sexta-feira, 25 de julho de 2008

Vale Boa é uma aldeia

Da freguesia e concelho de Góis, com gente muito acolhedora e paciente não é grande no tamanho, mas é grande no historial antigo, onde eu nasci Há setenta anos atrás, me criei e vivi até aos 28 anos, com muita educação e respeito apesar de ser filho do casal mais pobre da aldeia. Era assim que se vivia entre todos os habitantes da aldeia, como se fossem uma família. Ainda hoje é primo Zé, a prima Alice e o primo Fernando que nós nos tratamos e procuramos ajudar uns aos outros sempre que possível.
Agora, porém, tem vindo a acontecer uma maneira diferente de sermos tratados, por uns senhores que não são da nossa aldeia, mas que adquiriram uma grande parte das terras de matas, que eram de alguns habitantes até já falecidos. São um pouco mais novos que nós, mas como ficaram ricos estão diferentes, já não respeitam os mais idosos, nem os hábitos da aldeia. No pensar deles a aldeia é uma coisa a acabar, os habitantes dela são um estrubilho que ali existe.
Para isso também tem influência a desertificação e o abandono em que a aldeia se encontra, não tem sequer caminhos reparados, estes são de terra irregular, cheios de curvas, fetos e silvas, onde nem os novos podem caminhar quanto mais os idosos de bengala na mão para o resto da vida dura do campo.
O estado de abandono em que a aldeia se encontra é de tal forma que a pouca construção que lá se faz até dá para construir um barracão, de forma que se vedou um caminho público e tudo isto foi autorizado, não sei por quem, mas está feito há mais de três anos.
É uma aldeia em que se faz tudo, e que vale tudo, em que não há respeito por nada, nem por ninguém. Valha-nos o S. Martinho que é o santo da nossa aldeia.
F. Alves
in Jornal de Arganil, de 24/07/2008

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