quarta-feira, 21 de março de 2007

Palavras são gente, de Abílio Bandeira Cardoso

Palavras são gente
Gente que escreves
Gente que leio
Gente que salta do papel
Gente livre
Gente presa em frases
Gente solta em versos
...e poemas
Gente poemas
Umas propositadamente tristes
Outras carregadas de adjectivos
Catapultadoras para realidades ansiadas,
Para amores perpétuos ancorados em paixão
Gente que se contorce de dor
Gente que morre e vive sem pontuação
Gente aspejada em quimeras
Gente que luta
Ri e chora
...e chora
Em virgulas que são lágrimas
Soltas em reticenciados apertos de peito
Não ditos nas palavras que com jeito
Se afagam na voz que não cala,
Mas grita em breve omissão...
E as palavras dançam
Trocam passos entre si
Brincam a frases eternas
Apenas pela vontade de serem escritas
Tantas vezes em fins adiados
A que o poeta não consegue pôr cobro
Porque elas lhe saltam dos dedos
Lhe saltam do pensamento
E lhe conduzem a vontade.
E nesta luta
Entre fim e pensamento
Entre palavra e ponto final
A gente é mero papel
Que alguem escreve..
Que alguem lê...

Abílio Bandeira Cardoso

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