Regionalismo em mutação
Fazemos parte duma sociedade em que as mutações se geram à "velocidade da luz", sem nos darmos conta que ela todos os dias nos põe novas questões, novos problemas sociais, obrigando as instituições de cariz popular a uma rápida adaptação às novas realidades, num propósito de acompanhar o balanço imprimido. São estes os efeitos dos nossos tempos.
Nesta torrente atribulada de mudança, foram arrastadas várias colectividades da nossa região para se instalarem nas suas aldeias de origem, como sendo aí o seu lugar certo e ajustado. O que à partida fazia todo o sentido, baseando-se na ideia de proximidade das reais dificuldades, atitude essa que podia também ajudar a mitigar os efeitos negativos da desertificação, dando assim mais vida e cor ao espaço social. Mas de boas intenções está o inferno cheio...
Para nosso espanto, todo o esforço foi feito em vão num tempo de "sol foi de pouca dura", para logo se verificar que o ânimo tinha perdido fulgor, a paixão esmorecia a olhos vistos e a voluntariedade tinha dado lugar ao interesse individual. Cada um passou a tratar apenas do seu quintal e a olhar para o seu umbigo. Trata-se duma situação inquietante sobre a qual vale a pena reflectir e que, à partida, levanta a seguinte questão: por que será que depois de instalados no nosso reduto passamos a ser mais individualistas, menos solidárias e donos duma posição arrogante? Talvez porque ninguém tem saudades daquilo que tem à mão, já que dele pode usufruir a qualquer hora?!
No nosso caso a ideia atrás indicada assenta que nem uma luva, com estragos devastadores na perda de hábitos de convivência citadinos quase esquecidos. Com a agravante de que a nossa mudança foi conduzida através de ideias enviesadas, com peso de interesses particulares nunca vistos e, passados poucos tempos, deu naquilo que não podia deixar de dar: esvaziou-se e desorganizou-se no meio de toda uma desarticulação inacreditável. O que se lastima.
Para quem vive o fenómeno do regionalismo há tantos anos e está atento a estas mutações, não pode deixar de concluir que este sentimento só tem lugar quando acompanha o fluxo migratório por dentro, fora deste contexto perde toda a chama que lhe dá a força e o entusiasmo que o faz mover. Outra coisa, bem diferente, é o bairrismo que se desenvolve dentro de cada aldeia como fenómeno pouco salutar; que cria rivalidades completamente desnecessárias e desajustadas aos tempos que decorrem.
Neste desenrolar do dia-a-dia, parece que as colectividades também têm de ter esta capacidade de ajustamento aos tempos que decorrem, o que de momento é apenas uma ideia que carece de ser confirmada.
Adriano Pacheco
in Jornal de Arganil, de 9/10/2008
Nesta torrente atribulada de mudança, foram arrastadas várias colectividades da nossa região para se instalarem nas suas aldeias de origem, como sendo aí o seu lugar certo e ajustado. O que à partida fazia todo o sentido, baseando-se na ideia de proximidade das reais dificuldades, atitude essa que podia também ajudar a mitigar os efeitos negativos da desertificação, dando assim mais vida e cor ao espaço social. Mas de boas intenções está o inferno cheio...
Para nosso espanto, todo o esforço foi feito em vão num tempo de "sol foi de pouca dura", para logo se verificar que o ânimo tinha perdido fulgor, a paixão esmorecia a olhos vistos e a voluntariedade tinha dado lugar ao interesse individual. Cada um passou a tratar apenas do seu quintal e a olhar para o seu umbigo. Trata-se duma situação inquietante sobre a qual vale a pena reflectir e que, à partida, levanta a seguinte questão: por que será que depois de instalados no nosso reduto passamos a ser mais individualistas, menos solidárias e donos duma posição arrogante? Talvez porque ninguém tem saudades daquilo que tem à mão, já que dele pode usufruir a qualquer hora?!
No nosso caso a ideia atrás indicada assenta que nem uma luva, com estragos devastadores na perda de hábitos de convivência citadinos quase esquecidos. Com a agravante de que a nossa mudança foi conduzida através de ideias enviesadas, com peso de interesses particulares nunca vistos e, passados poucos tempos, deu naquilo que não podia deixar de dar: esvaziou-se e desorganizou-se no meio de toda uma desarticulação inacreditável. O que se lastima.
Para quem vive o fenómeno do regionalismo há tantos anos e está atento a estas mutações, não pode deixar de concluir que este sentimento só tem lugar quando acompanha o fluxo migratório por dentro, fora deste contexto perde toda a chama que lhe dá a força e o entusiasmo que o faz mover. Outra coisa, bem diferente, é o bairrismo que se desenvolve dentro de cada aldeia como fenómeno pouco salutar; que cria rivalidades completamente desnecessárias e desajustadas aos tempos que decorrem.
Neste desenrolar do dia-a-dia, parece que as colectividades também têm de ter esta capacidade de ajustamento aos tempos que decorrem, o que de momento é apenas uma ideia que carece de ser confirmada.
Adriano Pacheco
in Jornal de Arganil, de 9/10/2008
Etiquetas: adriano pacheco, regionalismo
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