"Dos Objectos Para as Pessoas" - Um Livro da D.ª Lisete Matos
Num gesto de pura gentileza, chegou às nossas mãos um exemplar do livro "Dos Objectos Para as Pessoas" de autoria da Dr.ª Lisete Matos do Açor, recentemente lançado em Góis, cujo tema e formato nos surpreendeu agradavelmente, não apenas pela sua boa qualidade, mas principalmente pela originalidade da concepção e cem páginas de fotografia de objectos que já fazem história.
Para lá da arrumação do texto sobressaem: o belo aspecto gráfico, a cor da fotografia e a harmoniosa ligação entre o homem, o objecto e a paisagem, valorizando a todos os títulos a obra. Tal como diz a autora "o homem produz-se e consome-se naquilo que faz ou não faz".
Como se pode depreender, não se trata dum livro de histórias ficcionadas ou autênticas para mistificar realidades que possam ainda incomodar, mas sim de imagens que falam por si e nos transportam a vivências dum passado ainda recente que andaram de mão em mão, vividas e sentidas de maneira diferenciada, conforme os actores e os palcos, os montes, os rebanhos e os pastores, mas todos experimentando o sabor acidulado duma vida nada fácil. Vida que "dependia da terra pobre e praticamente do que ela dava, dando-lhe as gentes muito trabalho e dedicação".
É "um catálogo etnográfico", como muito bem lhe chama o seu apresentador, ou um "álbum de intercepções e afectos" de quem calcorreou montes e vales em busca dum amanhã que nunca mais chegava e quando chegou, logo emergiram as saudades das cores das flores da Primavera dos cheiros das colheitas do Outono e da autenticidade dum trabalho rude feito sem tecnologia moderna. E um pouco o sabor acre da vida... "duma vida de carência generalizada onde a posse de terra, de muita ou pouca, fazia toda a diferença", conforme palavras sábias da própria Lisete.
A autenticidade da fotografia rejeita todo e qualquer artifício, ou montagem, para se chegar à pura verdade da rudeza dos tempos que hoje, pomposamente, chamar-se-ia genuíno. Todas as lembranças que estão ligadas a estes objectos, conseguem abafar o sofrimento que está ligado à aspereza da serra e trazem, ao de cima, as belas e deliciosas recordações que o tempo não apagou. Um namorico vivido cheio de emoções, uma paixão entrecortada pela guerra e o afago ternurento da extremosa mãe, ficam a bailar na memória. Que bela maneira de se trazer à mesa do presente as emoções do passado!
O próprio regionalismo teve o seu merecido espaço que chamou a atenção da autora, evocando os entusiastas que "mantêm um pé lá, outro cá, consoante os afectos e a fundura das raízes". São ainda eles que dão alguma animação às aldeias e mantém acesa esta chama trémula que às vezes perde o brilho, face a todo o desencanto que por aí grassa.
Diz-nos a sensibilidade que estamos perante uma obra ou que fala pela eloquência da imagem (fotografia) numa completa harmonia entre as coisas e o homem entre os saberes e os sabores, entre os cheiros e os objectos, num mundo feito de ruralidade como é a nossa Beira Serra. Sendo assim, quantos "Sábios" que a saboreiam não se ficam apenas pelos seus limitados conhecimentos das evidências?
Na verdade, para se ir ao fundo da questão, é necessário sujar as mãos na terra e chafurdar na lama do nateiro, como esta obra bem nos demonstra.
Perante este belo trabalho que pode servir de cartão de visita à serra do Açor, esperamos que a autarquia saiba reconhecê-lo como uma valiosa contribuição para a difusão dos encantos do Concelho.
Adriano Pacheco
in O Varzeense, de 15/06/2008
Para lá da arrumação do texto sobressaem: o belo aspecto gráfico, a cor da fotografia e a harmoniosa ligação entre o homem, o objecto e a paisagem, valorizando a todos os títulos a obra. Tal como diz a autora "o homem produz-se e consome-se naquilo que faz ou não faz".
Como se pode depreender, não se trata dum livro de histórias ficcionadas ou autênticas para mistificar realidades que possam ainda incomodar, mas sim de imagens que falam por si e nos transportam a vivências dum passado ainda recente que andaram de mão em mão, vividas e sentidas de maneira diferenciada, conforme os actores e os palcos, os montes, os rebanhos e os pastores, mas todos experimentando o sabor acidulado duma vida nada fácil. Vida que "dependia da terra pobre e praticamente do que ela dava, dando-lhe as gentes muito trabalho e dedicação".
É "um catálogo etnográfico", como muito bem lhe chama o seu apresentador, ou um "álbum de intercepções e afectos" de quem calcorreou montes e vales em busca dum amanhã que nunca mais chegava e quando chegou, logo emergiram as saudades das cores das flores da Primavera dos cheiros das colheitas do Outono e da autenticidade dum trabalho rude feito sem tecnologia moderna. E um pouco o sabor acre da vida... "duma vida de carência generalizada onde a posse de terra, de muita ou pouca, fazia toda a diferença", conforme palavras sábias da própria Lisete.
A autenticidade da fotografia rejeita todo e qualquer artifício, ou montagem, para se chegar à pura verdade da rudeza dos tempos que hoje, pomposamente, chamar-se-ia genuíno. Todas as lembranças que estão ligadas a estes objectos, conseguem abafar o sofrimento que está ligado à aspereza da serra e trazem, ao de cima, as belas e deliciosas recordações que o tempo não apagou. Um namorico vivido cheio de emoções, uma paixão entrecortada pela guerra e o afago ternurento da extremosa mãe, ficam a bailar na memória. Que bela maneira de se trazer à mesa do presente as emoções do passado!
O próprio regionalismo teve o seu merecido espaço que chamou a atenção da autora, evocando os entusiastas que "mantêm um pé lá, outro cá, consoante os afectos e a fundura das raízes". São ainda eles que dão alguma animação às aldeias e mantém acesa esta chama trémula que às vezes perde o brilho, face a todo o desencanto que por aí grassa.
Diz-nos a sensibilidade que estamos perante uma obra ou que fala pela eloquência da imagem (fotografia) numa completa harmonia entre as coisas e o homem entre os saberes e os sabores, entre os cheiros e os objectos, num mundo feito de ruralidade como é a nossa Beira Serra. Sendo assim, quantos "Sábios" que a saboreiam não se ficam apenas pelos seus limitados conhecimentos das evidências?
Na verdade, para se ir ao fundo da questão, é necessário sujar as mãos na terra e chafurdar na lama do nateiro, como esta obra bem nos demonstra.
Perante este belo trabalho que pode servir de cartão de visita à serra do Açor, esperamos que a autarquia saiba reconhecê-lo como uma valiosa contribuição para a difusão dos encantos do Concelho.
Adriano Pacheco
in O Varzeense, de 15/06/2008
Etiquetas: adriano pacheco, livro
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