terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Conhecer Góis 5


Uma abordagem do passado 4


Durante a I República, é de assinalar a inauguração, em 1916, do Hospital Comendador Monteiro Bastos, em Vila Nova do Ceira, pondo fim a um jejum de 82 anos, pois desde o encerramento do Hospital de Góis, em 1834, que o concelho não possuía qualquer estabelecimento hospitalar.

Durante a II República, a das ditaduras militar e corporativista, três acontecimentos assumem um significado especial.

A exploração de minério, com relevância económica e social sobretudo nos finais dos anos 30 e princípios de 40.

No concelho, são numerosos os sinais de exploração antiga, quer em galerias, quer em terraços fluviais, mas a sua cronologia é desconhecida. No entanto, por achados arqueológicos na região, supõe-se que os romanos tenham aqui explorado o ouro e o estanho, antes de outros povos o terem feito.

Agora, em meados do século XX, Góis vai novamente passar por um período de grande animação, envolvendo as comunidades locais e centenas de imigrantes, sobretudo dos concelhos vizinhos, atraídos pelas zonas estano - volframítica das freguesias de Cadafaz e de Góis, e aurífera no norte da freguesia de Alvares.

Foram anos de movimento de grandes quantidades de dinheiro, que animaram a economia local, proporcionando enriquecimento em muitos dos seus autóctones, a fixação de forasteiros, originando novas famílias, e o desenvolvimento de algumas estruturas locais. Infelizmente foi tempo efémero. A Grande Guerra, com a desordem e espionagem a que esteve associada, e a conjuntura internacional que se lhe seguiu, não foram favoráveis para a criação de uma indústria mineira consistente, como chegou na época a ser equacionada.

O êxodo rural, contemporâneo de outras zonas do interior do país, começa entre nós a ter um significado maior a partir dos meados dos anos 40, em direcção sobretudo à Grande Lisboa, na procura de melhores condições de vida. É lá que agora vive a maior comunidade goiense, num número que se estima, com as gerações que se seguiram, superior ao triplo da população actual do concelho.

A população, que se tinha mantido na ordem dos 12 500 residentes até ao fim da Grande Guerra, baixaria para 9 700 em 1960 e 6 500 em 1980. No princípio deste século, cifrava-se em 4 800. Este grande decréscimo, sobretudo com a saída do seu sangue mais vivo, vai reflectir-se no envelhecimento da população e na sua letargia.

No entanto, a uma má carta, seguia-se uma boa: o movimento regionalista. Um vínculo forte às origens, um estado de espírito próprio da região, a possibilidade de os migrantes em Lisboa estarem “com um pé cá e um pé lá”, deu origem a um associativismo sui generis. Um trunfo que, infelizmente, ainda não foi usado em toda a sua potencialidade no desenvolvimento do concelho.

Cerca de meia centena de associações, as denominadas Comissões de Melhoramentos, são constituídas pelas várias aldeias do concelho, ao mesmo tempo que, a Casa do Concelho, sediada em Lisboa, é inaugurada em 1954. Seria esta instituição a ter a iniciativa de construir o primeiro estabelecimento de ensino secundário do concelho, inaugurado em 1969.

Tal como o Hospital, a Escola Primária Feminina e a Casa de Caridade, também o Colégio seria totalmente doado por beneméritos da terra, instituições estas que se ficam a dever, respectivamente, ao Comendador Joaquim Marques Monteiro Bastos, Comendador António Torres Dias Galvão, Engenheiro Stanley Mitchell e Comendador Augusto Luís Rodrigues.

A III República, que nos trouxe a democracia, a instalação de um Poder Local forte e a adesão à Comunidade Europeia, veio permitir um desenvolvimento mais harmonioso. O concelho apetrecha-se de estruturas básicas, há uma melhoria significativa de vida da população e uma maior equidade social.

Se o espírito de solidariedade social já fora patente no passado, mais ressalta agora. Perante o envelhecimento cada vez maior da população, consequência da elevada emigração, da mais baixa natalidade e do aumento do tempo de vida, instalam-se vários Lares e Centros de Assistência: o Centro Social de Rocha Barros, inaugurado em 1978, em Góis; o Centro Paroquial de Solidariedade Social da Freguesia de Alvares, em 1981, sediado nas Cortes e com extensão em Alvares, onde recentemente foi aberto o Lar de S. Mateus; o novo Lar de Vila Nova do Ceira, da Santa Casa da Misericórdia, no prosseguimento aliás da sua grande acção benemérita no concelho; a que em se deverá juntar, em breve, o da freguesia de Cadafaz.

A solidariedade social tem sido uma carta activa na vida destas gentes.

Cria-se a ADIBER, uma associação de desenvolvimento local, com campo de acção em alguns concelhos da região mas sediada na vila de Góis, que, sabendo com oportunidade aproveitar as ajudas comunitárias, tem contribuído para o desenvolvimento económico e cultural.

A semelhança de outros concelhos, também no concelho têm-se vindo a acolher imigrantes estrangeiros, sobretudo oriundos da Europa, distribuindo-se pelas aldeias serranas, o que tem contribuído para o início de uma pequena revolução cultural no concelho.

Entretanto, o século XXI parece iniciar-se auspiciosamente.

O Poder Local adquire o grande edifício do antigo Hospital, do século XVI – outrora, uma marca do esplendor do concelho, que levou o nome de Góis pelo país fora – e decide dotá-lo de condições, para ser novamente um foco de desenvolvimento.

Um projecto promissor encontra-se em curso, com o intuito de o transformar num Museu do século XXI, não só espaço de preservação de memória colectiva e guardador de ricas colecções doadas ao concelho, mas também uma instituição viva, pedagógica, com ramificações previstas pelos pequenos museus das nossas aldeias. Uma obra que se espera dignificar toda a região e a ser um ponto fomentador de turismo de qualidade.

Foram já efectuadas escavações, a cargo da Câmara Municipal e supervisionadas pelo IPPAR, trazendo até nós importantes vestígios do passado, seguidas do seu estudo. A comunidade científica olha com expectativa para este projecto de tempos modernos. E o Poder Local, ao afixar um grande cartaz no centro da vila - “Um Compromisso” -, transmite, com coragem e determinação, uma mensagem pública do seu empenho para levar este projecto a bom porto.

Os goienses têm razões para voltarem a sonhar e poderem sentir novamente orgulho na sua terra e, para muitos que tiveram que partir, pensar que valerá a pena um dia regressar.
João Nogueira Ramos
in www.portaldomovimento.com