REGIONALISMO - 50 anos depois, os mesmos métodos
Acabaram-se as férias e o tempo começou já a arrefecer, verificando-se mesmo o cair das primeiras chuvas, altura ideal para o recomeço da actividade regionalista das nossas colectividades, muito especialmente das suas festas e encontros de confraternização, em que, geralmente, são comemorados os aniversários destas prestigiosas agremiações.
Foi há mais de meio século que surgiu esse movimento que viria a estender-se, quase como contágio, à maioria das povoações que constituem os concelhos de Góis, Arganil e Pampilhosa da Serra.
Foi o desejo de ver a sua terra sair do isolamento em que se encontrava e de a dotar de condições de vida mais dignas, que levou muitos homens, em boa parte de humilde condição e pouca cultura que demandaram Lisboa à procura de uma vida melhor, a unirem-se num esforço comum, quotizando-se, fazendo leilões, passando rifas, abrindo subscrições, etc., conseguindo deste modo a estrada, o chafariz, o posto médico, a escola, o centro de convívio, a electricidade, os arruamentos e tantos outros melhoramentos que lentamente foram modificando as pitorescas aldeias encravadas nas encostas da Serra, tornando-as mais acolhedoras e minimizando um pouco a vida árdua dos seus habitantes.
Quantas dificuldades tiveram de ser vencidas para a concretização de muitos desses melhoramentos e até para a oficialização dessas patrióticas organizações que visavam unicamente o bem comum e a defesa e interesse da terra a que pertenciam os seus fundadores…
Nunca estas instituições mereceram do antigo regime o estímulo a que tinham direito. Talvez porque não perfilhassem qualquer ideologia política, ponto assente em todos os estatutos, o apoio prestado pelo Governo limitava-se a uma comparticipação que normalmente não excedia os 70 por cento, sempre que lhe apresentassem o projecto por si custeado e o mesmo visse a aprovação do gabinete.
Com a mudança política ocorrida com o 25 de Abril de 1974, ainda se pensou que, finalmente, as Comissões e Ligas de Melhoramentos iriam merecer da parte dos novos responsáveis pelos destinos do País uma maior atenção. Mas, decorridos quatro anos após essa mudança, continuamos na mesma e, se pretendemos um melhoramento, por pequeno que seja, temos que recorrer à generosidade dos conterrâneos, pois só desta forma conseguimos minorar um pouco as precárias condições de vida daqueles que lá na aldeia continuam a querer viver.
Esperamos que o Socialismo, tantas vezes focado pelos nossos políticos, não continue a ser palavra vã e que as nossas pequenas aldeias serranas sejam, finalmente, olhadas como parte integrante deste nosso Portugal, devendo o Estado, como lhe compete, realizar os benefícios necessários à emancipação dos seus povos, nomeadamente nos aspectos assistencial, cultural e social.
Lisboa, 9-11-78
HENRIQUE MENDES
“A Comarca de Arganil” publicava há 30 anos, na edição de 14 de Novembro de 1978, este artigo de opinião assinado por Henrique Brás Mendes.
in http://upfc-colmeal-gois.blogspot.com
Foi há mais de meio século que surgiu esse movimento que viria a estender-se, quase como contágio, à maioria das povoações que constituem os concelhos de Góis, Arganil e Pampilhosa da Serra.
Foi o desejo de ver a sua terra sair do isolamento em que se encontrava e de a dotar de condições de vida mais dignas, que levou muitos homens, em boa parte de humilde condição e pouca cultura que demandaram Lisboa à procura de uma vida melhor, a unirem-se num esforço comum, quotizando-se, fazendo leilões, passando rifas, abrindo subscrições, etc., conseguindo deste modo a estrada, o chafariz, o posto médico, a escola, o centro de convívio, a electricidade, os arruamentos e tantos outros melhoramentos que lentamente foram modificando as pitorescas aldeias encravadas nas encostas da Serra, tornando-as mais acolhedoras e minimizando um pouco a vida árdua dos seus habitantes.
Quantas dificuldades tiveram de ser vencidas para a concretização de muitos desses melhoramentos e até para a oficialização dessas patrióticas organizações que visavam unicamente o bem comum e a defesa e interesse da terra a que pertenciam os seus fundadores…
Nunca estas instituições mereceram do antigo regime o estímulo a que tinham direito. Talvez porque não perfilhassem qualquer ideologia política, ponto assente em todos os estatutos, o apoio prestado pelo Governo limitava-se a uma comparticipação que normalmente não excedia os 70 por cento, sempre que lhe apresentassem o projecto por si custeado e o mesmo visse a aprovação do gabinete.
Com a mudança política ocorrida com o 25 de Abril de 1974, ainda se pensou que, finalmente, as Comissões e Ligas de Melhoramentos iriam merecer da parte dos novos responsáveis pelos destinos do País uma maior atenção. Mas, decorridos quatro anos após essa mudança, continuamos na mesma e, se pretendemos um melhoramento, por pequeno que seja, temos que recorrer à generosidade dos conterrâneos, pois só desta forma conseguimos minorar um pouco as precárias condições de vida daqueles que lá na aldeia continuam a querer viver.
Esperamos que o Socialismo, tantas vezes focado pelos nossos políticos, não continue a ser palavra vã e que as nossas pequenas aldeias serranas sejam, finalmente, olhadas como parte integrante deste nosso Portugal, devendo o Estado, como lhe compete, realizar os benefícios necessários à emancipação dos seus povos, nomeadamente nos aspectos assistencial, cultural e social.
Lisboa, 9-11-78
HENRIQUE MENDES
“A Comarca de Arganil” publicava há 30 anos, na edição de 14 de Novembro de 1978, este artigo de opinião assinado por Henrique Brás Mendes.
in http://upfc-colmeal-gois.blogspot.com
Etiquetas: regionalismo
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