sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Ultramar

Fotografia de JrC

Da autoria da arquitecta Elisabete Afonso, foi inaugurado em 13 de Agosto de 2005, na rotunda da Avenida Eng.º Augusto Nogueira Pereira. Simbolizando um barco, principal meio de transporte dos militares para os ex-Ultramar nos anos 60, presta homenagem aos Combatentes do Ultramar, em especial aos 16 do concelho que tombaram.
Listagem dos mortos naturais do concelho de Góis
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Publica-se, mais a baixo, o relato de Arménio Silva, ex-combatente no Ultramar e natural do concelho de Góis.


Preâmbulo

O Arménio Silva poderá ser o ex-1º Cabo NM14791873 da 3ª Companhia, mas não é o ex-amigo. Os amigos nunca são “ex” e como tal nunca será tarde para expor publicamente as suas razões contra os políticos deste país que decidem muitas vezes a vida das pessoas que representam (?), e muitas vezes fazem-no de forma fria, arbitrária, injusta e impessoal, na secretaria, sem se preocuparem com o que os lesados poderão vir a sofrer para o resto da vida com essa decisão, apenas porque resolvem assinar no lado errado da folha, indeferindo justas reivindicações. Os motivos que os levam a tamanhas atrocidades podem ser muitos e inconfessáveis, entre eles porque se trata de um número e não de uma pessoa, entre eles porque se trata de um desconhecido e não de um familiar, entre eles porque querem desesperadamente apresentar serviço, ainda que serviço sujo de lambe-botas para poupar indevidamente uns míseros euros ao Estado , para que se conste e os venha a pessoalmente beneficiar no futuro. Só passados tantos anos fiquei a saber o que se passou em pormenor com este acidente, e fiquei chocado. Afinal e resumindo, o Arménio ficou incapacitado para o resto da vida devido ao acidente que passamos a transcrever e enquanto militar do Exército Português. Porém as leis deste país não lhe concederam até hoje o estatuto pleno de Deficiente das Forças Armadas em que entre outras regalias compensatórias poderia ter uma reforma mais justamente remunerada e pagas as propinas dos seus filhos pelo Estado, o que nem isso impediu que hoje esses filhos sejam formados e prontos para que o país hoje venha sem qualquer direito a lucrar com eles. Seria o mínimo como contrapartida, mas nem isso os senhores políticos acharam que merecia. A sua lesão teria que ser em combate e não porque uma viatura do Exército não tinha travões. A mim dá-me para sorrir para não chorar. De raiva.
O lesado Arménio enaltece aqui a boa vontade do ex-Ministro da Defesa Prof. Veiga Simão, entretanto substituido por Júlio Castro Caldas que se fez rodear por Miranda Calha o qual mais uma vez viria a indeferir a sua justa pretensão. Por tudo isto, eu e imensos portugueses sentimos vergonha e repulsa pela Nação em que nascemos, servimos, e continuamos a pagar impostos desmedidos, e vergonhosamente indevidos, para tapar buracos de incompetências administrativas.
Alberto Nogueira (in http://zala.fototosblogue.com)


A Coluna e a Tragédia

Foi determinado em Agosto de 1975, que o Bart 6323, retirasse para Luanda afim de preparar o regresso à Metrópole, evacuando consigo toda a população portuguesa e não só que aí se encontrava. Para o efeito, foi organizada uma coluna, com centenas de viaturas militares e civis, cuja protecção armada era assegurada, por viaturas militares equipadas com granadas, morteiros e rochetes para além do armamento individual de cada militar. Esta coluna pôs-se em movimento em Malange em 5 de Agosto, mas por motivos de segurança, dados os riscos de flagelação pelos movimentos de libertação, inflectiu a sua marcha para Sul em direcção à Quibala, evitando seguir o caminho directo Malange - Luanda (assim como quem quer ir para Madrid ou Porto, fosse obrigado a fazer um desvio por Gibraltar).

No dia 6 de Agosto, após termos pernoitado na picada, pelas 15 horas nos morros da Quibala no itinerário Quibala Dondo, na Bedford onde me fazia transportar com todo o material da secretaria, ao iniciar a descida de um morro verificámos uma paragem brusca da coluna, tendo o motorista (Mário), ao lado do qual eu me encontrava, começado também o abrandamento, ao qual a camioneta não respondeu, tendo então o Mário começado aos berros que a camioneta estava sem travões, ao que eu respondi para ter calma e tentar a caixa de velocidades. O pânico apoderou-se dele e quando eu reagi e abri a porta para saltar, a velocidade já era muita, hesitei e… num ápice deu-se a tragédia… acordei no fundo do morro com muita confusão à minha volta, com dores na cabeça e no corpo, levantei-me e… tombei; a minha perna direita estava muito mal tratada, o fémur rompeu a carne e furou as calças do camuflado, agora todo o lado direito do meu corpo estava dormente. Gritei… Gritei… muito pela minha Mãe e pela Nossa Senhora que me ajudassem; acercaram-se pessoas de mim, só me lembro de identificar a voz do Comandante Machado da Silva, pediram-me para não gritar que iam pedir a evacuação aérea para Luanda e eu ia ficar bom… Pegaram-me ao colo e levaram-me para a Picada, onde o Dr. Coelho me prestou os primeiros socorros tentando estancar a hemorragia e fez uma tala à perna, as dores eram terríveis daí administrarem-me morfina.

Alegadamente por falta de Helicóptero (soube mais tarde que tiveram medo de fazer o resgate naquele local), fui transportado para Luanda num Unimog Mercedes 405 dos que se transformavam em ambulâncias de campanha, onde cheguei às 23 horas conforme consta nos meus boletins clínicos, passadas portanto 8 horas de agonia e muito sofrimento, entregue aos cuidados do meu amigo Sequeira, enfermeiro dedicado, pessoa que ainda hoje muito respeito e com quem tenho o privilégio de almoçar amiúdas vezes; segundo ele, não foi fácil entregar-me com vida no hospital de Luanda.


O Porquê da Paragem Brusca da Coluna

Soube mais tarde (pelo Pereira) que havia informações ao nível das Chefias (e como era lógico nós desconhecíamos), que neste mesmo local do incidente, uma semana antes havia sido emboscada uma coluna militar que seguia para Nova Lisboa, tendo o até aí IN, despojado os militares portugueses de todos os pertences incluindo as roupas do corpo, deixando-os completamente nus. Sabendo disso o Comandante Machado da Silva rodeou-se do meu amigo Alferes Pereira e do Furriel Mesquita, respectivamente Oficial e Sargento “Ranger” mais alguns soldados e foram fazer um reconhecimento ao terreno; tendo constatado que eles para alem de lá se encontrarem à nossa espera, quando se aperceberam que haviam de sido descobertos ripostaram. Isso levou o Comandante a dar meia volta ao seu Jeep e em sentido contrário aquele que seguia a coluna, ia fazendo sinal ás viaturas para pararem a fim de a coluna ficar compacta para assim, poder ultrapassar aquele obstáculo. Ora é precisamente quando ele (comandante), manda parar a Berliert, que segue á nossa frente, que o Mário começa a berrar que não tem travões e resolve encaixar a parte do local onde eu me encontro (dentro da cabine da Bedford) na traseira da Berliert, projectando esta pelo ar com todo o pessoal e armamento que ela transportava; isto para não esmagar o Jeep e matar o comandante que se encontrava na faixa contrária, e por lá poderia passar. Se isso tivesse acontecido (não que eu o desejasse), depois de desviarmos o Jeep do caminho iniciávamos uma subida e estaríamos eventualmente salvos; (embora isto não passe de meras suposições feitas a posteriori e que nada valem, o propósito das mesmas é somente para explanar o que se passou de forma a que as pessoas possam entender).

Eu nunca soube como saí da cabine Bedford até à data de um almoço em Paredes, onde o Pereira me contou ter-me visto sair pelo pára-brisas.


O Hospital

Após as 8 horas deitado em cima de um colchão ([1])* que o Sequeira entendeu ser mais confortável que a maca de lona para eu viajar no Unimog, seguiam comigo mais quarto feridos incluindo o Mário com um buraco na barriga; íamos escoltados por duas viaturas à frente e à retaguarda respectivamente, sempre que encontrava uma zona mais iluminada, o Sequeira ia procurar água para me dar de beber, cheguei a beber soro e foi-me administrada muita morfina para atenuar o sofrimento. Já no Hospital vomitei o nada que tinha no estômago para a mesa de raio X, tantas foram as dores que suportei para fazerem-me as chapas. Resultado: Perna partida em três locais com fracturas expostas, rotula desfeita, cabeça cheia de perfurações artificiais, braços e peito rasgados e braço direito sem movimentos (ficou assim durante dois mês nada acusou partido mas ainda hoje me dói). Não pude regressar com o batalhão antes tinha que ser operado pois segundo os médicos o risco era grande. O meu bem haja ao Comandante Machado da Silva por ter intercedido para que eu ficasse internado numa enfermaria digna, foi no “Recobro”.

Parabéns ao pessoal que teve a coragem de ir ao hospital despedir-se de mim no dia em que regressaram à Metrópole fizeram-no em fila e com muita dignidade: uns choraram comigo outros saiam apressados para esconder as lágrimas; nós éramos “putos” na idade, mas na maturidade éramos Homens com colh… foi um dia muito duro não fiquei nada melindrado com os que não foram.
(1)*- Ao chegar a Luanda o Sequeira deitou fora o colchão, estava completamente ensopado em sangue. Os primeiros tratamentos foram transfusões, não me lembro o quanto mas foi muito sangue.


A Operação

Fui operado dia 9 de Setembro, volvidos portanto 33 dias sobre a dada do acidente, foi me extraída a rotula e colocaram 3 placas e 18 parafusos na perna. Fui evacuado para Portugal dia 1 de Outubro de 1975. O buraco das fracturas expostas tinha fechado em falso (o Médico devia saber disso pois eu quando cheguei ao hospital de Luanda as feridas da minha perna já estavam em processo infeccioso), o médico operou-me na mesma pois as condições em Luanda degradavam-se dia após dia e eu tinha que ser operado para viajar; resultado: tive rejeição de material que foi removido já em Lisboa e imobilizando-me de seguida com gesso ate debaixo dos braços e assim permaneci durante 9 meses dos 3 anos que tive de internamento no anexo do hospital militar em Campolide / Lisboa.


Dia Negro

No já referido 9 de Setembro, aguardava eu em cima de uma maca no corredor que dava acesso aos blocos do hospital com muita ansiedade, não tinha ninguém para me dizer se iria correr bem ou mal, assim-assim ou se eu iria até morrer; NADA, só eu, as paredes e o tecto. Verifiquei entretanto se virasse a cabeça a 180º conseguia vislumbrar para dentro de um bloco operatório onde estavam a amputar uma perna a um preto. Santa Maria me Acuda. O que vai ser de mim?... Vou animar-me: contei as namoradas que já tinha tido até aquele momento ( as senhoras que eventualmente leiam esta minha narrativa não me interpretem mal por favor, foi uma questão de sobrevivência e nada mais), perdi o conto e cheguei à conclusão positiva que se realmente morresse, já me tinha divertido com toda a certeza mais que o meu Avô e o meu Pai juntos. Estava eu a saborear este lado positivo da coisa quando aparece o enfermeiro para me levar para o bloco; aí o Dr. Pitrez Ferreira (médico que me operou em Luanda) vociferava com o técnico de instrumentos porque o anestesista não chegava, eis quando ele chegou se pegou com o médico e se envolveram os três aos berros e assim adormeci com a anestesia para acordar passadas as 9 horas.

Na minha vivência no HMP tive o privilégio de ter o Dr. Crespo como meu amigo, como ele sabia compreender um gaiato de 22 anos que de momento para o outro se vê privado de fazer tudo aquilo que um gaiato de 22 anos gostava de fazer, só porque a ganância, a prepotência, a intolerância e a estupidez dos governantes são capazes de sobrepor-se a tudo e a todos para conduzir às guerras (tenho ouvido várias vezes nos meios audiovisuais, alguma escumalha deste País que se julga gente importante falar de guerra “justa e injusta” isso é uma utopia, não existe guerra justa o que existe nessas cabeças “pensantes” é um alcançar de fins sem olhar a meios). Que Deus tenha o Dr. Crespo em Paz.

Durante 3 anos no internamento no HMP em Lisboa a relação com os médicos que me assistiam ia muito para além disso mesmo; também foram meus conselheiros e confidentes, sei que dentro das condições tudo fizeram para me recuperar ao máximo; todavia a operação feita em Luanda com as feridas em processo infeccioso tinham deitado tudo por terra desde o inicio ([2])*, bem haja a todos: ao Dr. Macário Tapadinhas, à enfermagem 5 estrelas e um Xi especial à M. do Carmo.
(2)* talvez se os helicópteros tivessem ido ao buraco tudo fosse mais fácil


A Alta

Pedi alta médica após chegar á triste conclusão nada mais havia a fazer, como mais tarde me confirmaria um Professor em Oxford, cidade inglesa onde existia na altura uma clínica da especialidade, considerada a melhor do mundo e a qual eu recorri no sentido de minimizar ao máximo a minha deficiência. Após dois dias de exame, eis o veredicto: “Fizeste bem em vir, a medicina está sempre a evoluir, mas de momento e nas condições em que os médicos do teus país deixaram a tua perna, de momento não há nada a fazer”.

Eu tinha passado 3 anos num hospital lutando contra todas as adversidades, preparei-me física e psicologicamente para fazer uma intervenção cirúrgica de algum risco e dimensão e oiço a pessoa entendida na matéria a falar daquela maneira; apeteceu-me morrer ali… mas só chorei. Chorei muito a raiva, a revolta e a impotência, voltei para Portugal, resignado à minha sorte mas com uma certeza: tentei tudo, fui ao melhor que havia ao cimo da Terra na especialidade para recuperar a minha deficiência. Não consegui. Não serei uma árvore no alto da montanha; mas serei um arbusto á beira do riacho. Isso serei. E de cobarde jamais me chamarão.

Dia 17 e Março de 1978, o Dr. Crespo (antigo director do HMP, já falecido) presidia á junta médica a que eu fui presente e perguntou-me se eu concordava com a desvalorização de 66,08% que o meu médico (Dr. Ribeiro) me havia atribuído, respondi-lhe que não estávamos a tratar de nenhum negócio de peixe, se estava dentro das consciências deles eu assinava de cruz.

Sabem que mais? Ufa! Estou cansado; muito mais teria para vos contar, desde a luta nos tribunais em defesa dos meus direitos, a recusa dos políticos em me considerarem DFA. SIM! Escrevi bem, dos políticos porque no meu caso não houve separação de poderes… Ou seja: Os magistrados julgaram sempre em função da vontade política. Se assim o quiserem, vão pesquisar no Google – Batalhão de Artilharia 6323, cliquem em “Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo” e verão quanto bem-feita está a tramóia que esses senhoritos engendraram para negarem os meus direitos. Eles Obram em cadeiras de executivo no ambiente alcatifado e de ar condicionado a dezenas de anos e a milhares quilómetros de distancia. Mas Obram. “Que saudades Zacarias…” Voltarei a este tema mais tarde se assim o quiserem, de momento entendo não partilhar mais sobre ele pelo facto de ter denunciado a situação a Sua Ex.ª. Sr. Presidente da Republica, encontrando-se a mesma neste momento em poder do Exmo. Sr. Chefe da Casa Militar.


A Peluda

Eu não tive Peluda o meu espólio começou na Quibala e acabou no hospital de Luanda. Ninguém me pediu contas: da G-3, dos 3 carregadores, das 4 granadas, do Dólmen, das calças, da camisa, das botas, etc… As botas…: Como eu gosto do símbolo feliz que o Nogueira concebeu para a PELUDA. Bem-haja e parabéns a VOCÊS que eu não a tive…

Abraços. E até sempre… Porque quem é vivo sempre se encontra…

Arménio


Obs.: Alguns dos factos que eu aqui escrevo foram-me relatados presencialmente na 1ª pessoa por ex-camaradas de armas. Quero deixar aqui expressa a minha homenagem ao ex. Furriel Américo Leal e ao ex-Soldado Agostinho Ferreira (Setúbal), a minha mais profunda gratidão por na Terra ter tido amigos da vossa lealdade. Que Deus permita que descansem em Paz para Sempre.

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7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Mais uma bela transcrição de factos Historicos de grande relevo...Muito obrigado camarada...
Abraço

13 fevereiro, 2009 21:51  
Anonymous Anónimo said...

Gostaria de saber de um ex.Soldado natural de Gois de nome Joaquim Santos ex.sold.cond.1482/64 da Comp.Cav.781 esteve em Angola de 1965/67 no Mucussueje (Leste de Angola) iformar para telem.918903140

13 fevereiro, 2009 22:00  
Anonymous Anónimo said...

só é pena que um momento tão dramático da nossa história seja evocado em Góis através daquele mamarracho a que chamam "obra de arte".

14 fevereiro, 2009 00:21  
Anonymous Anónimo said...

Parabéns Camarada pela tua coragem, de falares abertamente desta guerra onde tanto sofremos.
Acho mal é a dita "escultura"! que a Câmara fez de homenagem a nós e que para mim é uma ofensa... Eu sou um ex-combatente e não um Pato ou outra ave qualquer.
Sinto-me profundamente ofendido!

15 fevereiro, 2009 20:29  
Anonymous Anónimo said...

NÃO QUERO NEM DEIXO QUE ME CHAMEM GALINHA!!!

E fui para a guerra em 1961, com 23 anos (idade com que nos deixavam casar), embarcando para Angola, com um espírito que não tinha nada a ver com política porque era militar. Embarcámos a 21 MAR 61. Fomos a primeira de Caçadores Especiais a seguir.
que sentia, e julgo que era comum para aqueles que iam comigo, é que íamos para o desconhecido. Como Caçadores Especiais estávamos preparados para enfrentar todas as dificuldades mas não sabíamos como era o inimigo, o que era o inimigo e se era branco ou negro. Se, em guerra subversiva, como dizia Mao, a população está para o guerrilheiro como a água para o peixe, como distinguir? Ao chegarmos a Luanda fomos aplaudidos pela população ao longo de todo percurso dentro da cidade até ao Quartel. Pediam vingança porque tinha havido terrorismo. Tinham assassinado o Capitão Castelo da Silva, comandante da 6.ª Companhia de Caç. Especiais e tinham-lhe exposto os órgãos genitais espetados num pau, fazendo o mesmo a dois ou três homens que seguiam com ele. Nós ainda nem tínhamos armas. Nesta altura, era alferes e 2.º comandante da Companhia, portanto, quando o Capitão não estava era eu quem comandava. Tínhamos uma tropa especial e bastante difícil quando aquartelada mas a melhor em operações; andámos no mato sempre de cabeça erguida, com armas aperradas e, na nossa primeira operação - Abertura do itinerário do Negage para Maquela do Zombo - demorámos mais de 15 dias a recuperar e abrir esse troço de estrada, incluindo a construção de onze pontes destruídas pelo IN.
A chegada ao Continente foi uma espécie de desilusão. Ninguém se preocupava com isso e andavam todos a dizer que só havia acções de polícia quando nós andávamos em guerra. E isso deu me alguns dissabores. Ao chegar a casa parecia que nada se passava, e nós que tanto tínhamos lutado.
Em 1964 parti para a Guiné,Combatíamos guerrilheiros e estes eram pessoas com princípios, com honra, e eu tinha a certeza absoluta de que se fosse apanhado não ia ser massacrado nem crucificado. Ia ser aproveitado como muitos foram para fins de propaganda... Assim, o nosso inimigo na Guiné tinha um comportamento elegante, e o lema da minha Companhia era "Em campanha mas sempre elegante", o que não impediu, todavia que tenha tido 16 mortos nessa Comissão, quando só tive um em Angola.
Em Janeiro de 1968, voltei para Guiné, sendo esta a 3.ª comissão de serviço.
Esta última experiência foi muito boa e ao mesmo tempo terrível, dado o potencial do IN. A minha primeira comissão, em Angola, foi a "heróica, a segunda foi a da "contestação", porque me interrogava sobre todos os porquês da nossa presença ali e fui perseguido por isso. Na terceira, estava na moda e, por uma questão de experiência, foi a da "maturidade". Acabou em 28 de Agosto, quando pisei uma mina anti-pessoal...
Passei muito para agora o Sr. Presidente e a arquitecta Elisabete Afonso, me virem chamar Galinha! Uma profunda ofensa pois como todos sabem Galinhas são os medricas e eu de medricas não tenho nada.
Sou Coronel na reforma mas quero respeito e consideração.
Coisa que a Câmara com está escultura não me deu.

16 fevereiro, 2009 11:28  
Anonymous Anónimo said...

Tenham vergonha e não insultei a memoria de quem morreu pela Patria ou ficou gravemente ferido.
Chamar aquilo Homenagem aos Combatentes, eu tenho vergonha daquilo, daquela ave!
Um lutei com orgulho por Portugal e a paga que tenho é ser chamado de Pato!

17 fevereiro, 2009 23:07  
Blogger Armenio said...

Só hoje consultei a página e para isso muito contribuiu a gentileza do Autor deste blog. Fiquei curioso acerca do "monumento" não sabia, logo que possa vou vêlo e se não gostar também vou patinar.É notória a indignação do pessoal que já conhece a "obra de arte". Não tenho o previlégio de conhecer o senhor presidente da CMG, o que não invalida que me mereça todo o respeito enquanto cidadão deste Pais; todavia é bom lembrar que ele "joga" num clube que não gosta de ex-cambatentes nem de DFA. Na América, os Ex-Combatentes e mutilados de guerra, desde o Vietnam até ao Afgnistão,para alem de lhes ser garantida estabilidade para o resto da vida, são heróis nacionais em Ingraterra o pessoal que passou pelas Malvinas e voltou; se não está muito bem na vida é porque por qualquer motivo perdeu as estribeiras. Eu não quero ser heroi nem estar muito bem na vida mas não prescindo da minha dignidade nem dos meus direitos; e esses são-me diáriamente subtraidos. A estes senhores não ensinaram que é muito feio ser hipócrita, mentiroso e muito grave ser ladrão. Numa coisa eu tenho que dar razão ao homem da "Madeira"
esta escumalha não se recomenda a ninguem.

Ser Alegre e Feliz ainda não paga imposto. Portanto... Sejam


fiquen bem.

arménio silva

02 março, 2009 22:58  

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