quarta-feira, 11 de julho de 2007

Alô! Cortes?!

Ninguém me viu. Mas eu estava lá, escondido, por trás da cortina daquela janela larga, que dá para o Largo da Eira, perdão!, para a Praça da Comissão de Melhoramentos.
Do meu camarote, olhos fitos no maravilhoso palco, montado ao ar livre, admirava aquele belo cortejo de miúdos, elas e eles, que, em jeito de marcha cantada, entravam no recinto.
Pararam, como que extasiados, em frente e em redor do madeiro alto e enfeitado, ali erguido. O António Reis foi laborioso.
Era a noite de S. João e o recordar e reatar de uma tradição caída em desuso, agora revivida. À nossa Comissão de Melhoramentos, tal como já sucedera no passado ano, se deve a organização e arquitectura do espectáculo. Não lembrar o João Reis, presidente da direcção, seria imperdoável. Não mencionar os Joões, de Coimbra e da América, dir-se-ia o mesmo.
Ah! Já me ia a esquecer. Abandonei o meu esconderijo e dei comigo no meio de divertida e animada multidão de Marias, Manéis, Mistos, Joões e de muitos outros. Todos voltados para o mastro, à espera que lhe pegassem fogo.
Já aceso, transformou-se em autêntico projector de luz e calor, prendendo a atenção geral dos festeiros. Verdadeira fogueira de alegria e amor. Só visto!
Muita gente ali afluiu. Os olhos bem abertos, a olhar em silêncio lá para cima, à espera que o cântaro partisse, no chão caísse e o gato saltasse. Só que este era de "pelucho". E, ainda bem! Apesar de tudo, as palmas não cessaram, valeu a expectativa.
Seguiram-se rodas vivas de novos e velhos, de todas as idades, à volta do tronco, cada um exibindo os seus cantares.
"Os Joões" estavam lá, de corpo e alma, a marcar presença, ou não fosse a noite de S. João! Com eles, a aldeia toda.
Cantava-se, dançava-se, bailava-se, saltava-se.
Ali mesmo, a jeito e ao dispor, o Grupo Onomástico "Os Joões" de Cortes montou mesa e grelha, onde não faltou sardinha assada, febra, sem esquecer a broa e o néctar da lavra. De música variada e cantares, ao longo da noite, se encheu a Eira inteira. O duo Carlos da Ângela e Belmira, ambos impecáveis - outra coisa não era de esperar - arrastou e encantou, com seus toques e cantares, a assembleia em festa.
As atenções foram, também, para o João Tarão, cantor de berço, merecedor de palmas. Várias cantadeiras e cantadores, dando largas à alegria que lhes ia no rosto, surgiram, de improviso, harmonizando com a música. O Carlos do Ferro, com coreografia de tocador e imitador de primeira, só não rasgou, por um triz, o fole da sua concertina. Houve, até, quem ficasse admirado com o Manel do Táxi, por lhe desconhecer o dom de tanta cantoria.
Muitos outros entoaram e cantarolaram a solo, e bem!, atirando com a letra e música. As castanholas de Marcelo marcaram presença e ouviam-se, no Camelinho, na padaria, para que não se esquecessem da doce encomenda.
Sim senhor! "Os Joões" marcaram presença, comemoraram os trinta e três anos (23 de Junho de 1974) da sua fundação. Sentiram e viveram o calor, a amizade, o espírito de confraternização e o envolvimento de cortenses e amigos.
O bolo de aniversário foi, indistintamente, saboreado por todos.
Uma noite inesquecível, no reino da alegria e boa disposição.
Ao microfone, e já o serão ia alto, os agradecimentos amistosos e sinceros de "Os Joões" fecharam a Festa.
Castro Romeira
in A Comarca de Arganil, de 10/07/2007

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