domingo, 13 de janeiro de 2008

Desertificação do interior do país é matéria muito grave

Nos últimos tempos temos vindo a assistir a uma confrangedora desertificação do interior do nosso País, a variadíssimos níveis.
Há aldeias, pequenas e grandes, por vezes freguesias inteiras, onde deixou de se ver e ouvir a alegria de crianças e jovens e apenas se arrastam os velhos e doentes, num abandono cada vez mais penoso.
A escola está tristemente fechada ou até a cair, as casas vão ficando vazias e a esboroar-se e até os campos de boa aptidão agrícola, outrora mimosos de pão e frutos, estão a eucaliptos.
Hortas, pomares e milheirais, que eram a riqueza de pobres e remediados, são agora reino do mato e das silvas.
E a tudo isto há governantes que respondem com a solução mais fácil, fechando ou anunciando fechar quase tudo às populações, desde as escolas às estruturas de saúde, segurança e outras.
E a justificação é quase sempre a mesma: para servir melhor as pessoas. Pobre gente que não compreende tais benefícios!
A cada passo ouço dizer que nos meios rurais do Portugal mais esquecido encontramos do melhor que enforma a alma e a cultura portuguesas. Posso eu testemunhá-lo, por conhecimento próprio, e também o afirmam muitos responsáveis políticos. Simplesmente, nem sempre agem em coerência com o que proclamam...
Há governantes que dizem que as medidas concentracionárias atrás referidas são consequência e não a causa da desertificação do interior. É cómodo dizê-lo, para se justificar a política do facto consumado.
Porém, o caminho socialmente justo e correcto é bem outro: assumir que o despovoamento de grande parte do País é indiscutivelmente um mal. Depois, combatê-los com medidas concretas, corajosas e bem conjugadas nos vários sectores que poderão dar qualidade de vida às pessoas.
De outro modo, teremos a breve trecho quase toda a população à volta dos grandes centros, com todos os problemas sociais daí decorrentes, e acantonada numa estreita faixa litoral, com dois terços do território em abandono que nos envergonha.
Ora isto não é o desenvolvimento equilibrado que se apregoa e nós desejamos.
E, assim, não me parece progresso, antes retrocesso.
Manuel Lopes Martinho
in Notícias de Vouzela, de 10/01/2008

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