quinta-feira, 19 de junho de 2008

Autarquias e outras instituições da região de Coimbra ignoram YouTube

Um estudo sobre os vídeos publicados no YouTube com referências a dez concelhos do distrito de Coimbra revela que o desporto domina, com quase 50 por cento dos trabalhos, e que autarquias e outras instituições ignoram este portal.

O estudo do Observatório dos Media do Instituto Superior Miguel Torga (ISMT), a que a agência Lusa teve acesso, incidiu sobre a totalidade dos vídeos publicados no YouTube com referências aos concelhos de Arganil, Condeixa-a-Nova, Góis, Miranda do Corvo, Montemor-o-Velho, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Penacova, Penela e Vila Nova de Poiares.

O desporto domina com 503 vídeos (48,2 por cento), seguindo-se a música/dança, com 242 trabalhos (23,2%), e verificando-se, segundo um dos coordenadores do estudo, Dinis Manuel Alves, "um total desinteresse" das autarquias e outras instituições destes concelhos relativamente ao "mais poderoso canal de vídeos da web", um recurso grátis.

"Desinteresse bem patente também no facto de apenas um dos dez sites oficiais dos municípios alvo deste estudo publicarem vídeos alojados no YouTube. Acontece com Montemor-o-Velho, dois vídeos linkados. O site de Penela tem um vídeo alojado no próprio servidor, com os restantes oito municípios ignorando totalmente o recurso aos vídeos, apostando apenas nas fotografias", refere o docente.

Durante o período estudado (de 21 a 25 de Maio), e para este grupo de concelhos - que representa mais de metade do distrito - o turismo surge em terceiro lugar, com 107 vídeos (10,3%).

Por outro lado, o canal do ISMT, o YOUTORGA, perfila-se como o utilizador com maior distribuição geográfica (seis concelhos), seguido do EUSEIVIDEO.

Entre os políticos, neste grupo de concelhos estudado pelo centro de investigação do ISMT, apenas o deputado social-democrata Miguel Almeida aposta no YouTube, tendo mesmo criado um canal. Em Montemor-o-Velho surge um vídeo produzido pela candidatura socialista às autárquicas de 2005.

"Se os responsáveis pelas câmaras locais, pelos estabelecimentos de ensino, pelas colectividades e os representantes das forças vivas concelhias despertarem para as potencialidades do recurso YouTube, o panorama poderá mudar de figura, com uma presença mais significativa no portal de partilha de vídeos da Web", preconiza Dinis Manuel Alves.

O director da licenciatura em Comunicação Social do Instituto Superior Miguel Torga realça que, "a par das páginas oficiais dos municípios, das regiões de turismo e de outras páginas individuais, o YouTube funciona hoje, para milhões de turistas de todo o mundo, como o rosto de uma determinada freguesia, concelho ou região".

"A decisão de encetar uma viagem passa, cada vez mais, por uma auscultação à Web, vídeos incluídos", salienta.

Neste sentido, Dinis Manuel Alves considera "natural que um turista risque das suas opções um concelho que tenha, como vídeo mais visto, uma perigosíssima viagem de mota pela auto-estrada que o turista vai utilizar".

O docente refere-se a um trabalho com a duração de oito minutos e 15 segundos, o tempo exacto que um motard demorou a percorrer o troço da A1 Condeixa-Mealhada, levando a moto aos 277 KM/hora e efectuando várias manobras perigosas.

"O mesmo vale para uma longa série de outros vídeos que divulgam bebedeiras, carros evoluindo perigosamente pelas rotundas de uma cidade, vómitos, chorrilhos de asneiras e um sem-número de outros casos de vídeo-lixo", observa.

Na sua óptica, "este género de vídeos não representa, naturalmente, o pulsar económico, a vida cultural, o património arquitectónico e paisagístico desses concelhos".

"Se as autoridades locais não desencadearem acções tendentes a limitar os danos resultantes da colocação destes vídeos, são eles que ganham o direito de cidade no YouTube, passando a valer como a imagem de cada concelho na rede", adverte Dinis Manuel Alves.

Para o investigador, "não é nada difícil conseguir inverter esta tendência".

"Na era dos self-media, a produção de vídeos deixou de ter os custos exorbitantes de há uma década atrás. Qualquer autarquia tem possibilidade de criar um pequeno departamento audiovisual, porventura dando trabalho a muitos jovens licenciados nesta área", sustenta.

O estudo vai ser enviado aos presidentes das câmaras dos concelhos envolvidos, à Direcção Regional de Educação do Centro e a colectividades destes municípios, entidades às quais o Observatório dos Media do ISMT vai pedir uma reunião para as sensibilizar para estas questões.

Entre as "bizarrias" encontradas nesta investigação figuram um vídeo com um cão a ladrar durante nove minutos, colocado por um utilizador de Condeixa, que assim pretende demonstrar o incómodo causado pelos latidos incessantes do animal do vizinho.
in Público, edição electrónica

Etiquetas: