domingo, 2 de março de 2008

Brinquedos tradicionais reunidos em museu familar

Construir "rilha-ratos" para passar o tempo, mas sobretudo para recuar no tempo. Valentim Antunes Rosa, de 68 anos, regressa ao passado através da construção de brinquedos e miniaturas de objectos ligados às vivências da infância passada na Catraia do Azevedo, freguesia de Alvares, no concelho de Góis.

Até aos 15 anos, Valentim Antunes incutiu os hábitos de vida característicos das encostas das serras do Rabadão e da Mata onde se vivia essencialmente da agricultura e pastorícia. Depois, partiu para Lisboa à procura de uma vida melhor. Aos 54 anos quando se reformou, depois de ter exercido a profissão de bancário quase três décadas, regressou ao concelho de Góis para viver na terra da mulher, Corterredor, na freguesia da Comareira.

Lucinda Jesus Rosa, uma enfermeira aposentada, partilha com o marido os prazeres de regressar às origens. Dedicam-se ao cultivo de uma pequena horta, à paixão pelas rosas, à recolha de tradições orais, histórias e lendas populares, à construção de brinquedos e miniaturas em madeira, ferros velhos e desperdícios da natureza e, ainda, ao turismo de aldeia.

O "rilha-ratos" é uma espécie de ioiô na horizontal, um dos brinquedos com que Valentim Antunes matava o tempo na infância e que hoje constrói a par das fisgas que usava para apanhar pardais. "As memórias de menino eram tão ricas e presentes que resolvi recriá-las", refere o homem que não quer ser identificado como artesão, mas sim como um amante das tradições da região.

Além dos brinquedos, Valentim Antunes faz ainda miniaturas de cortiços de abelhas, de dobadouras e caniços. As campainhas com sinos são outras das suas paixões. Contudo, não é possível adquirir nenhum destes objectos, pois este artesão improvisado não constrói para vender.

Valentim Antunes, que se dedica ainda ao voluntariado na Santa Casa da Misericórdia de Góis, oferece as miniaturas e brinquedos aos amigos e à família e o que sobra fica por casa, onde aliás já existe um pequeno museu. Neste espaço é possível ver peças feitas pelas mãos de Valentim Antunes e outras recolhidas por ele e pela esposa na região.

Apesar de não estar propriamente aberto ao público, o casal não deixa de abrir as portas a quem mostrar interesse em visitar este local por onde é possível viajar no tempo. As histórias que recolhem são tratadas por Lucinda Rosa que as publica num jornal da região e que espera um dia poder compilar em livro.
in Jornal de Notícias, de 2/03/2008

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2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olhei primeiro para a fotografia e pensei logo: isto no meu tempo era um rilha-ratos. Eu fiz vários.

Que saudades!...

02 março, 2008 14:50  
Anonymous Anónimo said...

Bem, voltei aqui de novo, depois de ler o post e por causa desse senhor Valentim Antunes, que morou na Catraia do Azevedo: no verão passado quando por aí andava de férias, e quando lhe fui apresentado nas Cabeçadas pelo meu irmão, o senhor Valentim, reagiu assim com um sorriso: "Ó Ernesto então este malandro é teu irmão?!"

02 março, 2008 15:03  

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