terça-feira, 27 de novembro de 2007

O eterno isolamento da região alvarense

A Serra sempre nos marcou o ritmo de vida com os seus rigores, deu-nos também o temperamento e a teimosia com a sua aspereza, obrigou-nos a rasgar horizontes e a despir-nos de nós, activou-nos a perseverança quando nos dificultava a caminhada para alguns objectivos e, por último, deixa-nos a devastação provocada pelas enxurradas que as ribeiras vão debitando nas barragens das bacias hidrográficas do Zêzere e do Tejo que, por sua vez, produzem energia eléctrica para todo o país. É este o seu grande contributo para economia que falta contabilizar e reconhecer.
Mas se a Serra nos dá tudo isto de mão beijada - de bom e de ruim, conforme o ponto de vista - de forma tão abundantemente generosa, por que será que ainda nos castiga com este eterno isolamento? Por que será que a matéria-prima explorada na natureza, raramente, ou tardiamente vai beneficiar os locais da sua proveniência? Por que será?
Em tempos, a Serra tolheu-nos de movimentos certos na direcção do dito progresso, dificultando as vias de comunicação que, mais tarde, nos deixaria nesta exasperante desertificação. Hoje, passado tanto tempo, continua a privar-nos de luz eléctrica com as quebras contínuas de corrente, do sinal da rede de comunicação móvel que não chega às povoações, do acesso imediato aos quatro canais de televisão, etc, etc, etc. Em suma: em pleno século XXI, iluminado pelas modernas e poderosas tecnologias, estamos tão privados dos actuais e sofisticados meios de comunicação como estávamos, no início do século XXI duma estreita e rudimentar estrada. Como é possível?
Perante este estado de coisas, que pode ser confirmado em seu sítio, gostaríamos de saber como é que a Alta Autoridade para a Regulação das Telecomunicações, deste país, encara a indesmentível discriminação duma região provocada pelos operadores oficiais do sector, quando a própria região contribui, de forma abnegada, para a alimentação das fontes de energia hidráulica, eólica e ajuda ao abastecimento de água dos grandes centros? Como pode esta pobre região estar sujeita ao sofrimento das agruras das intempéries anuais, sem que beneficie do bem-estar que ela própria ajuda a gerar?
Esta grande falha dos operadores e das autoridades competentes, já foi objecto de várias reclamações e de chamadas de atenção para a tremenda injustiça que estão a cometer, não é por isso assunto novo, mas, por se tratar duma situação incompreensível, não podemos ficar indiferentes, nem calar a nossa revolta por sermos assim tão mal tratados.
Se há situações gritantes por injustas que são, esta será com certeza, uma delas. É que o todo, sem sempre representa o somatório das partes.
Adriano Pacheco
in Jornal de Arganil, de 22/11/2007

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