Faleceu o Conselheiro Dr. Octávio Dias Garcia, de Vila Nova do Ceira
Faleceu o conselheiro Dr. Octávio Dias Garcia, natural da Várzea Pequena, freguesia de Vila Nova do Ceira, do concelho de Góis, onde nasceu em 18 de Março de 1918.
Uma das mais ilustres figuras da Magistratura Portuguesa, o conselheiro Dr. Octávio Dias Garcia, depois da sua licenciatura em Direito, na Universidade de Coimbra, e de ter exercido funções de juiz de Direito em várias comarcas do País, acabou por desempenhar os mais altos cargos, terminando a sua brilhante carreira de magistrado como presidente do Supremo Tribunal de Justiça, cargo para o qual foi reeleito e que deixou em 1988, ao completar 70 anos de idade.
E foi nessa altura que a Magistratura Portuguesa quis homenagear um dos seus mais ilustres servidores, precisamente na comarca da sua naturalidade - a de Arganil - ao ser descerrado um medalhão em bronze, com a sua face, à entrada da sala de audiências do Tribunal e onde está gravado «Dr. Octávio Dias Garcia - a homenagem do povo da comarca de Arganil».
Uma homenagem a que nessa altura se associaram, além do Ministro da Justiça, as mais altas figuras da Magistratura Portuguesa, para reconhecerem no Dr. Octávio Dias Garcia «um homem sábio, justo e afectuoso» que «elevou a Magistratura a um nível que é difícil superar».
E como salientou também na altura o então Ministro da Justiça, Vera Jardim, ao definir o homenageado, era «um homem de grande cordialidade, de grande modéstia, de grande simpatia e de grande sabedoria», qualidades que sou¬be sempre cultivar na sua vida, porque como o Dr. Octávio Garcia tão bem soube definir ao agradecer a homenagem, nunca deixou de se comportar «como um rústico que nunca deixarei de ser e de que tanto me orgulho».
E nesta hora de luto, nada melhor para definir um amigo do que por outro amigo a falar. É José de Matos Cruz, que deixando transparecer para o papel aquilo que lhe dita o coração, escreveu sobre o seu ilustre conterrâneo:
"Morreu o Dr. Octávio ... disse, em voz trémula, a Bertilde, perto do meio-dia, desta quinta-feira.
Soluçando, calou-se e eu não tive palavras para, por momentos, perguntar mais nada.
Abalados pelo choque em que uma prece ao nosso Deus, que era o seu Deus, despertamos a recordar a visita que lhe fizemos, há cerca de um mês, quando fomos a sua casa para combinar sua ida ao magusto de Comissão de Melhoramentos.
Disse-nos que não se sentia com ânimo para ir por não se sentir com força para tal, mostrando pena, pois não ignorávamos a satisfação com que participara nos anos anteriores.
Conversamos longamente e interessou-se pelas coisas da terra, e saber das pessoas, das colectividades, enfim de tudo.
Quando lhe dissemos que admirávamos o sua maneira de tratar com a gente mais humilde da nossa terra, de igual para igual, respondeu-nos que: foi isso que aprendi com meus pais. Mostrei-lhe uma fotografia do primeiro grupo de futebol, da Várzea, em 1936, em que estava e apontou todos, pelo nome, e ainda fez referência sobre a actividades de alguns.
Saímos confiantes que o dr. Octávio estava para durar, dada a lucidez que demonstrou durante a conversa, pois o maior problema eram as pernas que teimavam em não suportar grandes andanças.
O Dr. Octávio era uma referência varzeense. A Várzea era a sua terra. Era ali que se sentia bem. Sempre que lhe so¬brava tempo, era vê-lo, logo de manhã, ir ao café comprar o jornal, saudar os jovens do seu tempo, sentar-se no banco do adro a conversar com eles, ou com qualquer um, sobre os mais diversos assuntos, ouvindo atentamente os seus interlocutores, manifestando a sua sempre sensata opinião.
Apreciava muito a vida rural, pois antes de ir estudar também fez diversas tarefas nos quintais de seu pai, o nosso inesquecível professor João Antão Dias.
Aproveitando o esforço de seus pais foi para Coimbra com vontade férrea de vencer. Foi um estudante brilhante, concluindo o sétimo ano e preparando-se para concorrer a um emprego pois via que o ordenado de um professor primário não lhe permitia continuar a estudar.
Um colega, seu admirador, inscreveu-o na Universidade e mandou-lhe a inscrição, e nisso confessava com gratidão.
Este facto aumentou a sua responsabilidade e se tinha sido bom aluno no liceu melhor foi na Universidade até se formar em Direito.
Nesse dia houve festa na Várzea, e a Filarmónica que estava parada, reagrupou os seus executantes e foram saudar o novo doutor. Mas não parou aqui dr Octávio. Concorreu para a Magistratura e correndo grande parte do País, com estudo, honestidade, aprumo, verticalidade e independência, chegou por mérito próprio a presidente do Supremo Tribunal da Justiça e terceira pessoa na escala da hierarquia nacional. Diversas vezes foi convidado para ser Ministro da Justiça, mas declinou sempre, alegando que não tinha vocação para andar em guerrilhas partidárias, pois estava acostumado a decidir e fazer aplicar a Justiça. Com uma esposa dedicada, companheira inteligente e carinhosa, foram pais de três filhos que são o seu orgulho e se seguem fielmente as virtudes paternas.
Apesar do seu prestígio, o Dr. Octávio, era sempre o mesmo, simples, afável, comunicativo, carinhoso com os mais velhos e com as crianças e com os varzeenses sem distinção.
Aos domingos, no fim de missa, onde sempre participava, activamente, comungando, as pessoas juntavam-se à sua volta a cumprimentá-lo.
Morreu o Dr. Octávio. Fez a última viagem para a terra que tanto amava. Está na sua terra no mesmo cemitério da Mata, onde estão seus pais e irmão e seus companheiros de escola, e companheiros de brincadeiras. Viveu uma vida de sacrifício, pulando pelos estágios pelo seu saber, até ganhar o prestígio que atingiu e agora repousa em paz.
Os varzeense já não voltarão a ver aquele semblante sempre alegre e comunicativo e acolhedor, chamando a todos pelo nome e interessando-se pelo dia a dia dos seus familiares, pois para o dr. Octávio as vitórias de cada varzeense era uma vitória sua.
A D. Maria Luísa, sua extremosa esposa e seus filhos, noras e netos, são quem mais vão sentir a sua falta e vão para eles as sentidas condolências, mas devem sentir-se orgulhosos pelo marido, pai e avô que tiveram.
Eu pessoalmente vou sentir a sua falta pelo apoio que sempre me deu tanto na Comissão de Melhoramentos onde foi presidente da assembleia-geral, durante 37 anos, como nos telefonemas que me fazia quando achava um artigo que lhe agradava. Obrigado Dr. Octávio",
Curvando-nos respeitosamente em sua memória, A Comarca apresenta à família as mais sentidas condolências.
in A Comarca de Arganil, de 11/12/2007
Uma das mais ilustres figuras da Magistratura Portuguesa, o conselheiro Dr. Octávio Dias Garcia, depois da sua licenciatura em Direito, na Universidade de Coimbra, e de ter exercido funções de juiz de Direito em várias comarcas do País, acabou por desempenhar os mais altos cargos, terminando a sua brilhante carreira de magistrado como presidente do Supremo Tribunal de Justiça, cargo para o qual foi reeleito e que deixou em 1988, ao completar 70 anos de idade.
E foi nessa altura que a Magistratura Portuguesa quis homenagear um dos seus mais ilustres servidores, precisamente na comarca da sua naturalidade - a de Arganil - ao ser descerrado um medalhão em bronze, com a sua face, à entrada da sala de audiências do Tribunal e onde está gravado «Dr. Octávio Dias Garcia - a homenagem do povo da comarca de Arganil».
Uma homenagem a que nessa altura se associaram, além do Ministro da Justiça, as mais altas figuras da Magistratura Portuguesa, para reconhecerem no Dr. Octávio Dias Garcia «um homem sábio, justo e afectuoso» que «elevou a Magistratura a um nível que é difícil superar».
E como salientou também na altura o então Ministro da Justiça, Vera Jardim, ao definir o homenageado, era «um homem de grande cordialidade, de grande modéstia, de grande simpatia e de grande sabedoria», qualidades que sou¬be sempre cultivar na sua vida, porque como o Dr. Octávio Garcia tão bem soube definir ao agradecer a homenagem, nunca deixou de se comportar «como um rústico que nunca deixarei de ser e de que tanto me orgulho».
E nesta hora de luto, nada melhor para definir um amigo do que por outro amigo a falar. É José de Matos Cruz, que deixando transparecer para o papel aquilo que lhe dita o coração, escreveu sobre o seu ilustre conterrâneo:
"Morreu o Dr. Octávio ... disse, em voz trémula, a Bertilde, perto do meio-dia, desta quinta-feira.
Soluçando, calou-se e eu não tive palavras para, por momentos, perguntar mais nada.
Abalados pelo choque em que uma prece ao nosso Deus, que era o seu Deus, despertamos a recordar a visita que lhe fizemos, há cerca de um mês, quando fomos a sua casa para combinar sua ida ao magusto de Comissão de Melhoramentos.
Disse-nos que não se sentia com ânimo para ir por não se sentir com força para tal, mostrando pena, pois não ignorávamos a satisfação com que participara nos anos anteriores.
Conversamos longamente e interessou-se pelas coisas da terra, e saber das pessoas, das colectividades, enfim de tudo.
Quando lhe dissemos que admirávamos o sua maneira de tratar com a gente mais humilde da nossa terra, de igual para igual, respondeu-nos que: foi isso que aprendi com meus pais. Mostrei-lhe uma fotografia do primeiro grupo de futebol, da Várzea, em 1936, em que estava e apontou todos, pelo nome, e ainda fez referência sobre a actividades de alguns.
Saímos confiantes que o dr. Octávio estava para durar, dada a lucidez que demonstrou durante a conversa, pois o maior problema eram as pernas que teimavam em não suportar grandes andanças.
O Dr. Octávio era uma referência varzeense. A Várzea era a sua terra. Era ali que se sentia bem. Sempre que lhe so¬brava tempo, era vê-lo, logo de manhã, ir ao café comprar o jornal, saudar os jovens do seu tempo, sentar-se no banco do adro a conversar com eles, ou com qualquer um, sobre os mais diversos assuntos, ouvindo atentamente os seus interlocutores, manifestando a sua sempre sensata opinião.
Apreciava muito a vida rural, pois antes de ir estudar também fez diversas tarefas nos quintais de seu pai, o nosso inesquecível professor João Antão Dias.
Aproveitando o esforço de seus pais foi para Coimbra com vontade férrea de vencer. Foi um estudante brilhante, concluindo o sétimo ano e preparando-se para concorrer a um emprego pois via que o ordenado de um professor primário não lhe permitia continuar a estudar.
Um colega, seu admirador, inscreveu-o na Universidade e mandou-lhe a inscrição, e nisso confessava com gratidão.
Este facto aumentou a sua responsabilidade e se tinha sido bom aluno no liceu melhor foi na Universidade até se formar em Direito.
Nesse dia houve festa na Várzea, e a Filarmónica que estava parada, reagrupou os seus executantes e foram saudar o novo doutor. Mas não parou aqui dr Octávio. Concorreu para a Magistratura e correndo grande parte do País, com estudo, honestidade, aprumo, verticalidade e independência, chegou por mérito próprio a presidente do Supremo Tribunal da Justiça e terceira pessoa na escala da hierarquia nacional. Diversas vezes foi convidado para ser Ministro da Justiça, mas declinou sempre, alegando que não tinha vocação para andar em guerrilhas partidárias, pois estava acostumado a decidir e fazer aplicar a Justiça. Com uma esposa dedicada, companheira inteligente e carinhosa, foram pais de três filhos que são o seu orgulho e se seguem fielmente as virtudes paternas.
Apesar do seu prestígio, o Dr. Octávio, era sempre o mesmo, simples, afável, comunicativo, carinhoso com os mais velhos e com as crianças e com os varzeenses sem distinção.
Aos domingos, no fim de missa, onde sempre participava, activamente, comungando, as pessoas juntavam-se à sua volta a cumprimentá-lo.
Morreu o Dr. Octávio. Fez a última viagem para a terra que tanto amava. Está na sua terra no mesmo cemitério da Mata, onde estão seus pais e irmão e seus companheiros de escola, e companheiros de brincadeiras. Viveu uma vida de sacrifício, pulando pelos estágios pelo seu saber, até ganhar o prestígio que atingiu e agora repousa em paz.
Os varzeense já não voltarão a ver aquele semblante sempre alegre e comunicativo e acolhedor, chamando a todos pelo nome e interessando-se pelo dia a dia dos seus familiares, pois para o dr. Octávio as vitórias de cada varzeense era uma vitória sua.
A D. Maria Luísa, sua extremosa esposa e seus filhos, noras e netos, são quem mais vão sentir a sua falta e vão para eles as sentidas condolências, mas devem sentir-se orgulhosos pelo marido, pai e avô que tiveram.
Eu pessoalmente vou sentir a sua falta pelo apoio que sempre me deu tanto na Comissão de Melhoramentos onde foi presidente da assembleia-geral, durante 37 anos, como nos telefonemas que me fazia quando achava um artigo que lhe agradava. Obrigado Dr. Octávio",
Curvando-nos respeitosamente em sua memória, A Comarca apresenta à família as mais sentidas condolências.
in A Comarca de Arganil, de 11/12/2007
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