domingo, 21 de janeiro de 2007

Tectos

A sumptuosidade das salas palacianas obrigava a condizente acabamento dos seus tectos e não são raros os que, por seu valor artístico, se tornaram peças principais no conjunto onde se integram.
Pelas próprias dimensões ou por motivos de ordem estética ou técnica, optou-se pelas abóbadas como remate superior das salas, variando os tipos empregados segundo os vãos e os estilos arquitectónicos. Abóbadas de berço, de aresta, de barrete de clérigo, de cruzaria de ogivas, são das que mais encontramos, em grande parte discretamente ou mesmo nada ornamentadas, pois a própria beleza das suas linhas e superfícies dispensam adornos.
Em contrapartida, o preciosismo decorativo leva a dar-se o nome de tectos ricos a alguns outros como os de alfarge, complexo entrelaçado geométrico de molduras em arabescos, típico da marcenaria mulçumana, que se manteve durante o largo tempo do mudejarismo - arte árabe em teritório cristão. Também tectos ricos são os artesoados, isto é, ornados com artesãos, molduras lavradas e em muitos casos pintadas ou em talhas com douramentos, especialmente os de caixotões, vigamentos à vista e com serrafos perpendiculares, formando painéis quadrangulares ou poligonais. Existem numerosos tectos de caixotões talhados em pedra.
Muitos outros tipos de tectos valorizam os nossos palácios - por exemplo, os de vigas à vista e os sanqueados que se ligam às paredes por sancas, normalmente usadas como cavada moldura que guarnece a superfície central pintada ou estucada. Austero e belo o tecto masseira, tão do gosto portugês, a partir do século XVII, é aconchado, como um tabuleiro de amassar pão, ou uma gamela de boca para baixo.
in Os Mais Belos Palácios de Portugal, Verbo


O edifício da Câmara Municipal de Góis tem o seu interesse principal nos tectos de algumas salas, construídos em castanho e ornamentados com pinturas. O da sala nobre é apainelado, com molduras sobrecarregadas, enquadrando as decorações. Num quarto ao lado, o tecto com molduras mais sóbrias e os painéis (século XVII), em que estão representadas cenas do Velho Testamento, conservam um colorido tão fino que consegue fazer esquecer o amaneirado das figuras e da paisagem.
in Guia de Portugal