sábado, 3 de fevereiro de 2007

Conhecer Góis 2


Uma abordagem do passado 1

Vestígios antigos indicam-nos que a região de Góis foi frequentada por romanos e outros povos que estiveram na Lusitânia. Calçadas, talvez de hipotéticas rotas de mercadorias, ligando Tomar a Bobadela ou a caminho do interior da Península, e alguns achados arqueológicos, embora não muitos, encontrados por aqui e ali, como candeias, ânforas e mós, ou aras votivas, moedas e brincos de ouro, a isso levam a crer. As nossas minas certamente tê-los-ão atraído, mas não se sabe se chegado a manter uma povoação com estabilidade.

Provavelmente a um desses povos remotos (do tempo dos “mouros”, como em linguagem popular são referidos os nossos antepassados antigos), se deva a origem da própria palavra Góis, um topónimo que existe em apenas mais três povoações na Europa ocidental, uma em França, outra na Áustria e uma terceira na Holanda, locais onde já tivemos ocasião de conviver com os nossos irmãos goienses. Há quem sugira que o topónimo Góis tenha origem goda, mas há outros também que esgrimem argumentos a favor da latina.

Aquando da reconquista cristã, a região encontrava-se despovoada. É natural que os indígenas estivessem refugiados nas montanhas, fugindo das sucessivas invasões e lutas travadas. Mas é dessa altura que possuímos elementos concretos que nos permitem assinalar no tempo a constituição do embrião do concelho de Góis.

De facto, por documentos escritos, sabe-se que D. Teresa, então viúva do Conde D. Henrique e tendo a seu cargo a governação do Condado Portucalense, sendo o seu filho Afonso Henriques ainda uma criança, doa os domínios de Goes (como então se escrevia) a Anaia Vestrares. E fá-lo isso exactamente com o intuito de ele fazer o seu povoamento (referindo que se encontrava despovoado), de modo a fortalecer a defesa contra os infiéis, na reconquista das terras usurpadas. A data deste documento de doação, 15 de Agosto, é o motivo da opção do Dia do Município, que festejamos nos tempos actuais.

Constitui-se assim um senhorio, na base de uma concessão a título hereditário, que iria prosseguir numa linhagem contínua, passando de geração em geração, até ao liberalismo, no século XIX, quando então é decretado o fim do regime geral dos senhorios. Ao longo de oito séculos, os donatários unem-se pelo matrimónio a outras famílias notáveis do reino, passam por algumas turbulências e lutas violentas, mas resistindo sempre. E vão ter posição de destaque na História do nosso país, quer na Idade Média, quer na Moderna.
João Nogueira Ramos
in www.portaldomovimento.com