Milreu reclama a sua Escola
Num programa lúdico e pedagógico, um puto de dez anos atirou para a órbita dos feixes electrónicos uma reflexão bem adulta: "diz-se que o saber não ocupa lugar; mas ocupa - o da ignorância".
Não sou doutor, não sou engenheiro, não sou arquitecto. Como habilitações só tenho a minha pessoa, a minha experiência de vida e a 4.ª classe. Também nunca aprendi nada "on-line", como agora está na usança. Sendo menos inteligente que um saco de papel, a sobriedade da minha instrução não me permite emitir opinião sobre coisa alguma, por isso ninguém perde tempo comigo. Nesta geração de ciência pouco vasta, egoísta e folgazona, limito-me a pensar, na esteira de Victor Hugo para quem pensar também é alimento. Alguém até disse que a arte de escrever é a arte de pensar e de sentir. Procuro ter cautela de nada rejeitar à primeira volta a fim de evitar cair numa situação de auto-sabedoria e, sobretudo, porque não acredito mais na minha razão do que na dos outros.
Minhoto pela origem, alfacinha pela profissão, há anos que amizades antigas me levam a Milreu, aldeiazinha situada a meia encosta ao sul da Serra da Lousã, com traços de ruralidade perdida, instalada na Freguesia de Alvares, concelho de Góis. Estaria pois infielmente desatento se não me apercebesse dos genuínos anseios da sua população.
Uma filha da terra, Maria Bertina Pires, à qual é de boa justiça reconhecer um espírito que dá relâmpagos de dinamismo, foi ao caminho em que todas as atenções se dirigiam para uma tarefa primordial como o ponteiro da bússola: descobrir a forma solidária dos conterrâneos viverem também segundo os cânones da civilização moderna. Como pulo inicial, promover a reactivação da "União Progressiva de Milreu e Povoações Limítrofes" (UPMPL), já com normas estatutárias desde 1957, assumindo ela mesma a presidência do colectivo. A seguir, duas primeiras investidas: aquisição do edifício da antiga escola e a construção duma travessia rodoviária sobre a ribeira de Mega.
A recuperação da escola foi "pensada" com o objectivo único: reabilitá-la para metas de índole exclusivamente social, tais como, entre outras, sede da UPMPL, espaço de convívio, actividades culturais e recreativas, etc. iniciando o processo de transferência do imóvel. A marcha parou logo na linha de partida com desculpa numa interpretação estéril e meramente filológica de dois conceitos. A Câmara propõe "cedência", a UPMPL quer "doação". Ora o que resgata do Código Civil português é que ambas têm como características comum da posse de um bem próprio. A doação por seu lado, nas quatro modalidades - pura, condicional, onerosa e remunetória - é irrevogável uma vez consumada, excepto em casos declarados na lei. É ainda importante pôr à consideração que as atribuições da Câmara relativamente ao prédio são tão-só de gestão administrativa.
No impasse, é obrigação do sr. Presidente da Câmara Municipal de Góis dissipar o nevoeiro que se adensou nas Famílias de Milreu. A escola é da terra, por isso a querem defender. Só elas podem acautelar o interesse do património ou fomentar o seu incremento e conservação. De outro modo, o futuro da estrutura é irremediavelmente óbvio: o silêncio, o abandono, a ruína, de que ninguém vai ser com certeza responsabilizado. E devia.
A construção da ponte rodoviária vale uma referência particular. Existe um compromisso de parceria entre o município de Góis, do lado de cá, e o município de Pedrogão Grande, do lado de lá. Projecto elaborado, falado em Assembleia Municipal, ratificado em acta e aceite, julga-se, pelas partes. Entretanto, o tempo anda mas a obra não surge. Pelo meio, a UPMPL vai enchendo caixotes de papelada na tentativa inglória de estimular outros organismos do Estado ao financiamento, no modo possível, da empresa. Perto do fim na história, chega a justificação trivial: a Câmara não tem dinheiro! Eternamente a estafada muleta de arrimo quando a vontade é manifestamente pouca ou, por vezes, nenhuma.
Um estudo recente da "Reader's Digest" revela que apenas 1% dos portugueses dizem confiar nos políticos. Estes com efeito demoram a perceber que o Zé do Bordalo não se deixa enrolar com os produtos de alquimia que lhe tentam vender embrulhados na linguagem da fantasia. A reputação de um homem e a sua popularidade não dependem só dessa coisa sem substâncias a que chamamos dignidade ou posição. A fidelidade ao prometido é uma divida que se tem de saldar sempre. Fazer-se estimar é dever essencial de qualquer pessoa honrada.
Sr. Presidente da Câmara Municipal de Góis, os vassalos de Milreu apresentam-lhe respeitosos cumprimentos e aguardam a resposta empenhada de V. Ex.ª pois só está em falta. O abraço entre Milreu e Conhal não pode continuar a ser dado através do velho passadiço, com acessos impraticáveis para idades avançadas.
M. M. S.
in Jornal de Arganil, de 7/05/2009
Não sou doutor, não sou engenheiro, não sou arquitecto. Como habilitações só tenho a minha pessoa, a minha experiência de vida e a 4.ª classe. Também nunca aprendi nada "on-line", como agora está na usança. Sendo menos inteligente que um saco de papel, a sobriedade da minha instrução não me permite emitir opinião sobre coisa alguma, por isso ninguém perde tempo comigo. Nesta geração de ciência pouco vasta, egoísta e folgazona, limito-me a pensar, na esteira de Victor Hugo para quem pensar também é alimento. Alguém até disse que a arte de escrever é a arte de pensar e de sentir. Procuro ter cautela de nada rejeitar à primeira volta a fim de evitar cair numa situação de auto-sabedoria e, sobretudo, porque não acredito mais na minha razão do que na dos outros.
Minhoto pela origem, alfacinha pela profissão, há anos que amizades antigas me levam a Milreu, aldeiazinha situada a meia encosta ao sul da Serra da Lousã, com traços de ruralidade perdida, instalada na Freguesia de Alvares, concelho de Góis. Estaria pois infielmente desatento se não me apercebesse dos genuínos anseios da sua população.
Uma filha da terra, Maria Bertina Pires, à qual é de boa justiça reconhecer um espírito que dá relâmpagos de dinamismo, foi ao caminho em que todas as atenções se dirigiam para uma tarefa primordial como o ponteiro da bússola: descobrir a forma solidária dos conterrâneos viverem também segundo os cânones da civilização moderna. Como pulo inicial, promover a reactivação da "União Progressiva de Milreu e Povoações Limítrofes" (UPMPL), já com normas estatutárias desde 1957, assumindo ela mesma a presidência do colectivo. A seguir, duas primeiras investidas: aquisição do edifício da antiga escola e a construção duma travessia rodoviária sobre a ribeira de Mega.
A recuperação da escola foi "pensada" com o objectivo único: reabilitá-la para metas de índole exclusivamente social, tais como, entre outras, sede da UPMPL, espaço de convívio, actividades culturais e recreativas, etc. iniciando o processo de transferência do imóvel. A marcha parou logo na linha de partida com desculpa numa interpretação estéril e meramente filológica de dois conceitos. A Câmara propõe "cedência", a UPMPL quer "doação". Ora o que resgata do Código Civil português é que ambas têm como características comum da posse de um bem próprio. A doação por seu lado, nas quatro modalidades - pura, condicional, onerosa e remunetória - é irrevogável uma vez consumada, excepto em casos declarados na lei. É ainda importante pôr à consideração que as atribuições da Câmara relativamente ao prédio são tão-só de gestão administrativa.
No impasse, é obrigação do sr. Presidente da Câmara Municipal de Góis dissipar o nevoeiro que se adensou nas Famílias de Milreu. A escola é da terra, por isso a querem defender. Só elas podem acautelar o interesse do património ou fomentar o seu incremento e conservação. De outro modo, o futuro da estrutura é irremediavelmente óbvio: o silêncio, o abandono, a ruína, de que ninguém vai ser com certeza responsabilizado. E devia.
A construção da ponte rodoviária vale uma referência particular. Existe um compromisso de parceria entre o município de Góis, do lado de cá, e o município de Pedrogão Grande, do lado de lá. Projecto elaborado, falado em Assembleia Municipal, ratificado em acta e aceite, julga-se, pelas partes. Entretanto, o tempo anda mas a obra não surge. Pelo meio, a UPMPL vai enchendo caixotes de papelada na tentativa inglória de estimular outros organismos do Estado ao financiamento, no modo possível, da empresa. Perto do fim na história, chega a justificação trivial: a Câmara não tem dinheiro! Eternamente a estafada muleta de arrimo quando a vontade é manifestamente pouca ou, por vezes, nenhuma.
Um estudo recente da "Reader's Digest" revela que apenas 1% dos portugueses dizem confiar nos políticos. Estes com efeito demoram a perceber que o Zé do Bordalo não se deixa enrolar com os produtos de alquimia que lhe tentam vender embrulhados na linguagem da fantasia. A reputação de um homem e a sua popularidade não dependem só dessa coisa sem substâncias a que chamamos dignidade ou posição. A fidelidade ao prometido é uma divida que se tem de saldar sempre. Fazer-se estimar é dever essencial de qualquer pessoa honrada.
Sr. Presidente da Câmara Municipal de Góis, os vassalos de Milreu apresentam-lhe respeitosos cumprimentos e aguardam a resposta empenhada de V. Ex.ª pois só está em falta. O abraço entre Milreu e Conhal não pode continuar a ser dado através do velho passadiço, com acessos impraticáveis para idades avançadas.
M. M. S.
in Jornal de Arganil, de 7/05/2009
Etiquetas: milreu
16 Comments:
Força Bertina vai em frente, aproveita está na hora das eleições,não os deixes adormecer.
Não foi esta a Escola remodelada em 1980, de forma a poder receber o professor (a), com a execução no r/c de obras referentes a uma casa de banho, uma cozinha e uma sala/quarto?.
Então? já lá vão 29 anos!...
Queremos a escola renovada a ponte nova e pessoal de Gois, uma praia fluvial por favor.
Parabéns a M.M.S. pelo texto bem elaborado.
Em 2009 ainda uma Comissão de Melhoramentos tem que fazer como se fazia há setenta/oitenta anos atrás?!...
A Câmara não tem dinheiro para uma ponte que faz falta mas tem para outras coisas que não são prioritárias.
É a tristeza das tristezas!!!
JÁ CHEGA!!!
Eu diria...tanta aparência de sabedoria e tanta ignorância...
Porquê? " olha eu ignorante "
Não não, ignorante sou EU. Esse título ganhei-o e ainda sou o campeão... Para mim, ganhar é ganhar, nem que o prémio seja um balde...
O sr. do balde não sei quem é, mas deve ser boa pessoa se é do Milreu ou Conhal e anda a lutar por uma causa justa acho que deve continuar,porque também gostava de ver a escolinha onde o meu pai andou a ter alguma utilidade, e também ter uma ponte para quando vou às minhas propriedades não ter que ir dar volta a Mega Cimeira ou à Venda da Gaita.
Então vai passear, até nem é longe!
Não sei é se as propriedades valem o preço da ponte, mas enfim...
Ou tem lá couves plantadas para a ceia e tem que lá ir todos os dias?
És tu quem vai pagar a ponte? Porquê tanta revolta? E as propriedades valem o que valem e não tenho lá horta nenhuma por agora, mas posso vir a ter também tenho terras de cultivo.
Também tenho casa, como vês o patrimònio è grande.
Ah pois é. Dz-me o que tens e aonde! Mas se és rico não precisas das nossas migalhas: faz tu a ponte...
Porquê eu a fazer? não é uma obrigação das câmaras fazerem esse tipo de trabalhos? Ou é só para compadres.Rico ou não, não tens nada a ver com isso.
ordinarios
Para o "rico": A obrigação da Câmara é fazer o melhor pelo concelho, atendendo às situação mais prementes e necessitadas. Ora, dificilmente satisfazer os apetites do "menino rico" será trabalhar em prole do concelho ou da freguesia de Alvares. É que você é um egoista de m...., porque não vem aqui reclamar a melhoria das condições de vida da aldeia do Milreu, vem reclamar um caminho mais rápido para as suas propriedades! O resto não lhe interessa minimanente. Convinha que os seus vizinhos, que o devem conhecer bem, lhe dessem o tratamento merecido. O que já devem ter feito, pois doutra forma não vinha para aqui cagar baboseiras. Olhe já agora, como o limite do concelho é a meio da ribeira, e para quem está tão interessado, porque não vai pedir a obra à Câmara de Pedrógão...
Ao ler todos estes comentários, fico bastante triste pois mais uma vez se provou que cada um olha para o seu umbigo.
Por razões de passeio ou não , mas claro que sem sombra de duvidas é um bem necessário para as povoações, mas seja qual for a razão devíamos todos mas todos em UNIÃO tentar que a obra se concretizasse, mas é melhor insultarem -se uns aos outros pois pode ser que assim consigam alguma coisa.
É triste mas mesmo muito triste, este tipo de comentários, mas enfim.
Ao menos posso dizer que sempre estive ligada a uma das familias que contribuiu para algumas melhorias da terra, nesse tempo (dos meus avós e pais) havia UNIÃO E RESPEITO entre todos e conseguiram muita obra que está à vista de todos é um facto.
Pena que não seja assim hoje.
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