sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Violência doméstica em análise, em Alvares

"Educar para o afecto", foi o tema em debate no Lar de São Mateus, em Alvares. Uma iniciativa do Centro Paroquial de Solidariedade Social que se centrou na violência doméstica e factores que a motivam. Clara foi a ideia do crime que importa denunciar.
Lurdes Castanheira afirmou que «tudo o que tem a ver com violência doméstica é considerado crime público», como tal «as forças de segurança são os nossos principais parceiros e a ele devemos recorrer sempre que sabemos que alguém é vítima de violência, maus tratos ou assédio». «Seja que tipo de violência for deve ser sempre denunciada», reforçou a vice-presidente do Centro Paroquial. Por seu lado o padre Ramiro Moreiro deixou alguns dados do relatório da Amnistia Internacional relativamente à violência contra as mulheres. Segundo o presidente do Centro Paroquial foram denunciados à PSP e à GNR mais de 18 mil casos, tendo sido mortas pelos seus companheiros e maridos 33 mulheres e 12 perderam a vida nos primeiros cinco meses do ano. E como há muitos casos que não são denunciados, «não é possível saber quais são realmente os verdadeiros números».
Catarina Bastos, soldado da GNR em Góis sublinhou que a «GNR está aqui para ajudar», pois recordou «é crime público a violência contra crianças, idosos e conjugues». Por isso reforçou a ideia que quando «temos conhecimento de qualquer tipo de violência doméstica, temos de efectuar a denúncia. É um dever cívico, não têm de ter vergonha ou medo», adiantou.
O enfermeiro Vítor Marques, do Centro de Saúde de Góis, desenvolveu o tema "Violência e maus tratos no idoso", avançando dados da Associação Portuguesa de Apoio à Vida relativamente a Lisboa e Porto, que nos últimos cinco anos atendeu cerca de 2500 idosos. Números que, uma vez mais, o medo e a vergonha inibem. A violência aos idosos é praticada por companheiros ou filhos e a grande maioria das vítimas é do sexo feminino. De acordo com Vítor Marques, o «cansaço, isolamento social, medo, angústia, ansiedade, são factores potenciadores da violência e maus tratos, para além da tristeza e sofrimento de relacionamentos anteriores».
Bruna Fernandes falou dos vários tipos de violência, nomeadamente física, psicológica, verbal, sexual, doméstica, contra a mulher, infantil e contra idosos. De acordo com esta técnica especialista em "Igualdade de género", «há mais mulheres a morrer em Portugal devido a violência doméstica do que ao andar na estrada». Bruna Fernandes referiu-se também aos motivos que levam à não formalização de uma queixa. «Muitas vezes a mulher tem medo das represálias, tem filhos e não sabe o que fazer, é dependente economicamente e depois há a vergonha e a humilhação por passar por um processo de divórcio».
Anabela Mateus falou sobre violência conjugal e aproveitou para lembrar os locais onde pode ser efectuada a quaixa por violência doméstica, nomeadamente, no Ministério Público, tribunal da área onde foi praticado o crime, PSP, GNR, PJ; Instituto de Medicina Legal, sendo o prazo para apresentar a queixa de seis meses a partir da prática do crime.
No final do debate, realizado quarta-feira à tarde, Lurdes Castanheira, salientou o papel da escola e da família, enquanto veículos de transmissão de conhecimento e valores, que passam sobretudo por «respeitar a singularidade das pessoas». O padre Ramiro Moreira lembrou que se deve «educar para o afecto», procurando sempre respeitar o outro.
in Diário de Coimbra, de 24/11/2006

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