O Silêncio dos que não voltaram
Em tempos fizemos uma abordagem ao tema "desertificação", dando pleno relevo à inquietante questão que assenta na ausência "dos que partiram e não voltaram".
Tomando como suporte o princípio de que o serrano volta sempre ao aconchego da sua terra-natal, tentamos agora analisar as várias razões que podem ter contribuído para o longo afastamento, no propósito de encontrar, entre elas, explicações pertinentes que ajudem a encontrar uma nova luz.
Das razões que estão na base do abandono das suas aldeias, em busca de outras paragens, todos nós as conhecemos melhor ou pior, consoante os casos, saltando desde logo o velho argumento de que "foram à cata duma vida melhor", com tudo o que essa ideia envolve de empenho, apego ou, pelo contrário, desamor. Acontece que essa realidade está dita e redita, para não dizer estafada, a qual já entrou num ciclo fechado, tendo em conta as vicissitudes que a conhecida globalização se encarregou de pôr no nosso caminho. É bom ter isto presente.
Alargando este conceito à presente abordagem, na tentativa de percorrermos vertentes menos expostas do problema, gostaríamos agora de colocar questões que, vá-se lá saber porquê, outros preferem ignorar:
-Se a vida laboral hoje é feita de instabilidade e de incertezas frequentes, situação que implica maior disponibilidade num raio de acção mais alargado, por que será que aqueles que já atingiram a sua aposentação não procuram, com mais frequência, as suas raízes ou os pontos de partida, deixando aos mais novos o espaço livre para melhor circulação? Deste modo dariam mais uso às suas casas desabitadas nas aldeias abandonadas e os grandes centros deixariam de ter pessoas que se atropelam umas às outras.
-Por outro lado e por mais incompreensível que possa ser, é deveras preocupante o modo como são recebidas pessoas que tentam regressar às suas aldeias, na esperança de encontrarem um meio humanizado e acolhedor para poderem passar os seus últimos dias em paz e afinal são olhadas de esguelha, de forma hostil, como que sendo estranhas ao meio, em vez de serem bem recebidas.
Seria bom que todos entendêssemos que, para se ter as pessoas de volta à aldeia, torna-se necessário o bom acolhimento, onde elas se sintam bem-vindas para se poderem integrar na comunidade de forma civilizada e igualitária e não excluídas. Com isso ganharão todos: a aldeia e a região. Não basta gritar aos sete ventos que o interior está cada vez mais despovoado, importa, dentro das limitações existentes, saber criar condições sociais para que essa verdadeira calamidade seja, de pouco em pouco, debelada. Hoje, já não é apenas o número de casas fechadas que assusta, é muito mais que isso, é a falta de sociabilidade, de calor humano e duma vida comunitária intensa.
Na falta de gente jovem com capacidade produtiva; na mingua de criação de postos de trabalho remunerados; na ausência de outros eventos sócio-económicos; a solução a breve trecho, pode passar por atrair gente aposentada ainda com capacidade de gerar nas aldeias alguma dinâmica capaz de lhe dar vida social. É triste passar pelas suas ruas e encontrar apenas cães abandonados.
Com pequenas soluções que estão ao alcance de todos, incluindo as colectividades, também se podem criar nichos dinamizadores, capazes de evoluírem para grandes resultados, só é preciso disponibilidade e criatividade nos eventos culturais e outros. A época do rei "Povoador" já lá vai há muito tempo.
Adriano Pacheco
in Jornal de Arganil, de 1/01/2009
Tomando como suporte o princípio de que o serrano volta sempre ao aconchego da sua terra-natal, tentamos agora analisar as várias razões que podem ter contribuído para o longo afastamento, no propósito de encontrar, entre elas, explicações pertinentes que ajudem a encontrar uma nova luz.
Das razões que estão na base do abandono das suas aldeias, em busca de outras paragens, todos nós as conhecemos melhor ou pior, consoante os casos, saltando desde logo o velho argumento de que "foram à cata duma vida melhor", com tudo o que essa ideia envolve de empenho, apego ou, pelo contrário, desamor. Acontece que essa realidade está dita e redita, para não dizer estafada, a qual já entrou num ciclo fechado, tendo em conta as vicissitudes que a conhecida globalização se encarregou de pôr no nosso caminho. É bom ter isto presente.
Alargando este conceito à presente abordagem, na tentativa de percorrermos vertentes menos expostas do problema, gostaríamos agora de colocar questões que, vá-se lá saber porquê, outros preferem ignorar:
-Se a vida laboral hoje é feita de instabilidade e de incertezas frequentes, situação que implica maior disponibilidade num raio de acção mais alargado, por que será que aqueles que já atingiram a sua aposentação não procuram, com mais frequência, as suas raízes ou os pontos de partida, deixando aos mais novos o espaço livre para melhor circulação? Deste modo dariam mais uso às suas casas desabitadas nas aldeias abandonadas e os grandes centros deixariam de ter pessoas que se atropelam umas às outras.
-Por outro lado e por mais incompreensível que possa ser, é deveras preocupante o modo como são recebidas pessoas que tentam regressar às suas aldeias, na esperança de encontrarem um meio humanizado e acolhedor para poderem passar os seus últimos dias em paz e afinal são olhadas de esguelha, de forma hostil, como que sendo estranhas ao meio, em vez de serem bem recebidas.
Seria bom que todos entendêssemos que, para se ter as pessoas de volta à aldeia, torna-se necessário o bom acolhimento, onde elas se sintam bem-vindas para se poderem integrar na comunidade de forma civilizada e igualitária e não excluídas. Com isso ganharão todos: a aldeia e a região. Não basta gritar aos sete ventos que o interior está cada vez mais despovoado, importa, dentro das limitações existentes, saber criar condições sociais para que essa verdadeira calamidade seja, de pouco em pouco, debelada. Hoje, já não é apenas o número de casas fechadas que assusta, é muito mais que isso, é a falta de sociabilidade, de calor humano e duma vida comunitária intensa.
Na falta de gente jovem com capacidade produtiva; na mingua de criação de postos de trabalho remunerados; na ausência de outros eventos sócio-económicos; a solução a breve trecho, pode passar por atrair gente aposentada ainda com capacidade de gerar nas aldeias alguma dinâmica capaz de lhe dar vida social. É triste passar pelas suas ruas e encontrar apenas cães abandonados.
Com pequenas soluções que estão ao alcance de todos, incluindo as colectividades, também se podem criar nichos dinamizadores, capazes de evoluírem para grandes resultados, só é preciso disponibilidade e criatividade nos eventos culturais e outros. A época do rei "Povoador" já lá vai há muito tempo.
Adriano Pacheco
in Jornal de Arganil, de 1/01/2009
Etiquetas: adriano pacheco, geral
3 Comments:
Com todo o respeito que tenho pelo Autor desta crónica será que essas pessoas idosas que fala quererão regressar às suas terras de origem?
Abandonar a restante familia que se fixou nas cidades e ficarem esquecidos como as suas terras na solidão e carencia de meios logisticos em áreas como a saúde ou a cultura? como se poderá reverter a desertificação? Não querendo ser pessimista, será que o fim das reformas irá ditar o fim da propria desertificação??
Os meus parabens ao autor deste blog pela perseverança e informaçao sempre actualizada que nos proporciona
Muito bem dito, D. Adriano.
Mas será que os padrinhos de Góis deixam?
O espólio será menor...
Mas porquê? Dizemos mal a quem?
Este gajo escreve mal e muitíssimo mau escritor, além de ser um grande convencido, alias está convencido que é GENTE, quando bem dez reis de gente é…
Mas é mau escritor e os seus artigos são todos ao lado, não acerta um, além de ser um vendido ao poder, dá-se com gregos e troianos, mas nós já o topamos.
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