As Pedras Também Falam, de Abílio Bandeira Cardoso
Perdido na nocturna escuridão
Entre vozes que não conhecia,
Vozes àsperas subidas do chão
No rude timbre da pedra fria
As vozes cercam-me de dor
Passados qu'eu não quero escutar
Fujo veloz desse gélido rumor
Perco-me antes de me encontrar
Falam de dores suas que são minhas
Gritam o que eu me escuso a sentir
- Lápide do desassossego que caminhas
Cala-te que não mais te quero ouvir!
Pedras frias só falam de coisas mortas
Pedras soltas onde tropeço ou escorrego
Vocábulos negros abertos nas alvas portas
Marmóreas, sepulcro em que me fecho e nego
As pedras também falam. Não sabias?
Falam de nós próprios, ecos d'alma
Por isso elas são tão duras e frias
E quando nos acolhem jazem calma.
Fingimos não ouvi-las, sentados apenas,
N'aspereza do banco que também é voz
Mas elas falam, são rumores de penas,
Rosários da consciência escondida de nós
Um dia vou deixá-las falar até ao fim
Talvez me encontre onde me perdi !
Talvez alguma delas saiba de mim
E no mármore, a negro, diga que vivi...
Abílio Bandeira Cardoso
Entre vozes que não conhecia,
Vozes àsperas subidas do chão
No rude timbre da pedra fria
As vozes cercam-me de dor
Passados qu'eu não quero escutar
Fujo veloz desse gélido rumor
Perco-me antes de me encontrar
Falam de dores suas que são minhas
Gritam o que eu me escuso a sentir
- Lápide do desassossego que caminhas
Cala-te que não mais te quero ouvir!
Pedras frias só falam de coisas mortas
Pedras soltas onde tropeço ou escorrego
Vocábulos negros abertos nas alvas portas
Marmóreas, sepulcro em que me fecho e nego
As pedras também falam. Não sabias?
Falam de nós próprios, ecos d'alma
Por isso elas são tão duras e frias
E quando nos acolhem jazem calma.
Fingimos não ouvi-las, sentados apenas,
N'aspereza do banco que também é voz
Mas elas falam, são rumores de penas,
Rosários da consciência escondida de nós
Um dia vou deixá-las falar até ao fim
Talvez me encontre onde me perdi !
Talvez alguma delas saiba de mim
E no mármore, a negro, diga que vivi...
Abílio Bandeira Cardoso
Etiquetas: abílio cardoso, poema
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home