segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Aldeias do Xisto vivem Carnaval à moda antiga

Algumas aldeias de xisto da Serra da Lousã revivem, amanhã, o Carnaval à moda antiga. Os foliões apenas precisam de roupa velha, instrumentos barulhentos, uma máscara e boa disposição para percorrer as várias aldeias.

É apenas necessária boa disposição e alguns artefactos que, em tempos passados, se usavem para celebrar o Carnaval. Não são necessários acessórios ou fatos elaborados, apenas roupa velha, alguns utensílios que façam muito barulho e algo para tapar a cara para manter o anonimato dos foliões. São estes os ingredientes para o Entrudo nas Aldeias de Xisto da Serra da Lousã que a Lousitânea, Liga de Amigos da Serra da Lousã, promove amanhã, dia de Carnaval, em algumas aldeias de xisto dos concelhos de Castanheira de Pêra, Góis e Lousã.
O objectivo é celebrar o Carnaval à moda antiga, bem longe das folias brasileiras que cada vez mais invadem o Carnaval português. A iniciativa dirigi-se, essencialmente, aos habitantes e descendentes das aldeias de Candal, Cerdeira, Coentral, Aigra Nova, Aigra Velha, Pena e Comareira, pertencentes aos concelhos de Castanheira de Pêra, Góis e Lousã, mas todos os outros interessados são bem vindos, desde que venham com boa disposição e espírito carnavalesco. «Pretendemos o convívio entre a população que ainda vibe nestas aldeias», explica Sandra Marques, da Lousitânea, lembrando que as aldeias em causa «estão praticamente abandonadas», pelo que é necessário «tentar animar as pessoas que ainda lá vivem e chamar outras pessoas a conhecer estes locais».

Entrudo simples mas animado

Antigamente nestas aldeias o Entrudo era vivido de uma forma muito simples. Os foliões procuravam roupa e objectos velhos, algo que ocultasse os rostos e de seguida «brincava-se» com corridas às aldeias vizinhas, onde tudo, ou quase tudo, era permitido: declamavam-se quadras jocosas sobre os habitantes, atormentavam-se as velhas, seduziam-se as mais novas. «Os homens mascaravam-se de velhas e as mulheres ficavam em casa. Os mascarados faziam corridas pelas aldeias, dizendo mas de tudo e de todos e fazendo muito barulho», explica Sandra Marques. Um espírito que a Lousitânea pretende reviver amanhã, mas desta vez, com entrada também permitida às mulheres.
O programa tem início marcado para as 9H30, com o encontro dos habitantes das aldeias do Talasnal, Cerdeira, Chiqueiro e demais participantes na aldeia do Candal. Aqui vai haver folia, corridas para assustar os habitantes mais envergonhados, declamação de quadras jocosas e concertinas. Uma hora depois os foliões rumam ao Coentral Grande, onde se repete a animação, agora com mais participantes que se vão juntando à festa. Daqui a comitiva ruma a Aigra Nova, com passagem por Aigra Velha e Comareira para possibilitar a entrada de novos participantes. Repete-se a animação, culminando o evento com um almoço em Aigra Nova, composto à base de caldo verde, porco no espeto, broa, castanhas assadas e vinho. Tem então início o bailarico.
A iniciativa deu os primeiros passos no ano passado e este ano repete-se, esperando a organização, muitos mais foliões, tendo em conta que na primeira edição do Entrudo nas aldeias de xisto, não houve divulgação do evento. «Este ano vai ser melhor», garante Sandra Marques, convicta que a festa vai permitir não só garantir animação e convívio aos poucos habitantes que ainda residem nas aldeias de xisto, mas também promover as próprias aldeias. As inscrições estão a decorrer a bom ritmo e já há presenças garantidas de vários pontos do país. Quem quiser participar tem apenas que fazer a inscrição junto da Lousitânea, pelos telefones 235778644 ou 966423677. A participação é gratuita e inclui almoço até ao n.º de 100 pessoas. A partir desse número a refeição terá de ser paga. Os participantes terão de levar roupa apropriada ao entrudo, artefactos que produzam sons estridentes e boa disposição.
in Diário de Coimbra, de 19/02/2007