Um fim-de-semana na Beira Serra - Pelos Vales do Ceira e do Alva
Encravada entre montanhas, com vales marcados e uma intensa vegetação, não se pode dizer que a região seja de fácil acesso. Mas vale a pena desbravar os caminhos e embrenhar-se pela serra, molhar os pés nos seus regatos, embevecer-se com a paisagem, descobrir as suas povoações ancestrais e conviver com as suas gentes. As ofertas são diversificadas, o encantamento fácil.
Comece o seu fim-de-semana em Góis, vila de pergaminhos, atravesse o Ceira na graciosa ponte medieval e interne-se no casario. Dê uma saltada aos Paços do Concelho para contemplar os tectos de madeira, visite a Igreja Matriz onde pode apreciar o túmulo de D. Luís da Silveira, obra de Diogo Coutinho, Filipe Hodart e João de Ruão. Não lhe faltarão elementos arquitectónicos para contemplar mas sugiro-lhe que usufrua as margens do rio Ceira que lhe oferece um cuidado parque de lazer, praia fluvial e alguns bares de eleição, onde a conversa sussurra por entre o som das águas saltando nos açudes. Poderá depois demandar Arganil ao longo da sinuosa estrada. Detenha-se pela vila o tempo necessário mas não deixe de subir ao Santuário de Montalto, local de devoção e simultaneamente um miradouro privilegiado para contemplar os vales e as montanhas circundantes, a perder de vista. Desça novamente em direcção a Folques e dê uma saltada ao Mosteiro. Com a saída dos monges no século XIX, passou a ser residência de uma família de referência em Arganil, estando actualmente ocupado por uma movimentada escola de formação profissional. Lá dentro poderá encontrar o testemunho destas vivências diversificadas dos últimos séculos, como um rico mobiliário, valiosa gravura antiga, uma cuidada e original biblioteca. Cá fora será fácil perceber todo o trabalho do antigo Mosteiro na rentabilização dos solos agrícolas e na cuidada condução da água para irrigação. Que ainda hoje dão os seus frutos mercê da ocupação agrícola que se mantém. Demande a seguir Côja, pendurada nas encostas de ambos os lados do rio e daí tome caminho para a Mata da Margaraça. Passará por Benfeita, povoação integrada nas chamadas Aldeias de Xisto e ainda por Pardieiros para chegar à Casa Grande da Mata da Margaraça, onde uma exposição cuidada o integrará no espaço a visitar. Relíquia da floresta primitiva portuguesa, a Mata é Reserva Natural classificada ainda como Reserva Biogenética do Conselho da Europa. Percorra os trilhos sinalizados, inebrie-se com os cheiros da vegetação, contemple a luz e as cores de uma floresta única. Quando retomar a estrada para regressar, não se esqueça de parar junto à Fraga da Pena, para contemplar as cascatas de água cristalina, por entre os fraguedos. Não deixará de dar uma saltada ao Piódão, imagem de referência do interior serrano, com o seu casario de xisto alcandorado na encosta. De contactar aí com o artesanato regional e apreciar os genuínos produtos que conferem à gastronomia local uma qualidade invulgar. Mesmo que lamente o panorama desolador da paisagem devastada pelos últimos incêndios... Siga depois em direcção a Avô, uma povoação ancestral como o nome sugere e onde poderá contemplar ainda as imponentes construções das suas casas senhoriais. Daí tome a direcção da Ponte das Três Entradas, uma curiosa construção sobre o Alva que se bifurca e permite três acessos, um local de invulgar beleza. Suba depois a Aldeia das Dez e perca-se nas suas ruas estreitas, com um casario cuidado e que vem sendo recuperado progressivamente ao longo dos últimos tempos. E já agora, porque não organizar-se para aqui fazer uma cuidada e abundante refeição ou até pernoitar no Hotel Rural João Brandão, um projecto cuidado de recuperação arquitectónica e de promoção dos valores, da cultura e da gastronomia local. Abandone lentamente o vale do Alva e suba a encosta em direcção a Oliveira do Hospital, não sem antes se deter no Convento do Desagravo, um imóvel do século XVIII recentemente recuperado para a instalação de uma das mais modernas Pousadas de Portugal. Um local onde pode usufruir da paz e da tranquilidade aliadas ao mais requintado conforto. Oliveira do Hospital vai-lhe exigir tempo para poder contemplar os testemunhos de um rico património, inseridos num tecido urbano que se moderniza e com um significativo dinamismo industrial. Isto para lá de uma intensa actividade cultural e uma forte componente social. Não deixe de procurar Bobadela, uma localidade marcada pela presença romana e que hoje em dia é alvo de um cuidado trabalho de investigação arqueológica e de musealização. Para já poderá encontrar, ainda em fase de exploração, os vestígios de um anfiteatro romano, exemplar único a nível nacional e que, depois de tratado, passará a constituir-se como um dos locais de referência do mundo romano português. E ali mesmo junto à Igreja, imponente na dimensão, está o Arco romano que deveria ter integrado um antigo Fórum. Ao lado, um conjunto de colunas e de inscrições atraem a atenção de qualquer visitante para vestígios que remontam aos séculos I e II. Muito próximo de todo este conjunto, num belo edifício do século XVIII, poderá visitar o Museu Municipal António Simões Saraiva, integrando colecções diversificadas que passam pela etnografia, pela escultura e por diversas curiosidades locais. Antes de deixar a região passe ainda pelo município de Tábua onde vai encontrar um riquíssimo conjunto de casas senhoriais, testemunho da riqueza agrícola e da importância social de outros tempos. Não perca a oportunidade de visitar a Capela da Senhora dos Milagres, setecentista e com uma invulgar planta octogonal. Estou certo de que um fim-de-semana como este o deixará entusiasmado. Despeça-se com uma promessa de regressar. À mesa, saboreando as delícias da gastronomia local, acompanhada por um vinho de eleição como é o vinho do Dão.
Francisco Botelho
in Pessoas e Lugares
Comece o seu fim-de-semana em Góis, vila de pergaminhos, atravesse o Ceira na graciosa ponte medieval e interne-se no casario. Dê uma saltada aos Paços do Concelho para contemplar os tectos de madeira, visite a Igreja Matriz onde pode apreciar o túmulo de D. Luís da Silveira, obra de Diogo Coutinho, Filipe Hodart e João de Ruão. Não lhe faltarão elementos arquitectónicos para contemplar mas sugiro-lhe que usufrua as margens do rio Ceira que lhe oferece um cuidado parque de lazer, praia fluvial e alguns bares de eleição, onde a conversa sussurra por entre o som das águas saltando nos açudes. Poderá depois demandar Arganil ao longo da sinuosa estrada. Detenha-se pela vila o tempo necessário mas não deixe de subir ao Santuário de Montalto, local de devoção e simultaneamente um miradouro privilegiado para contemplar os vales e as montanhas circundantes, a perder de vista. Desça novamente em direcção a Folques e dê uma saltada ao Mosteiro. Com a saída dos monges no século XIX, passou a ser residência de uma família de referência em Arganil, estando actualmente ocupado por uma movimentada escola de formação profissional. Lá dentro poderá encontrar o testemunho destas vivências diversificadas dos últimos séculos, como um rico mobiliário, valiosa gravura antiga, uma cuidada e original biblioteca. Cá fora será fácil perceber todo o trabalho do antigo Mosteiro na rentabilização dos solos agrícolas e na cuidada condução da água para irrigação. Que ainda hoje dão os seus frutos mercê da ocupação agrícola que se mantém. Demande a seguir Côja, pendurada nas encostas de ambos os lados do rio e daí tome caminho para a Mata da Margaraça. Passará por Benfeita, povoação integrada nas chamadas Aldeias de Xisto e ainda por Pardieiros para chegar à Casa Grande da Mata da Margaraça, onde uma exposição cuidada o integrará no espaço a visitar. Relíquia da floresta primitiva portuguesa, a Mata é Reserva Natural classificada ainda como Reserva Biogenética do Conselho da Europa. Percorra os trilhos sinalizados, inebrie-se com os cheiros da vegetação, contemple a luz e as cores de uma floresta única. Quando retomar a estrada para regressar, não se esqueça de parar junto à Fraga da Pena, para contemplar as cascatas de água cristalina, por entre os fraguedos. Não deixará de dar uma saltada ao Piódão, imagem de referência do interior serrano, com o seu casario de xisto alcandorado na encosta. De contactar aí com o artesanato regional e apreciar os genuínos produtos que conferem à gastronomia local uma qualidade invulgar. Mesmo que lamente o panorama desolador da paisagem devastada pelos últimos incêndios... Siga depois em direcção a Avô, uma povoação ancestral como o nome sugere e onde poderá contemplar ainda as imponentes construções das suas casas senhoriais. Daí tome a direcção da Ponte das Três Entradas, uma curiosa construção sobre o Alva que se bifurca e permite três acessos, um local de invulgar beleza. Suba depois a Aldeia das Dez e perca-se nas suas ruas estreitas, com um casario cuidado e que vem sendo recuperado progressivamente ao longo dos últimos tempos. E já agora, porque não organizar-se para aqui fazer uma cuidada e abundante refeição ou até pernoitar no Hotel Rural João Brandão, um projecto cuidado de recuperação arquitectónica e de promoção dos valores, da cultura e da gastronomia local. Abandone lentamente o vale do Alva e suba a encosta em direcção a Oliveira do Hospital, não sem antes se deter no Convento do Desagravo, um imóvel do século XVIII recentemente recuperado para a instalação de uma das mais modernas Pousadas de Portugal. Um local onde pode usufruir da paz e da tranquilidade aliadas ao mais requintado conforto. Oliveira do Hospital vai-lhe exigir tempo para poder contemplar os testemunhos de um rico património, inseridos num tecido urbano que se moderniza e com um significativo dinamismo industrial. Isto para lá de uma intensa actividade cultural e uma forte componente social. Não deixe de procurar Bobadela, uma localidade marcada pela presença romana e que hoje em dia é alvo de um cuidado trabalho de investigação arqueológica e de musealização. Para já poderá encontrar, ainda em fase de exploração, os vestígios de um anfiteatro romano, exemplar único a nível nacional e que, depois de tratado, passará a constituir-se como um dos locais de referência do mundo romano português. E ali mesmo junto à Igreja, imponente na dimensão, está o Arco romano que deveria ter integrado um antigo Fórum. Ao lado, um conjunto de colunas e de inscrições atraem a atenção de qualquer visitante para vestígios que remontam aos séculos I e II. Muito próximo de todo este conjunto, num belo edifício do século XVIII, poderá visitar o Museu Municipal António Simões Saraiva, integrando colecções diversificadas que passam pela etnografia, pela escultura e por diversas curiosidades locais. Antes de deixar a região passe ainda pelo município de Tábua onde vai encontrar um riquíssimo conjunto de casas senhoriais, testemunho da riqueza agrícola e da importância social de outros tempos. Não perca a oportunidade de visitar a Capela da Senhora dos Milagres, setecentista e com uma invulgar planta octogonal. Estou certo de que um fim-de-semana como este o deixará entusiasmado. Despeça-se com uma promessa de regressar. À mesa, saboreando as delícias da gastronomia local, acompanhada por um vinho de eleição como é o vinho do Dão.
Francisco Botelho
in Pessoas e Lugares
Etiquetas: beira serra, góis
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