segunda-feira, 20 de novembro de 2006

A reciclagem

Cada português produz, em média, cerca de 450 quilos de lixo por ano. Muito mais do que no tempo dos nossos avós e, sobretudo, muito mais diversificado. No entanto, pensamos pouco nisso. Talvez uma vez por dia, quando chega a hora de sair de casa para o ir colocar no contentor... Mas alguma vez pensamos que, à mesma hora, milhares de pessoas em Portugal cumprem o mesmo ritual? E que diariamente, em todo o Mundo, milhões de pessoas atiram para o lixo milhares de toneladas de produtos que não precisam?

No tempo dos nossos avós, o lixo era essencialmente doméstico, biodegradável, utilizado como adubo nas zonas rurais ou depositado em lixeiras nas áreas urbanas.
Hoje o lixo é mais variado. Além dos restos de alimentos, temos embalagens, produtos de higiene e limpeza, pilhas, insecticidas, detergentes, medicamentos, óleos, mobílias e electrodomésticos que deixámos de utilizar e uma parafernália de pequenas ninharias ou monos que, não tendo qualquer utilidade, um dia acabam no caixote do lixo. Lembremo-nos, por exemplo, da época de Natal. Quantos presentes inúteis damos e recebemos? Quanto papel e embalagens se acumulam desnecessariamente, deixando no dia seguinte as cidades com um aspecto deplorável?
A maior parte do lixo que produzimos é enterrado ou queimado, mas ambas as opções têm consequências nefastas em termos ambientais. A solução será, obrigatoriamente, tomar medidas para produzir menos lixo. Para o conseguir, será necessário aplicar aquilo a que se convencionou chamar a "prática dos 3 R": Reduzir, Reutilizar e Reciclar.
Em primeiro lugar é preciso REDUZIR o lixo que produzimos. Cerca de 1,5 quilos por pessoa, diariamente, é muito lixo! Por isso, o melhor é mesmo pensar em produzir menos lixo. Para o fazer, é preciso estar mais atento na altura de ir às compras. Tudo o que comprarmos produziu lixo na sua produção, produz lixo na sua utilização e vai produzir lixo na sua "morte". Por isso, antes de comprar interrogue-se: Precisarei mesmo deste produto? Não o poderei substituir por outro que "faça menos lixo"? E nunca esqueça que um bom critério de escolha é a durabilidade dos produtos. Já agora, utilize nas compras no supermecado sacos de pano em vez de sacos de plástico.
O segundo passo para reduzir o lixo é saber REUTILIZAR. Há muitos produtos que podem, total ou parcialmente, ser reutilizados, o que pode constituir outro critério de escolha. É o caso, por exemplo, das pilhas recarregáveis ou de detergentes e produtos de higiene com recargas, que permitem a reutilização das embalagens. Por outro lado, quando acabamos de ler um livro, temos uma peça de roupa que já não nos serve ou um brinquedo que o nosso filho deixou de apreciar, não é preciso mandá-los para o lixo. Ofereça-os a alguém ou a uma instituição de solidariedade social.
Embora lentamente, os consumidores vão despertando para a necessidade de alterarem os seus comportamentos de molde a reduzir o desperdício e o súpérfulo. Há, porém, produtos que não podendo ser utilizados eternamente (um anuário, uma garrafa de plástico ou uma lata de conservas, por exemplo), são feitos com materiais que podem ser reutilizados. Chama-se a isso RECICLAR.
Dizia Lavoisier que "nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Muitos especialistas afirmam que tudo o que consumimos e utilizamos pode ser reciclado. Estamos, porém, ainda longe dessa situação ideal. Por isso, com os pés bem assentes na terra, tentemos perceber a reciclagem dos nossos dias.

O que é a RECICLAGEM?
É criar, a partir dos resíduos, nova matéria-prima para produzir novos materiais, poupando recursos naturais e energéticos. Ou seja, criar coisas novas a partir de coisas velhas e sem préstimo.
Ao contrário do que muitos ainda pensam, produtos reciclados não são sinónimo de produtos caros vendidos em lojas especializadas, para consumidores endinheirados. Afinal, todos os dias, mesmo sem que disso nos apercebamos, manuseamos objectos que foram produzidos graças à reciclagem de vidro, plástico, madeira ou papel. E em electrodomésticos como o esquentador ou o fogão, ou mesmo no automóvel, podemos encontrar peças produzidas a partir das latas de conserva que foram colocadas nos Ecopontos.
Como se vê, cada um de nós pode participar no processo de reciclagem. Basta que em casa separemos os lixos correctamente e depois os coloquemos nos locais apropriados, onde serão recolhidos e transportados até às unidades de reciclagem. O processo não exige grandes sacrifícios... apenas um pouco de boa vontade e consciência cívica.

Reciclar é poupar
O jornal que lemos pela manhã, a embalagem de plástico do sumo que tomanos ao pequeno-almoço ou o copo de vidro que utilizamos, foram fabricados com produtos naturais, que não são inesgotáveis. Mas se incorporarmos papel reciclado na produção de papel de jornal, papel higiénico, guardanapos ou caixas de cartão, estamos a poupar milhares de árvores. A reciclagem do plástico, por sua vez, permite produzir peças para automóveis, um vaso, um tubo para canalização ou mesmo uma mesa de jardim. E para termos uma ideia das vantagens em reciclar vidro, basta dizer que comparando a produção de uma tonelada de vidro obtido através de matérias-primas, com uma tonelada de vidro reciclado, chega-se à conclusão que é possível poupar 50% do consumo de água e 1300 quilos de areia!
A extração de petróleo, o abate de árvores, a exploração de minérios e a transformação dessas matérias-primas em produtos produzidos nas fábricas exige o dispêndio de muita energia. A reciclagem permite poupar energia por duas vias: por um lado, reduzindo a energia necessária para a extracção de novas matérias-primas e, por outro lado, permitindo que as fábricas consumam menos, pois é mais barato transformar materiais reciclados em produtos novos do que obtê-los a partir de matérias-primas virgens. Dois exemplos: 1 tonelada de vidro ou papel reciclado permite poupar 30% de energia e uma lata (de alumínio) de conserva produzida a partir de matérias-primas consome 20 vezes mais energia do que a fabricada com materiais reciclados.
A reciclagem contribui também para diminuir a poluição ambiental, com efeitos benéficos no ar que respiramos e na água dos rios. Uma lata de alumínio feita com material reciclado produz menos 95% de contaminação atmosférica do que com matéria-prima; por cada tonelada de papel evita-se o tratamento com produtos químicos de 25 mil litros de água; o fabrico de uma tonelada de vidro reciclado reduz a poluição ambiental em cerca de 90%.
Finalmente, reciclar significa menos resíduos a irem para os aterros sanitários e uma vida mais longa para estes "equipamentos".

Separação de lixos domésticos
É nesta fase que o papel de cada um de nós é determinante no processo de reciclagem. Só procedendo à separação correcta dos lixos domésticos é possível às autarquias fazerem a recolha selectiva.
O sistema não é uniforme em todas as autarquias, pelo que o exemplo que se segue aplica-se às autarquias que disponibilizam aos cidadãos os Ecopontos.
O processo inicia-se com a separação em casa. Fundamentalmente, o que vai separar são embalagens (vidro, madeira, plástico e metal) e papel. Para isso, o mais indicado é fazer a separação prévia dos seus lixos domésticos, utilizando os pequenos ecopontos domésticos, cuja venda está já vulgarizada, ou recorrendo a sacos de cores idênticas aos dos contentores instalados na rua. Cada material deve ser colocado no recipiente de cor respectiva, mas antes proceda do seguinte modo:

Espalme e esvazie as embalagens.
Retire as tampas e rolhas.
Remova rótulos e etiquetas.


Agora, sim, pode começar a colocar as diferentes embalagens nos recipientes:

Amarelo: Plásticos (garrafas e garrafões de água, refrigerantes, detergentes e óleos alimentares); sacos de plástico e esferovite.
Não deposite: embalagens de margarina e manteiga ou de produtos tóxicos e perigosos.
Metais: latas de bebidas, de conserva, tabuleiros de alumínio e aerossóis.
Não deposite: electrodomésticos, pilhas e baterias, tachos, panelas, talheres e ferramentos.

Verde: Vidro (garrafas, garrafões, frascos e boiões).
Não deposite: loiças, cerâmicas, janelas, vidros, espelhos ou lâmpadas.

Azul: Papel e cartão (embalagens de cereais, bolachas, etc.; sacos de papel, papel de embrulho, jornais e revistas, papel comum de escrita, sobrescritos). Quando quiser depositar embalagens de cartão para sumos, leite ou outros alimentos líquidos, deve conhecer o procedimento seguido na sua autarquia, pois algumas querem que sejam depositadas no contentor azul e outras no amarelo. Trata-se de questões técnicas de que a autarquia o deve informar.
Não deposite: embalagens de cartão com gordura, sacos de cimento, embalagens de produtos químicos, papel de alumínio, papel autocolante, papel de cozinha, guardanapos e lenços de papel sujo; toalhetes e fraldas.

Estes são apenas exemplos de reciclagem de residuos domésticos. No entanto, quase tudo é reciclável. Vidro, papel, cartão, pilhas (algumas autarquias fazem a sua recolha em pilhómetros) e metais não ferrosos, como as latas de a´lumínio, representam a maior fatia (cerca de 45%) dos resíduos sólidos urbanos produzidos anualmente, o que justifica uma maior aposta das empresas e autarquias na reciclagem destes produtos.
Quando se fala de reciclagem, a maioria dos consumidores associa o termo a separação de lixos domésticos, mas esse é um conceito errado, pois, em casa o lixo que separamos é, quase na totalidade, constituído por embalagens. Em Portugal faz-se a reciclagem de muitos materiais mas não a sua recolha doméstica, daí a noção errada que a maioria das pessoas tem acerca deste conceito.

Fechar o círculo
Se pensa que cumpriu o seu dever reduzindo os seus consumos, reutilizando alguns produtos ou adquirindo outros que podem ser reutilizados (como as pilhas recarregáveis, por exemplo) e separando os lixos domésticos de forma a poderem ser reciclados, lamentamos dizer-lhe mas ainda não fez tudo o que está ao seu alcance para encorajar o desenvolvimento e aperfeiçoamento da reciclagem. O que falta então? Comprar produtos reciclados! Só assim se fecha o círculo da reciclagem.
Carlos Barbosa de Oliveira
in revista Formar, n.º 55

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1 Comments:

Blogger Raquel said...

eu acho que isto esta muito bem feito e tuda a gente devia vir ver as verdades ,porque o nosso planeta cada fez esta mais puloido

14 abril, 2008 21:01  

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