Conhecer Góis 1
Um olhar sobre a geografia humana
Num espaço de quase 264 Km2, no interior da Beira Litoral, afeiçoados à serra mas em parte ligados ao meio citadino, quer a Coimbra, quer a Lisboa, residem cerca de 5000 almas, na esperança de ainda poderem assistir à inversão da taxa decrescente populacional, que o concelho sofreu no seu passado recente.
Olhando do alto, uma linha de alturas evidencia uma divisão em duas áreas distintas, geográfica e socialmente díspares, que o poder central decidiu unir, numa visão economicista, contrariando a História, as leis da natureza e os desejos dos seus autóctones. Uma junção mais que união de facto, que muito veio condicionar o desenvolvimento social, económico e cultural desta mini – região .
A parte norte, o núcleo primitivo do concelho, faz parte da bacia hidrográfica do Mondego, unida pelo rio Ceira, que atravessa todas as suas freguesias. Insere-se na denominada Beira Serra, nos contrafortes sul da Serra da Estrela, à sombra da Serra do Açor. Em parceria histórica com o concelho vizinho de Arganil, e em parte com os de Tábua e Pampilhosa da Serra, com eles compartilhou divisões administrativas e judiciais, e conviveu economicamente e socialmente. Foi desta área que se gerou o primitivo concelho de Góis, foi dali que, ao longo do tempo, se moldou a alma goiense.
A freguesia de Góis é uma amálgama de diferentes sociedades.
Na sede, única vila do concelho, reside praticamente um sexto da população, um extracto social intermédio entre camponeses e citadinos, constituído sobretudo pelo tecido terciário, de funcionários, comerciantes e profissões liberais. Com um comportamento contraditório, característico de vila do nosso interior, por lado sendo proletários, isto é, vivendo da sua actividade profissional, por outro comportando-se como burgueses. Permanece ainda, pela força do costume, algo de espírito senhorial, de que o poder municipal, vindo de fora, tem querido apropriar-se.
Uma boa parte dos que aqui trabalham são forasteiros e pouco inseridos na sociedade local. Por isso, quem desejar conhecer a genuína sociedade goiense, mais facilmente a encontrará nos subúrbios da vila.
Nas povoações periféricas, das chãs às meias encostas dos montes que a envolvem, labuta uma classe que, embora movendo-se em torno da vila e por ela sendo atraída, não tem perdido as suas características aldeãs e algumas das suas tradições.
Ponte do Sotam é, nesta freguesia, uma excepção. Outrora genuína povoação de operariado, consequência de uma grande indústria local centenária, que a marcaria ao longo de várias gerações, vive hoje a amargura de uma alteração radical, económica e social, do seu aglomerado. Os seus naturais são um exemplo vivo de luta tenaz contra a adversidade e as alterações de vida.
A freguesia de Vila Nova do Ceira é ainda senhora de arreigado espírito comunitário, de vida social coesa, de forte personalidade. A “pertença” paroquial que todos sentem, espelha-se quando se lhes pergunta donde são: invariavelmente respondem que são “da Várzea”, e só depois, se necessário, explicitam o nome da sua povoação natal.
As freguesias do Cadafaz e Colmeal, tipicamente serranas, com as aldeias dispersas, onde é mais forte a simbiose entre as gentes e a natureza e é mais elevada a faixa etária. O seu isolamento, pelo acidentado do terreno e ausência de vias de comunicação, contribuiu para uma diversidade de valores culturais, dificultando ao mesmo tempo uma agregação de vontades e de esforços, na luta pelo seu desenvolvimento.
A parte sul, que se juntou em meados do século XIX, preenchida na sua totalidade pela freguesia de Alvares, está inserida na bacia hidrográfica do Zêzere e encontra-se voltada para a região baixa das Beiras, onde outrora terá pertencido administrativamente. A Beira Serra pouco lhe diz.
Com o centro de gravidade puxado bem a sul, onde se situa a sua sede e o grosso da população, distante da capital administrativa, a sua inserção no novo concelho não tem sido fácil, com o coração balançando entre Góis e os concelhos vizinhos.
Tendo sido a freguesia capital de um concelho desmembrado, igualmente muito antigo e com pergaminhos, com a sua própria História, a perda da identidade concelhia deixou-lhe marcas profundas.
Duas povoações, Alvares e Cortes, concentram cerca de 30 % da população da freguesia.
João Nogueira Ramos
in www.portaldomovimento.com
Num espaço de quase 264 Km2, no interior da Beira Litoral, afeiçoados à serra mas em parte ligados ao meio citadino, quer a Coimbra, quer a Lisboa, residem cerca de 5000 almas, na esperança de ainda poderem assistir à inversão da taxa decrescente populacional, que o concelho sofreu no seu passado recente.
Olhando do alto, uma linha de alturas evidencia uma divisão em duas áreas distintas, geográfica e socialmente díspares, que o poder central decidiu unir, numa visão economicista, contrariando a História, as leis da natureza e os desejos dos seus autóctones. Uma junção mais que união de facto, que muito veio condicionar o desenvolvimento social, económico e cultural desta mini – região .
A parte norte, o núcleo primitivo do concelho, faz parte da bacia hidrográfica do Mondego, unida pelo rio Ceira, que atravessa todas as suas freguesias. Insere-se na denominada Beira Serra, nos contrafortes sul da Serra da Estrela, à sombra da Serra do Açor. Em parceria histórica com o concelho vizinho de Arganil, e em parte com os de Tábua e Pampilhosa da Serra, com eles compartilhou divisões administrativas e judiciais, e conviveu economicamente e socialmente. Foi desta área que se gerou o primitivo concelho de Góis, foi dali que, ao longo do tempo, se moldou a alma goiense.
A freguesia de Góis é uma amálgama de diferentes sociedades.
Na sede, única vila do concelho, reside praticamente um sexto da população, um extracto social intermédio entre camponeses e citadinos, constituído sobretudo pelo tecido terciário, de funcionários, comerciantes e profissões liberais. Com um comportamento contraditório, característico de vila do nosso interior, por lado sendo proletários, isto é, vivendo da sua actividade profissional, por outro comportando-se como burgueses. Permanece ainda, pela força do costume, algo de espírito senhorial, de que o poder municipal, vindo de fora, tem querido apropriar-se.
Uma boa parte dos que aqui trabalham são forasteiros e pouco inseridos na sociedade local. Por isso, quem desejar conhecer a genuína sociedade goiense, mais facilmente a encontrará nos subúrbios da vila.
Nas povoações periféricas, das chãs às meias encostas dos montes que a envolvem, labuta uma classe que, embora movendo-se em torno da vila e por ela sendo atraída, não tem perdido as suas características aldeãs e algumas das suas tradições.
Ponte do Sotam é, nesta freguesia, uma excepção. Outrora genuína povoação de operariado, consequência de uma grande indústria local centenária, que a marcaria ao longo de várias gerações, vive hoje a amargura de uma alteração radical, económica e social, do seu aglomerado. Os seus naturais são um exemplo vivo de luta tenaz contra a adversidade e as alterações de vida.
A freguesia de Vila Nova do Ceira é ainda senhora de arreigado espírito comunitário, de vida social coesa, de forte personalidade. A “pertença” paroquial que todos sentem, espelha-se quando se lhes pergunta donde são: invariavelmente respondem que são “da Várzea”, e só depois, se necessário, explicitam o nome da sua povoação natal.
As freguesias do Cadafaz e Colmeal, tipicamente serranas, com as aldeias dispersas, onde é mais forte a simbiose entre as gentes e a natureza e é mais elevada a faixa etária. O seu isolamento, pelo acidentado do terreno e ausência de vias de comunicação, contribuiu para uma diversidade de valores culturais, dificultando ao mesmo tempo uma agregação de vontades e de esforços, na luta pelo seu desenvolvimento.
A parte sul, que se juntou em meados do século XIX, preenchida na sua totalidade pela freguesia de Alvares, está inserida na bacia hidrográfica do Zêzere e encontra-se voltada para a região baixa das Beiras, onde outrora terá pertencido administrativamente. A Beira Serra pouco lhe diz.
Com o centro de gravidade puxado bem a sul, onde se situa a sua sede e o grosso da população, distante da capital administrativa, a sua inserção no novo concelho não tem sido fácil, com o coração balançando entre Góis e os concelhos vizinhos.
Tendo sido a freguesia capital de um concelho desmembrado, igualmente muito antigo e com pergaminhos, com a sua própria História, a perda da identidade concelhia deixou-lhe marcas profundas.
Duas povoações, Alvares e Cortes, concentram cerca de 30 % da população da freguesia.
João Nogueira Ramos
in www.portaldomovimento.com
Etiquetas: alvares, cadafaz, colmeal, fotografia, góis, vila nova do ceira
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