quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Alvares cumpriu a tradição do bodo de S. Sebastião

Tal como acontece todos os anos, uma comissão organizadora realizou em Alvares, freguesia do concelho de Góis, a tradicional festa de S. Sebastião, na qual se presta devoção ao mártir que, no século XIX, salvou a população das pestes e da guerra. Tendo em conta a promessa feita naquela altura, ainda hoje, depois do dia de S. Sebastião [20 de Janeiro], é oferecido o bodo, como se designa o pão benzido, a todas as pessoas que participam nesta festa que começa com um baile no sábado e termina no domingo com a celebração da missa, procissão, benção e distribuição do bodo, e no final decorre um almoço convívio onde se reunem as pessoas da freguesia.
Este ano, devido às condições meteorológicas, o almoço decorreu no salão dos Bombeiros Voluntários de Alvares, embora habitualmente as pessoas permaneçam junto à capela onde se encontra o padroeiro S. Sebastião. De acordo com o pároco da freguesia, esta festa também se realiza noutros locais, nomeadamente no Cadafaz e no Colmeal, no concelho de Góis, e em Pessegueiro, no concelho da Pampilhosa da Serra, entre outros.
“Houve no século XIX uma peste que matou muita gente e o povo alarmado fez uma promessa ao S. Sebastião, padroeiro das pestes e da guerra, que se o livrasse dessas maleitas, daria todos os anos um bodo”, contou ao RCA NOTICIAS Ramiro Moreira, realçando que “a tradição tem-se mantido todos os anos”. Segundo o padre, antigamente era oferecido às pessoas apenas o pão, os tremoços e o vinho, enquanto que hoje em dia, em Alvares, “dão também sardinha assada, febras e broa”. “Noutras terras fazem caldo verde, e noutras até fazem bolas com carne de porco”, acrescentou.
Para Ramiro Moreira, este é um dia de “alegria e confraternização de todo o povo da freguesia”, sendo que após a benção do bodo, para além de comerem este pão durante o almoço, “muita gente leva-o para casa e guarda-o porque ele não se estraga, fica rijo mas não ganha bolor”, revelou. Actualmente, as pessoas ainda veneram este santo, até porque “livra-nos das pestes e das guerras, até das guerras nas famílias e entre os povos”, afirmou o pároco.
Em declarações ao RCA NOTICIAS, o presidente da junta de freguesia explicou que na freguesia apenas Alvares cumpre esta tradição, existindo a particularidade, em relação a outras freguesias, de que “é sempre a sede de freguesia que organiza a festa”, através de uma comissão organizadora composta pela própria população, e que já é nomeada de um ano para o outro. Vítor Duarte reforçou que esta iniciativa é uma devoção ao mártir S. Sebastião que, tendo livrado as pessoas das pestes e das guerras, é visto como “o protector das desgraças, das guerras, da fome e das pestes”.
Relativamente ao pão, designado de bodo, e que antigamente era oferecido sobretudo aos mais pobres, é “sinónimo de alimentação e fartura, em contraste com a guerra e a miséria”, explicou o presidente da junta, acrescentando que parte do pão benzido neste dia é comido durante o almoço que, por sua vez, é oferecido pela organização. “Os mordomos fazem um peditório e daí resulta a compra do que comemos”, enfatizou, esclarecendo que cabe à junta de freguesia oferecer o pão e os tremoços.
No que concerne aos projectos para concretizar ainda este ano na freguesia de Alvares, Vítor Duarte apontou como principais objectivos terminar as obras no piso superior do quartel dos Bombeiros Voluntários de Alvares, concluir as obras na praia fluvial, e criar uma farmácia, para além de se perspectivar a construção de um Centro Escolar. “Espero até Outubro ainda ter a oportunidade de desenvolvê-los”, adiantou, contando que o projecto das obras na secção dos Bombeiros de Alvares resultou de uma candidatura feita pela Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Góis, em parceria com a autarquia, sendo que “o projecto foi aprovado e as coisas estão a evoluir favoravelmente”. O que se pretende é ampliar as actuais instalações que, de acordo com o presidente da junta de freguesia, são “exíguas”, havendo falta de espaço para os cerca de 30 bombeiros que dormem no quartel. Para além disso, “precisamos na freguesia de um espaço polivalente onde possamos organizar iniciativas lúdicas, culturais e recreativas”, defendeu, anunciando que o quartel vai albergar esse espaço.
Em relação à criação de uma farmácia em Alvares, o presidente da junta de freguesia deu a conhecer que actualmente a população dispõe de um posto de farmácia mas que “só funciona quando há médico, ou seja, duas ou três vezes por semana, e por isso não dá resposta às necessidades das pessoas que têm de deslocar-se a Pedrógão Grande”. Questionado acerca de uma possível recandidatura ao cargo nas próximas eleições autárquicas, Vítor Duarte não quis adiantar para já o que tenciona fazer, contudo assegurou que pretende “concretizar estas obras que são o sonho de todos os alvarenses e que são estruturantes para a freguesia”.
in www.rcarganil.com

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