sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

Igreja de Santa Maria Maior da Vila de Góis

A igreja de Santa Maria Maior, matriz da vila de Góis e Monumento Nacional desde 1910, foi instituída a 10 de Abril de 1415, como sede de colegiada, depois de firmado compromisso entre o prior, Fernão Gil, e o então senhor da vila, Estevão Vasques de Pedra Alçada. O templo viria a ser bastante modoficado por várias campanhas de obras executadas nas centúrias seguintes, que lhe deram as actuais feições. Uma das mais significativas, foi executada nos primeiros anos da década de 30 do século XVI, depois de D. Luís da Silveira, conde de Sortelha e morgado de Góis, Esporão e Graciosa, ter fixado residência na vila. Em Abril de 1529, o conde firmaria contrato com Diogo de Castilho para que o arquitecto executasse a obra de uma nova capela-mor na matriz, onde pretendia fazer o panteão dos Silveira. Para além das obras no templo, Diogo de Castilho obrigava-se a executar a edificação de um novo paço para os senhores de Góis, "com beirado sobre o rio", de gosto ao romano, atestando a cultura humanística do encomendante.
O templo possui planta simples, de uma nave, com duas capelas laterais, tendo sido a do lado do Evangelho instituída no século XVII pela família Barreto. A actual fachada e a torre sineira, que se encontra separada do corpo da igreja, foram executadas na segunda metade do século XIX, devido ao estado de ruína em que se encontrava o templo depois do terramoto de 1755.
A capela-mor foi executada pela oficina de Diogo de Castilho, sendo a primeira obra documentada onde laborou Diogo de Torralva. É um espaço amplo, repleto de referências ao mecenas da obra, uma vez que tanto no túmulo do senhor de Góis como na abóbada e na pia baptismal, foram esculpidos os escudos de família de D. Luís da Silveira: o dos Góis, o dos Lemos e o dos Silveiras. A capela é coberta por abóbada de nervuras, que possui um curioso programa decorativo nas suas chaves; aqui foram esculpidas diversas figuras, uma figura masculina identificada como Holofernes, ladeada por um busto de criança, um rosto com toucado oriental ao lado de um busto feminino, junto da zona do altar, dois homens, um velho e um jovem. Neste espaço foi também colocada a pia baptismal, executada na época de edificação da capela-mor, que possui o brasão de armas do Conde da Sortelha, gravado do avesso, o que se deve ao facto de o brasão ter sido retirado directamente do anel-sinete do senhor de Góis. Do lado da Epístola foram abertos dois arcosólios que albergam arcas tumulares, e no espaço da capela, em campa rasa, está sepultado D. Nuno Martins da Silveira, pai do instituidor.
Do lado do Evangelho foi edificado o túmulo de D. Luís da Silveira, havendo no entanto alguma controvérsia em relação à sua autoria; se alguns autores atribuem o conjunto tumular a João de Ruão, outros afirmam que a estátua orante do conde terá sido executada por Filipe Odarte. Com arca tumular inserida num arco ladeado por pilastras e rematado por fresta, possui no centro da composição a estátua orante de D. Luís da Silveira. O conjunto tumular tem um programa decorativo repleto de motivos grotescos de raiz romana, medalhões com bustos e figuras de anjos. A escultura funerária mostra-nos D. Luís da Silveira ajoelhado em oração, envergando a sua armadura de cavaleiro, com o elmo aos pés, e um livro aberto sobre uma banqueta, com uma inscrição retirada do Livro dos Salmos. Por trás da estátua foi esculpida em relevo a imagem de Nossa Senhora da Assunção. Apresentando evidentes semelhanças com o túmulo de D. Duarte de Lemos, da Trofa do Vouga, o monumento funerário do conde de Sortelha apresenta-se como uma obra de linguagem bastante erudita, demonstrando "um sentido de purismo clássico".
O retábulo da capela-mor possui tábuas do século XVI, com figurações de S. Pedro, S. Paulo, Nossa Senhora da Assunção, e uma Adoração dos Magos, havendo autores que afirmam existir nesta última composição um retrato de D. Luís da Silveira.
Fonte: IPPAR

Etiquetas: ,