sexta-feira, 25 de julho de 2008

Cabreira - O direito à indignação

Desde tempos remotos, que tal como eu, os povos que aqui nasceram foram sujeitos a uma vida de uma jubosidade difícil de descrever.
Resumindo: tudo nos foi sempre negado pelos sucessivos governantes, que se mantiveram sempre de costas voltadas, só se lembrando do tocante a impostos, que se designava por décima. Estes povos que não tendo outros recursos, viam-se obrigados a sair para outras regiões que necessitavam de mais mão de obra para a apanha da azeitona e assim, com aquele dinheiro, poderem satisfazer o que lhes era imposto pelas finanças, e ainda terem que vender alguma cabeça de gado, que deveria ser utilizado para a sua alimentação.
Esquecendo tudo o que fosse para melhorar as suas condições de sobrevivência, tinham que ser eles a resolver, sem o que ainda pouco mais teríamos, além das belas e encantadoras belezas naturais, com que a Mãe Natureza nos foi bastante generosa. Estas realidades estão bem retratadas, e só a não poderá ver quem andar bastante distraído, já que tudo está bem à frente dos nossos olhares, nomeadamente: os Lagares, Moinhos e Moendas comunitários na Ponte Cabreira, e outro lagar na Candosa, foram sacrifício dos nossos antepassados bem distantes, da freguesia de Cadafaz que os mandaram fazer, e que ainda hoje se mantêm operacionais. As pontes Cabreira, Talisca e Entre Ribeiras, foram mandadas fazer em 1857 por aquele grande benemérito, Manuel Lourenço Baeta Neves (Barão de Louredo)que foi natural de Corterredor. Esta figura deve ser lembrada pelos seus concidadãos pelas muitas obras em toda a Comarca e que, como benemérito, ainda não foi igualado a ninguém. Para que o seu nome não se apague deveria estar perpetuado numa das principais avenidas ou praças das sedes de concelho beneficiadas.
Mais tarde, e quando eu já era adulto, recordo com saudade aqueles grandes Regionalistas, que não enumero por serem bastantes e com o receio de poder esquecer algum. Não vendo outra forma porque o esquecimento continuava, viram-se forçados a formar Ligas, Grupos e Comissões de Melhoramentos, e só assim, com a união de todos e sacrifício de alguns, e com estreitas relações com o poder autárquico, que em certos casos nos deram algumas ajudas, tem sido possível resolver muitos dos problemas mais prementes. No entanto, e não basta o nosso grande sacrifício, ainda estejamos bem longe de nos aproximarmos de povos que nada dão mas tudo recebem. São mais felizes que nós porque a política ainda parece continuar de esquecimento. Mas estes povos continuam a sonhar e agora o sonho prende-se com a construção de uma Residencial (Lar da Freguesia de Cadafaz) a construir na Cabreira, onde a sua Comissão de Melhoramentos adquiriu um terreno, que foi doado à Cáritas Diocesanas de Coimbra que se mostrou interessada ser dona da obra.
A União Recreativa do Cadafaz tem desenvolvido esforços no sentido de fazer obras e obter mobiliário para a sua extensão. A Câmara Municipal de Góis, ciente das grandes necessidades, prometeu auxiliar, como também a Junta de Freguesia de Cadafaz e alguns particulares, Compartes e organização Regionalistas; mas como é óbvio a obra é de grande monta, o que se torna necessário que também o Poder Central tenha alguma compaixão, participando também, sem o que se torna muito complicado. Não basta que se façam grandes Estádios e outras obras a igualarem-se aos países ricos, que sendo também importantes, não devem ser esquecidos, os de primeira necessidade.
Lembrem-se também destes povos que tanto têm contribuído para o desenvolvimento da região e do país e que lhes seja dada, ao menos, a possibilidade de nos últimos dias da sua vida, viverem com alguma dignidade. Para isso solicita-se que venham visitar esta região, e que passem a pensar que o Vale do Ceira também é Portugal.
Serafim Antunes Neves
in Jornal de Arganil, de 24/07/2007

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