não preserva a sua história... Esta situação que lamentamos, resulta de erros ocorridos há várias décadas atrás, quando não havia sensibilidade para a preservação dos marcos históricos, os quais se apresentavam como coisas de somenos importância. Deste modo e depois de ter sido devorado pelas chamas todo o espólio do antigo concelho de Alvares, encontramo-nos agora delapidados das restantes fontes da nossa história.
No que diz respeito aos arruamentos do centro histórico, apenas existem dois quelhos que ainda mantêm minimamente o traçado original; de resto tudo foi alterado em nome de um "progresso" muito duvidoso. Vai-nos valendo a recolocação da calçada à portuguesa e outras melhorias no espaço ribeirinho, trabalhos bem recentes e de muito mérito para que nem tudo se perca.
É claro que não podemos ficar agarrados ao passado impedindo melhorias nos acessos, mas ao rasgar uma rua, ou edificar uma casa, devia ter havido a preocupação de preservarem os marcos históricos como símbolos e forças de memória. Mas pelo contrário, foram-se destruindo vestígios das antigas escolas, da cadeia e da casa da Câmara do antigo Concelho de Alvares! Estas situações são completamente irreversíveis, é um facto. Mas que diabo, uma simples lápide no local, assinalando a sua existência, resolveria minimamente o problema, com baixos custos. É só uma questão de abertura de espírito e deixar de lado teimosias mesquinhas. Por outro lado e com um peso de avultadas verbas, foi dada prioridade a outros feitos em homa de outros ideiais, numa apologia d'outros estados de alma exacerbados, deixando na penumbra do esquecimento - eternamente adiado - um símbolo que eternize o maior vulto da nossa pobre e ignorada cultura: o professor Anselmo dos Santos Ferreira. A este homem de letras e de infinda probidade, Alvares deve a mais séria e trabalhosa pesquisa sobre a história da antiga Vila, para além da sua ilimitada dedicação. No entanto a falta do nosso reconhecimento, enquanto povo, ficará como eterna dívida. Decididamente, a gratidão não será a nossa mais viva qualidade. Lá diz o ditado que "santos do pé da porta não fazem milagres".
Quando falamos da antiga Vila de Alvares, ou passeamos dentro dela, o que é que podemos mostrar aos visitantes que testemunhe a homa do nosso passado histórico? Resta-nos o pobre pelourinho para nos livrar de maior vergonha.
Adriano Pacheco
in Jornal de Arganil, de 2/10/2008
Passado que é um século e meio após a extinção do antigo concelho, apenas existe, como sua reminiscência, o velho e decrépito pelourinho. Valha-nos ao menos isso!... Um povo que não preserva a sua história... Esta situação que lamentamos, resulta de erros ocorridos há várias décadas atrás, quando não havia sensibilidade para a preservação dos marcos históricos, os quais se apresentavam como coisas de somenos importância. Deste modo e depois de ter sido devorado pelas chamas todo o espólio do antigo concelho de Alvares, encontramo-nos agora delapidados das restantes fontes da nossa história.
No que diz respeito aos arruamentos do centro histórico, apenas existem dois quelhos que ainda mantêm minimamente o traçado original; de resto tudo foi alterado em nome de um "progresso" muito duvidoso. Vai-nos valendo a recolocação da calçada à portuguesa e outras melhorias no espaço ribeirinho, trabalhos bem recentes e de muito mérito para que nem tudo se perca.
É claro que não podemos ficar agarrados ao passado impedindo melhorias nos acessos, mas ao rasgar uma rua, ou edificar uma casa, devia ter havido a preocupação de preservarem os marcos históricos como símbolos e forças de memória. Mas pelo contrário, foram-se destruindo vestígios das antigas escolas, da cadeia e da casa da Câmara do antigo Concelho de Alvares! Estas situações são completamente irreversíveis, é um facto. Mas que diabo, uma simples lápide no local, assinalando a sua existência, resolveria minimamente o problema, com baixos custos. É só uma questão de abertura de espírito e deixar de lado teimosias mesquinhas. Por outro lado e com um peso de avultadas verbas, foi dada prioridade a outros feitos em homa de outros ideiais, numa apologia d'outros estados de alma exacerbados, deixando na penumbra do esquecimento - eternamente adiado - um símbolo que eternize o maior vulto da nossa pobre e ignorada cultura: o professor Anselmo dos Santos Ferreira. A este homem de letras e de infinda probidade, Alvares deve a mais séria e trabalhosa pesquisa sobre a história da antiga Vila, para além da sua ilimitada dedicação. No entanto a falta do nosso reconhecimento, enquanto povo, ficará como eterna dívida. Decididamente, a gratidão não será a nossa mais viva qualidade. Lá diz o ditado que "santos do pé da porta não fazem milagres".
Quando falamos da antiga Vila de Alvares, ou passeamos dentro dela, o que é que podemos mostrar aos visitantes que testemunhe a homa do nosso passado histórico? Resta-nos o pobre pelourinho para nos livrar de maior vergonha.
Adriano Pacheco
in Jornal de Arganil, de 2/10/2008
Etiquetas: adriano pacheco, alvares
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