quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

A "guerra política" que se lê nas actas da Câmara

Um movimento cívico foi às actas da câmara buscar sustento para “apontar o dedo” às divisões, na maioria PS da câmara, que estão a “prejudicar” o concelho.

O movimento “Cidadãos por Góis” está preocupado com a situação na câmara. Por isso, foi ler as actas das reuniões do executivo para analisar a polémica questões-chave em torno da utilização da Quinta do Baião. No final, deixa quatro perguntas em aberto: Estarão, pelas autoridades competentes, a ser conveniente defendidos os interesses públicos de Góis? Presidente e vereadores da maioria colaboram entre si ou, cada um, trilha o seu caminho? Está o poder político a ceder ao poder económico? Interessa ao bem público a “guerra” entre câmara e a Adiber, ou entre a Adiber e a câmara?
Em concreto, o movimento “Cidadãos por Góis” relata as intervenções feitas na câmara, sobre a pretensão da firma Alves Bandeira de abrir uma gasolineira na Quinta do Baião – entre entre as EN 2 e 342, logo à saída da ponte nova e servindo de acesso ao circuito de manutenção e aos motards. Assim, os vereadores Diamantino Garcia (PS) e Graça Aleixo (PSD) sustentaram o interesse público da transferência do posto de combustíveis, dado que o actual, dentro da vila, “verá as suas portas encerradas muito em breve devido a imposições legais”. Contudo, ambos discordaram da localização pretendida. Garcia, aliás, afirmou não “imaginar outro fim para a Quinta do Baião que não o de actividade de lazer”, no que foi secundado por Helena Moniz (também do PS e “sucessora” daquele, na vice-presidência da câmara).

Gasolineira na Quinta do Baião
Na altura, segundo os “Cidadãos por Góis”, José Girão Vitorino mostrou compreender as opiniões, mas considerou que “vai ser difícil encontrar uma localização alternativa na EN2 que satisfaça de igual modo o município e o empresário”. Em resposta, Diamantino Garcia sugeriu um local junto da EN2, perto do Pólo Industrial da Alagoa, mas não houve deliberação alguma.
O assunto regressou em Dezembro à câmara, com a vereadora Graça Aleixo a lembrar que, ao Executivo, cabe agora o “reconhecimento do interesse público da instalação e a inexistência de alternativa com os requisitos referidos”. Diamantino Garcia retorquiu: “dificilmente se poderia escolher localização mais inadequada que poderá comprometer a utilização futura de toda aquela zona”. E no mesmo sentido se pronunciou Helena Moniz.
A finalizar, o presidente da câmara lembrou que Cassiano Alves Bandeira é oriundo de Góis e “tem colaborado com a cedência de terrenos para vários projectos”. Para além disso, dá trabalho a várias pessoas do concelho. “Por isso, desde que não haja impedimentos de ordem legal [Girão Vitorino] votaria favoravelmente o pedido apresentado”, reproduz a acta. Daí que a deliberação registe a aceitação da proposta da Alves Bandeira, com votos favoráveis do presidente (PS) e dos vereadores Daniel Neves e Graça Aleixo (PSD) e abstenções de Helena Moniz e Diamantino Garcia.
“Inacreditavelmente um projecto que se pretende instalar em plena Reserva Agrícola Nacional, já que o promotor do projecto impõe a sua localização, tendo para isso que se levantar um mais que duvidoso interesse público, com os votos do presidente da câmara e… dos vereadores da oposição”, comenta o movimento “Cidadãos por Góis”.

Hotel rural e a Adiber
Noutro passo, o movimento disseca a proposta, analisada pela câmara em Janeiro de 2007, de construir, na Quinta do Baião, um hotel rural e um centro de eventos. O interesse foi manifestado pelas empresas FTP e Eniol. “O executivo concluiu que ambas as propostas eram muito vagas e ausentes de informação fundamental e precisa”, lê-se na acta, onde ficicou expressa a solicitação de “propostas mais pormenorizadas e mais ricas em termos de informação”.
Logo na altura, Diamantino Garcia lamentou que, “agora que existem dois interessados em construir em Góis um hotel”, tal seja posto em causa devido ao atraso que iria ser provocado por um concurso público”. Helena Moniz concordou, mas sublinhando ser “muito importante que se resolva a questão da venda, ou não, do terreno à Adiber”. Também Girão Vitorino mostrou a sua “preocupação relativamente a um assunto tão grave e que se arrasta há cerca de oito anos, um entrave ao desenvolvimento turístico e económico do concelho e à aprovação do Plano de Pormenor da Quinta do Baião”.
Para o movimento “Cidadãos por Góis”, esta é mais uma prova de que o concelho está aqui perante as lutas internas entre facções comandadas pelo do PS – câmara versus Adiber – Adiber versus câmara – com manifesto prejuízo do bem público”.
in Diário As Beiras, de 21/02/2007