Conhecer Góis 4
Uma abordagem do passado 3
A partir dos Silveira, os donatários de Góis, mais ligados a outras regiões do reino, parece que se desinteressaram por este senhorio, não perdendo, é claro, os direitos que o estatuto lhes concedia, isto é, arrecadando tributos e prestações aos moradores, aos trabalhadores, aos proprietários e por quem cá passava.
E, face à ausência deles, assiste-se ao emergir de novos senhores locais, oriundos da burguesia rural, ainda que fidalga, filha d’algo, mas não aristocrática. Uma burguesia já não fundada no nascimento, no privilégio ou na honra, como era a dos donatários, mas no trabalho ou no talento. E foram esses então que mais puxaram pelo progresso do concelho.
É o segundo período do senhorio, que decorre até 1832, quando, por decreto de Mousinho da Silveira, se extinguem os senhorios e os pequenos morgadios.
Deste período, indiquemos apenas o primeiro que ficou para a história do concelho: Pedro Rodrigues Barreto. Por duas razões, por estar na toponímia local (Rua Pêro Roiz, depois alterada para Rua da Quinta) e por dar origem a dois importantes morgadios, que marcaram a vida de Góis. Seu filho António Rodrigues Barreto, nascido em 1590 (?) institui o morgado da Capela ou de São José (a que se liga a Quinta da Capela), e o seu neto Alexandre Barreto de Figueiredo Perdigão, nascido em Góis em 1598, institui o morgado da Lavra (a que se liga a Quinta da Lavra, na qual a Casa de Cima terá sido acabada de construir cerca de 1625).
* * *
Entrando agora na época da Monarquia Constitucional, destaquemos dois acontecimentos.
Logo no início, em 1821, a implantação da indústria de papel, que viria a durar mais de um século e meio, e seria, durante muito tempo, a principal indústria da região, a mais empregadora e a de maior valor acrescentado, e que faria de Ponte do Sotam, onde esteve instalada, devido à boa água do rio Sotam, a única terra do concelho com uma sociedade de índole operária.
Também nos alvores do liberalismo, a racionalização da divisão administrativa vai levar à inclusão no concelho de Góis da freguesia de Alvares, que anteriormente fazia parte do desaparecido concelho de Alvares, uma região antiga, com carta de foral passada por D. Dinis, ao mesmo tempo que se reajustam as fronteiras do concelho de Góis com as dos vizinhos.
O ano de 1855 passa a ser data histórica do concelho, não só por serem estabelecidos os seus actuais limites, como também por, desde então, passar de quatro para as actuais cinco freguesias: a da Várzea de Góis (que, a partir de 1927, se denominaria Vila Nova do Ceira, para, com toda a razão, ter nome próprio e afirmar a sua identidade), de tradições muito antigas, com prerrogativas próprias, face à Câmara Municipal de Góis, supondo-se mesmo que tenha sido aqui, na época romana, o principal aglomerado das terras de Góis; as freguesias de Cadafaz e Colmeal, do lado nascente do concelho, terras antigas dos domínios de Góis, mas só elevadas à categoria de freguesia em 1560; e a freguesia de Alvares, a nova companheira, que agora se lhes juntava.
O fontismo, que varre Portugal na segunda metade do século, praticamente não contemplaria o concelho de Góis. O caminho-de-ferro foi promessa chorada e alimentada durante dezenas de anos, mas por aí se ficou. O ramal de Coimbra chegaria a Serpins em 1930, e a sua continuação até Arganil, atravessando Góis, não passaria do traçado no terreno, embora ainda tenham sido feitas expropriações de terrenos. Os goienses passavam a ver passar o comboio só por um canudo.
Entretanto, a importância que o concelho a nível regional ia tomando, na vida comercial e política, encorajava-o a solicitar ao poder central novas divisões, administrativa e judicial, com uma repartição de espaços mais apropriada aos seus interesses e a ser mesmo sede de comarca. Mas aqui também sem êxito.
Nos finais da Monarquia e inícios da I República, destaca-se a figura de Francisco Inácio Dias Nogueira, como político e empresário.
Exerce intensa actividade política na região, militando no Partido Regenerador. Financiador do jornal A Comarca de Arganil, é seu Director nos últimos anos da Monarquia. É o último Presidente da Câmara Municipal antes da revolução republicana.
Funda a Companhia de Papel de Góis, consolidando a indústria de papel, então já existente, e instala a Central Hidro-Eléctrica de Monte Redondo, obra arrojada para a época, que permitiu à vila de Góis ter sido uma das terras pioneiras a ter iluminação eléctrica pública, ainda antes da cidade-mãe Coimbra.
O seu busto, erguido de iniciativa popular e por subscrição pública, aliás o único da vila de Góis, encontra-se no centro do largo que tem o seu nome, o antigo Largo de Pombal.
João Nogueira Ramos
in www.portaldomovimento.com
A partir dos Silveira, os donatários de Góis, mais ligados a outras regiões do reino, parece que se desinteressaram por este senhorio, não perdendo, é claro, os direitos que o estatuto lhes concedia, isto é, arrecadando tributos e prestações aos moradores, aos trabalhadores, aos proprietários e por quem cá passava.
E, face à ausência deles, assiste-se ao emergir de novos senhores locais, oriundos da burguesia rural, ainda que fidalga, filha d’algo, mas não aristocrática. Uma burguesia já não fundada no nascimento, no privilégio ou na honra, como era a dos donatários, mas no trabalho ou no talento. E foram esses então que mais puxaram pelo progresso do concelho.
É o segundo período do senhorio, que decorre até 1832, quando, por decreto de Mousinho da Silveira, se extinguem os senhorios e os pequenos morgadios.
Deste período, indiquemos apenas o primeiro que ficou para a história do concelho: Pedro Rodrigues Barreto. Por duas razões, por estar na toponímia local (Rua Pêro Roiz, depois alterada para Rua da Quinta) e por dar origem a dois importantes morgadios, que marcaram a vida de Góis. Seu filho António Rodrigues Barreto, nascido em 1590 (?) institui o morgado da Capela ou de São José (a que se liga a Quinta da Capela), e o seu neto Alexandre Barreto de Figueiredo Perdigão, nascido em Góis em 1598, institui o morgado da Lavra (a que se liga a Quinta da Lavra, na qual a Casa de Cima terá sido acabada de construir cerca de 1625).
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Entrando agora na época da Monarquia Constitucional, destaquemos dois acontecimentos.
Logo no início, em 1821, a implantação da indústria de papel, que viria a durar mais de um século e meio, e seria, durante muito tempo, a principal indústria da região, a mais empregadora e a de maior valor acrescentado, e que faria de Ponte do Sotam, onde esteve instalada, devido à boa água do rio Sotam, a única terra do concelho com uma sociedade de índole operária.
Também nos alvores do liberalismo, a racionalização da divisão administrativa vai levar à inclusão no concelho de Góis da freguesia de Alvares, que anteriormente fazia parte do desaparecido concelho de Alvares, uma região antiga, com carta de foral passada por D. Dinis, ao mesmo tempo que se reajustam as fronteiras do concelho de Góis com as dos vizinhos.
O ano de 1855 passa a ser data histórica do concelho, não só por serem estabelecidos os seus actuais limites, como também por, desde então, passar de quatro para as actuais cinco freguesias: a da Várzea de Góis (que, a partir de 1927, se denominaria Vila Nova do Ceira, para, com toda a razão, ter nome próprio e afirmar a sua identidade), de tradições muito antigas, com prerrogativas próprias, face à Câmara Municipal de Góis, supondo-se mesmo que tenha sido aqui, na época romana, o principal aglomerado das terras de Góis; as freguesias de Cadafaz e Colmeal, do lado nascente do concelho, terras antigas dos domínios de Góis, mas só elevadas à categoria de freguesia em 1560; e a freguesia de Alvares, a nova companheira, que agora se lhes juntava.
O fontismo, que varre Portugal na segunda metade do século, praticamente não contemplaria o concelho de Góis. O caminho-de-ferro foi promessa chorada e alimentada durante dezenas de anos, mas por aí se ficou. O ramal de Coimbra chegaria a Serpins em 1930, e a sua continuação até Arganil, atravessando Góis, não passaria do traçado no terreno, embora ainda tenham sido feitas expropriações de terrenos. Os goienses passavam a ver passar o comboio só por um canudo.
Entretanto, a importância que o concelho a nível regional ia tomando, na vida comercial e política, encorajava-o a solicitar ao poder central novas divisões, administrativa e judicial, com uma repartição de espaços mais apropriada aos seus interesses e a ser mesmo sede de comarca. Mas aqui também sem êxito.
Nos finais da Monarquia e inícios da I República, destaca-se a figura de Francisco Inácio Dias Nogueira, como político e empresário.
Exerce intensa actividade política na região, militando no Partido Regenerador. Financiador do jornal A Comarca de Arganil, é seu Director nos últimos anos da Monarquia. É o último Presidente da Câmara Municipal antes da revolução republicana.
Funda a Companhia de Papel de Góis, consolidando a indústria de papel, então já existente, e instala a Central Hidro-Eléctrica de Monte Redondo, obra arrojada para a época, que permitiu à vila de Góis ter sido uma das terras pioneiras a ter iluminação eléctrica pública, ainda antes da cidade-mãe Coimbra.
O seu busto, erguido de iniciativa popular e por subscrição pública, aliás o único da vila de Góis, encontra-se no centro do largo que tem o seu nome, o antigo Largo de Pombal.
João Nogueira Ramos
in www.portaldomovimento.com
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