sexta-feira, 12 de outubro de 2007

O futuro também passará por Góis


Góis está no coração da Beira Serra. Pela sua localização e pelo lugar que ocupou ao longo dos anos, foi a referência que acompanhou o destino de muitos de nós. Foi sempre Góis sede de concelho concorrida, onde se resolviam muitos dos assuntos das nossas gentes serranas. Linda como poucas terras, com uma história inigualável e um espaço que brota calor humano, viver em Góis era um destino desejado por alguns e o regresso desejado para aqueles que um dia partiram. A alma da Beira Serra mora aqui. O carácter do homem beira serrano está aqui. O futuro constrói-se com alma e com carácter.
A vida é feita de ciclos e atrás de ciclo, ciclo vem. Não pensem porém que Góis adormeceu definitivamente à sombra de si própria. De um dia para o outro, a alma e o carácter das suas gentes recuperarão o tempo perdido por sucessivas gerações, saudosistas em demasia, ciosas de pergaminhos que nem se aperceberam já não existirem. Um dia, de humildade vestida, Góis dará a mão a quem então a bem dirigir e desembainhará a espada do inconformismo.
O mundo está em permanente movimento. Góis também sofreu a erosão dos tempos e não teve nunca uma postura tipo eucalipto, impedindo o crescimento de quem vive nas vizinhanças. Vila Nova de Poiares cresceu e deu um pulo grande em poucos anos. Lousã e Arganil, cultural e politicamente fortes, foram sempre concelhos não acomodados e não esconderam sempre uma postura de ambição pelo crescimento e pela melhoria das condições de vida das suas gentes, algumas das quais vivem nos recônditos mais escondidos de Portugal, compensando a pobreza das gentes com a beleza das paisagens. A vida, a história, é feita de ciclos. E a Beira Serra é hoje uma região mais forte, mais crescida, com mais futuro, melhor presente. Não esgotem as mentes a fazer contas a quem mais cresceu nos últimos 30 anos. O que importa sobretudo é o todo e não as partes que a compõem. E se é certo que Góis (vila) precisa de readquirir um outro dinamismo, de não se acomodar à fatalidade de um futuro incerto, de ser mais ambiciosa, não lhe antecipem o funeral, como o que querem fazer aqueles que se divertem a ver que Serviços podem tirar daqui. Podem levar isto e aquilo. Quem pode manda. Em Portugal quem manda normalmente sabe pouco. Mas nunca levarão a alma de um povo, a sua história, a matriz do carácter do homem beirão. Atrás de ciclo, ciclo vem. E se Góis reconhece a necessidade de acelerar a passada do desenvolvimento, sente-se muito lisonjeada pelo crescimento dos concelhos vizinhos. O crescimento só o é se e quando homogéneo e partilhado. Ninguém é rico no meio de uma multidão de pobres. Aquela outra visão, que assenta em rivalidades artificiais, que se alimenta de bairrismos bacocos, que fomenta a inveja para se pôr em bicos de pés, essa é uma visão passadiça, apenas alimentada por aqueles que querem manter o ar e o tom de uma aristocracia de que se julgam parte integrante.
É neste quadro de relativa preocupação que se vai vivendo o dia a dia, ano após ano. Mas tal preocupação não é um exclusivo nosso.
E uma preocupação do país e sê-lo-ia do próprio mundo se este não tivesse os seus refúgios, mais imorais que os eticamente aceitáveis, donde alimentar os poderosos. Seja traficando crianças, traficando drogas duras, traficando armas, constroem-se riquezas imensas, alimentam-se povos, fazem-se ricos e poderosos, países que não têm outra riqueza que não seja a sua condição de exportadores de crime.
Estamos claramente a caminho do fim de uma civilização. Os valores em que a actual assenta, fortalecidos nos ideais da revolução francesa do século XVIII, são já claramente insuficientes para dar respostas aos problemas actuais. Oxalá que o mundo novo que a próxima civilização trouxer seja mais forte e duradoiro nos princípios e nos valores, menos frágil na vã tentação pelo dinheiro fácil, eticamente mais exigente, menos tolerante perante os violadores dos pilares que suportam necessariamente qualquer civilização.
Estamos certos que mais ano menos ano havemos de encontrar o rumo da tranquilidade e a rota que levará o país a justificar-se enquanto tal. É certo que são cada vez mais os iberistas, aqueles que defendem que a Península seja um só país. Compreendemos tal posição. Mas apenas enquanto manifestação emocional. Tudo aquilo que no mundo se juntou em nome dos interesses foi sol de pouca dura. Cada povo tem a sua alma. A nossa vai a caminhos dos 900 anos. Mantida muitas vezes a sangue vertido no campo de batalha. Desde S. Mamede à participação mais recente das tropas portuguesas em teatro de guerra, o carácter dos portugueses e o sentimento de portugalidade foi sempre o farol que alumiou a nobreza do nosso empenho. Que morramos pobres. É inevitável para a maioria de nós. Mas que connosco não morra Góis. Não nos esqueçamos da "raiva dos de Góis", do carácter de um senhor de Góis que preferiu atirar-se com o cavalo ao rio a fazer a vénia aos Filipes de Espanha. Embora estejamos cheios de Filipes, esperamos que, como o poeta, nunca venhamos a dizer que "fui tão amigo da minha pátria que não me limitei a morrer nela, mas com ela".

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3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Adorei a afirmação "Em Portugal quem manda normalmente sabe pouco."
Mas na minha modesta opinião, Em Góis Manda quem nada, Sabe!
Estamos entregues aos Bichos, e não estou a falar do livro de Miguel Torga.
Góis é hoje uma vergonha, quando olhamos para os nossos vizinhos.
Temos tudo aquilo que eles não tem e o nosso poder local, não aproveita NADA!
Até quando seremos obrigados a levar com este tipo de gente?
Bem Hajam

12 outubro, 2007 16:17  
Anonymous Anónimo said...

Parabéns pelo artigo e parabéns também pelo ano de vida do blog.Continue que está fazendo um bom trabalho em favor de uma terra cujos filhos se acomodaram ao deixa andar.

12 outubro, 2007 19:17  
Anonymous Anónimo said...

Góis tens um filho na sua Patria irmã Brasil que te ama e que um dia irei a visita-la e quem sabe para morar pois sou um Góis e honro o sangue azul dos meus antepassados D. Anião e os descendentes destes.

Meu povo espere mais um pouco que eu não os abandonarei...

Um Jovem Senhor de Góis por herança...

20 fevereiro, 2008 02:42  

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