Aldeia para uma só família
O céu, o sol, a lua e a terra. Aqui tudo é nosso", afirma, de sorriso rasgado na cara crespada pelo sol de Inverno, Elsa Maria Claro, a mãe da única família que reside em Aigra Velha, a 15 quilómetros da sede do concelho, Góis, em plena Serra da Lousã. Mulher de alma quente e de mãos frias, boas para produzir o queijo de cabra cuja venda garante parte do sustento da família, Elsa Maria diz viver num oásis.
"Acordo a ouvir os rouxinóis a cantarem-me à janela, vivo num paraíso natural por opção", afirma a trabalhadora rural que explode de orgulho ao ouvir da boca dos três filhos que este é o lugar onde querem ficar para trabalhar e constituir família.
Alexandra, a filha mais velha, é licenciada em Línguas e Relações Internacionais pela Universidade de Aveiro. E só não voltou já para a terra, porque assumiu a responsabilidade de acompanhar os irmãos na cidade até ao final dos estudos. Pedro, de 17 anos, estuda Design de Equipamento. Aos fins-de-semana tem trabalho assegurado numa empresa de animação turística, com sede em Góis, onde é monitor de desportos de aventura.
Catarina, também de 17 anos, está a estudar Artes Visuais. Tal como os irmãos, a jovem sonha em regressar rapidamente para Aigra Velha onde pretende aliar-se à equipa que está a desenvolver o projecto da Maternidade de Árvores em Aigra Nova.
Contrariando a tendência para abandonar as aldeias serranas por falta de emprego e perspectivas, estes três jovens irmãos anseiam por poder regressar. Os mais velhos já têm propostas de trabalho, a mais nova sente que não será difícil de conseguir. "Quanto mais não seja a dar continuidade ao trabalho feito pelos meus pais na agricultura e pastorícia".
André Claro, 47 anos, que não quer ser identificado como o "chefe da família", mas apenas como um elemento de uma casa onde existe apenas uma carteira e a liberdade para que cada um escolha o seu caminho, é o filho mais novo de uma família de quatro irmãos. Foi sempre incentivado pelo pai a estudar, mas optou por se dedicar à pastorícia.
Aos dez anos já percorria sozinho a serra com um rebanho de 400 cabeças de gado. Para vigiar as cabras contava com a ajuda de uns binóculos. "Só de pastagens a região dispunha de cerca de 500 hectares", recorda.
André Claro nunca deixou de estudar. "Lia tudo o que me aparecia, jornais que os meus irmãos me enviavam de Lisboa, livros e revistas". Ainda hoje tem embrenhado no corpo o bichinho do conhecimento. Participa em acções de formação vocacionadas para a agricultura, pastorícia, apicultura e animação turística. É com frequência convidado para dar formação, participar em palestras e envolver-se em projectos.
Elsa Maria, diz que os filhos saíram ao pai, "são inteligentes, têm gosto por aprender e são empreendedores". Por isso, acredita que quando estiverem de volta para a terra, a família vai ficar mais unida do que nunca , expectante e determinada. "Acreditamos que este é o momento para inverter a desertificação", diz. Na aldeia onde há anos vivem sozinhos e na região que, aos poucos, vai dando sinais de revitalização.
Licínia Girão, Joana Bourgard
in Jornal de Notícias, de 3/02/2008
"Acordo a ouvir os rouxinóis a cantarem-me à janela, vivo num paraíso natural por opção", afirma a trabalhadora rural que explode de orgulho ao ouvir da boca dos três filhos que este é o lugar onde querem ficar para trabalhar e constituir família.
Alexandra, a filha mais velha, é licenciada em Línguas e Relações Internacionais pela Universidade de Aveiro. E só não voltou já para a terra, porque assumiu a responsabilidade de acompanhar os irmãos na cidade até ao final dos estudos. Pedro, de 17 anos, estuda Design de Equipamento. Aos fins-de-semana tem trabalho assegurado numa empresa de animação turística, com sede em Góis, onde é monitor de desportos de aventura.
Catarina, também de 17 anos, está a estudar Artes Visuais. Tal como os irmãos, a jovem sonha em regressar rapidamente para Aigra Velha onde pretende aliar-se à equipa que está a desenvolver o projecto da Maternidade de Árvores em Aigra Nova.
Contrariando a tendência para abandonar as aldeias serranas por falta de emprego e perspectivas, estes três jovens irmãos anseiam por poder regressar. Os mais velhos já têm propostas de trabalho, a mais nova sente que não será difícil de conseguir. "Quanto mais não seja a dar continuidade ao trabalho feito pelos meus pais na agricultura e pastorícia".
André Claro, 47 anos, que não quer ser identificado como o "chefe da família", mas apenas como um elemento de uma casa onde existe apenas uma carteira e a liberdade para que cada um escolha o seu caminho, é o filho mais novo de uma família de quatro irmãos. Foi sempre incentivado pelo pai a estudar, mas optou por se dedicar à pastorícia.
Aos dez anos já percorria sozinho a serra com um rebanho de 400 cabeças de gado. Para vigiar as cabras contava com a ajuda de uns binóculos. "Só de pastagens a região dispunha de cerca de 500 hectares", recorda.
André Claro nunca deixou de estudar. "Lia tudo o que me aparecia, jornais que os meus irmãos me enviavam de Lisboa, livros e revistas". Ainda hoje tem embrenhado no corpo o bichinho do conhecimento. Participa em acções de formação vocacionadas para a agricultura, pastorícia, apicultura e animação turística. É com frequência convidado para dar formação, participar em palestras e envolver-se em projectos.
Elsa Maria, diz que os filhos saíram ao pai, "são inteligentes, têm gosto por aprender e são empreendedores". Por isso, acredita que quando estiverem de volta para a terra, a família vai ficar mais unida do que nunca , expectante e determinada. "Acreditamos que este é o momento para inverter a desertificação", diz. Na aldeia onde há anos vivem sozinhos e na região que, aos poucos, vai dando sinais de revitalização.
Licínia Girão, Joana Bourgard
in Jornal de Notícias, de 3/02/2008
Etiquetas: aigra velha, fotografia
1 Comments:
Infelizmente esta aldeia está agora mais pobre, o Sr André faleceu ontem dia 6 de Agosto.
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