domingo, 22 de julho de 2007

Os sabores e os saberes em Chã de Alvares

Da III Jornada Cultural da Freguesia de Alvares, ocorrida a 16 de Maio, tal como foi dado a conhecer pela Imprensa, ficou-nos a ideia geral de que o evento começa a ter um impacto e uma aceitação tão apreciáveis, dentro da comunidade, que vão muito para além dos festejos tradicionais, com a larga vantagem de ficar bem mais económico. O aspecto inovador da diversão (que não se limitou ao habitual bailarico), coloca-se na oportunidade que ofereceu aos novos talentos de se mostrarem, o que cria uma motivação suplementar no seio das gentes, proporcionando assim uma interacção entre as pessoas.
Acresce ainda que, este tipo de eventos, tem a particularidade de abrir novos espaços para uma abordagem e aprofundamento da cidadania (coisa pouco apetecível entre nós) com inflexões meramente culturais que, por manifesta falta de hábito, descambam sempre para a habitual e enfandonha "politiquice", onde moram as arreigadas ideias do bairrismo do "pé da porta". Muito embora já se vá notando um novo arejamento nas mentes e no modo de se expressar em que, coloca o tema a um nível regional, o que é de louvar.
Começa, deste modo, a ser trilhado um novo caminho para a divulgação dos nossos "sabores e saberes", montra onde podem ser expostos os nossos produtos gastronómicos (que se estão a perder)como sejam: o buxo à moda de Alvares, a sopa seca, o picado (tipo arroz de cabidela), o aferventado, as papas de milho, a tibornada (substituída e adulterada pelo bacalhau com batata a murro). Estes pratos, bem como outras iguarias, fazem parte duma ementa popular regional, os quais não se encontram nos cardápios dos restaurantes da região, nem são conhecidos dos mais jovens. Todos nós sabemos como eles marcam a memória dos jovens!
O espaço reservado à poesia foi tímido e muito acanhado (com poucas intervenções), donde se pode concluir que este campo não faz parte da nossa vivência cultural, o que não corresponde à verdade. Basta pensar na poesia popular, nas cantigas de escárnio e mal dizer; ou nas mais exuberantes e espontâneas desgarradas que tiveram grandes protagonistas no nosso meio. As pequenas leituras do jograis, também fazem parte do nosso legado cultural e, por fim, a música das concertinas que pode vir a ser uma imagem de marca da região. Será que ainda ninguém pensou nisto?
O que tem sido feito, neste domínio, já foi muito bom, há que reconhecê-lo. Agora falta dar o salto qualitativo. Não estamos a falar das arruadas, ou das grandes concentrações, estamos a pensar num outro patamar que pode ser alcançado... o qual deve ter visibilidade e um outro tipo de apoio. Esta geração de músicos autodidactas, merece-o. É um assunto que nos toca de perto porque entendemos que os seus protagonistas podem vir a ser os melhores embaixadores da nossa região. Basta olhar à nossa volta... para se entender que não temos melhor. E enquanto nós não aproveitamos o que é nosso, outros... chamam-lhe um "figo"!
Voltando ao evento ocorrido, gostaríamos de acrescentar que, não obstante as péssimas condições meteorológicas pouco habituais para a época, ele conseguiu atrair muita gente da freguesia ao local, para além das seis colectividades que se fizeram representar, dando mostras de que, aos poucos, se vai assimilando a ideia de que estas concentrações devem ter o nome e o patrocínio da região, ainda que a organização seja apenas duma colectividade. Seria bom que outras colectividades se candidatassem para o próximo evento, o que daria a noção de maior capacidade de realização e uma efectiva descentralização.
Não podemos deixar de concordar com a tónica dada pelo presidente da colectividade anfitriã, que ia no sentido da partilha de todos por todos, a qual se enquadra na linha de pensamento que temos vindo a desenvolver.
Adriano Pacheco
in O Varzeense, de 15/07/2007 e Jornal de Arganil, de 19/07/2007

Etiquetas: ,