domingo, 15 de março de 2009

"Espólio Arqueológico da Lomba do Canho" - Repondo a Verdade

Face ao relato vindo a lume, sem indicação de autor, no "Jornal de Arganil" de 12 do corrente mês de Março (última edição), cabe-me dizer muito sucintamente o seguinte:

1º - Por ignorância ou por má-fé, se por outra razão não for, o título começa por estar crassamente errado, pois não se trata do "Espólio Arqueológico da Lomba do Canho", mas sim de todo o extenso território beirão em que, durante cerca de meio século, desenvolvi a minha actividade científica no domínio da investigação arqueológica, desde Poiares à zona raiana, só ou em colaboração com alguns dos meus discípulos, hoje distintíssimos colegas nas lides académicas.

2º - É rotundamente falso eu ter "devolvido" ao "Museu Municipal", "após insistentes diligências", que não foram do meu conhecimento, o espólio arqueológico que legitimamente estava em meu poder, pois o certo é que, pelas razões de ordem afectiva, referidas em carta registada e endereçada à Câmara Municipal (que nunca teve a hombridade de me acusar a sua recepção), eu tomei a decisão de confiar a sua guarda à Drª Regina Anacleto, para cuja residência em Arganil o transportei, com a recomendação expressa de, logo que houvesse condições, proceder à reinstalação do Museu Regional na sede do concelho, como sempre houvera sido o meu propósito, longe estando de pensar que ela, sem meu conhecimento nem acordo, o entregaria, por sua livre e exclusiva iniciativa, ao executivo camarário, quando nem de longe nem de perto havia um mínimo de condições para efectuar a sua musealização em termos de segurança e dignidade, o que pressupõe da sua parte um manifesto abuso de confiança, que eu não lhe merecia.

3º - É igualmente falso que esse espólio tenha ido directamente para um cofre do Banco Millenium "sem que as caixas tivessem sido abertas", pois a verdade é que, conforme constatei na vistoria que efectuei na companhia das minhas filhas e do vereador António Cardoso, tudo havia sido vasculhado à exaustão, havendo inclusivamente dentro das "caixas" documentos escritos em letra para mim absolutamente desconhecida, além de que faltava a parte mais valiosa da colecção, bem como uma pequena mala de couro. cuja existência sistematicamente se negava, como se não passasse de fantasia minha.

4º - Esta mala, para a qual previamente se haviam transferido "selectivamente" os materiais mais valiosos do espólio, veio depois a encontrar-se em circunstâncias nunca devidamente esclarecidas, pois os depoimentos prestados pelos arguidos, na instrução do processo da queixa-crime por mim apresentada no Tribunal Judicial de Arganil e que oportunamente serão dados à estampa, primam pela sua falta de coerência, ou seja, são contraditórios, dando cada um sua versão, incluindo a do vereador António Cardoso que se afasta daquilo que, na presença das minhas filhas, me transmitiu nas instalações dos Paços do Concelho, dúvidas não restando de que, se não fosse o meu recurso ao poder judicial, essa mala e seu valiosíssimo recheio tarde ou nunca apareceriam, passando para mim as culpas da sua apropriação… sabe-se lá por quem e com que deliberada e criminosa intenção!

5º - Contrariamente ao que se faz constar no relato, o inventário geral do acervo por mim confiado à Câmara Municipal de Arganil não foi caricatamente "descoberto" nas instalações do suposto ou inexistente Museu Municipal, mas subtraído por arrombamento, por iniciativa do vereador Mário Vale (que por sinal e por consabidas razões me deve o máximo respeito), de um armário de ferro que se encontrava nas instalações da Casa da Cultura, levando sumiço, o que não deixa de constituir um acto altamente reprovável e penalmente sujeito a procedimento criminal, pois só a mim competia agir em conformidade.

6º - Na perícia efectuada, em más condições e com assistência indesejável, por dois arqueólogos nomeados, com a minha prévia concordância, pelo Instituto Nacional de Arqueologia, constatou-se a falta ou desaparecimento de numerosas peças, tanto do núcleo entregue pela Drª Regina Anacleto ao executivo camarário como do acervo depositado nas instalações da Casa da Cultura em lamentável promiscuidade com alfaias de outra espécie, peças essas cuja lista, entretanto remetida ao Ministério Público, será oportunamente divulgada para os competentes fins policiais.

7º - Por nem sequer fazer sentido, carece liminarmente de verdade que o espólio por mim confiado à Drª Regina Anacleto não fosse acompanhado, para sua "elucidação" pessoal, pela correspondente documentação escrita (inventário, relatórios, correspondência, etc.), não me estranhando que, conforme ocorreu com a rocambolesca saga da mala, venha um dia a encontrar-se, "coberta de poeira", em qualquer cafundó residencial ou camarário.

8º - Quanto às alegadas "ofensas" … estamos conversados.

Perante o exposto e pese ao arquivamento do processo por parte do Ministério Público, que reconheceu a veracidade dos factos, mas subjectivamente não admitiu a sua "dolosidade", só me resta concluir que não dou por encerrada esta matéria, pois me assistem outros meios de fazer valer os meus direitos e razões.

Coimbra, 12 de Março de 2009.
João de Castro Nunes
in www.portaldomovimento.com

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1 Comments:

Blogger João Alves das Neves said...

Gostaria de indicar o blog do professor João Alves das Neves sobre a autora Regina Anacleto e sua obra voltada a Região da Beira Serra. www.joaoalvesdasneves.blogspot.com/2009/09/beira-seera-homenagem-escritora-regina.html.

Atenciosamente,
Fabiola

17 setembro, 2009 17:44  

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