Esporão: Rescaldo de uma Festa na Aldeia
Tratar da festa anual de uma aldeia, não é nada fácil.
Confesso que às vezes tenho saudades de outros tempos, em que era tudo tão simples e as pessoas viviam as festas com tanta intensidade. Não havia casas de convívio, tudo era preparado pelos mordomos eleitos e esse tudo era basicamente um peditório pelas aldeias vizinhas, a missa, o leilão, uma banca para vender as cervejas e uns copos de vinho. O baile era num terreiro mal amanhado ao som de uma aparelhagem. Ainda me lembro, talvez há mais de 40 anos, em que na festa da Cerdeira, dançámos toda a noite até nascer o sol, ao som da aparelhagem do Sr. António Almeida Seiroco de Arganil. Era vira o disco e toca o mesmo, literalmente, uma vez que eram utilizados discos de vinil que se colocavam no gira-discos, e quando chegava ao fim da música mudava-se a agulha para o princípio, para a dança durar mais um pouco!...
Ah!! É verdade! Como não havia electricidade nas nossas aldeias, na noite da festa o recinto era iluminado com lâmpadas alimentadas por um gerador, que também nos dava a música...
Hoje em dia, à partida a ideia é arranjar dinheiro para pagar todas as despesas inerentes à festa (que não são poucas) e tentar que reste alguma coisa, por pouco que seja, para ajudar em alguma obra necessária. Primeiro há que angariar patrocínios das empresas para compor o cartaz. Não é fácil andar a bater à porta destas, porque já estão fartos destes peditórios. Enquanto alguns (poucos) nos recebem com um sorriso e ainda nos dão mais do que pedimos, outros nos recebem de má cara ou com um sorriso amarelo... e nós saímos incomodados, porque sabemos que a vida não está fácil e os negócios não vão assim tão bem.
Depois há que contratar as animações e regatear com os conjuntos, para fazerem um preço mais baixo, e nunca se agrada a todos na escolha feita.
Seguidamente, toca a espalhar os cartazes, que ao outro dia, muitos surgem rasgados, vamos lá saber porquê...
Quanto às rifas para sortear no dia da festa, as pessoas dizem que os prémios são "reles". Mas ainda temos esperança que um dia o João Paixão nos dê um plasma e a Neves e Bandeira um carro de preferência topo de gama, para sortear!
Depois há que compor a quermesse, porque a Bela quer ver as prateleiras compostas com prendas bonitas e atraentes e discute-se se os papelinhos hão-de ser a cinquenta cêntimos ou a 1 euro (sim, porque saía sempre!).
A seguir vamos juntar as peças de artesanato que as senhoras confeccionam ao longo do ano (gastando material e ganhando dores nas costas), para oferecer à festa e depois pedem um preço baixinho para tentar vender... mas nem assim se vende. Sim, porque a crise já se reflecte nas festas...
Há que fazer as compras para o bar e cozinha, e embora se queira poupar, também não queremos passar pela maior vergonha de chamar as pessoas a nossa casa e faltar a comida. Resultado: sobra sempre e lá vai alguma para congelar, outra para as galinhas da Alice e os cães até se lambem!...
Mas o mais importante, para além do convívio, é o trabalho e a dedicação das pessoas. Estas festas acarretam muito trabalho para todos: é necessário alguém para tratar do som, para enfeitar, confeccionar, servir à mesa, lavar a loiça (visto que a ideia dos pratos descartáveis não foi aceite) a Bela Nartins e a Lídia apanharam com um bom frete a lava-la e ainda ficaram tachos e as panelas para depois...
Todas as ajudas são bem vindas. De todas elas realço a colaboração de um homem, que não sendo do Esporão e nem cá tendo raízes, nos deu um bom exemplo de trabalho e dedicação. O Ribeiro trabalhou dois dias e duas noites até à exaustão! Às vezes resmungando, mas nunca virando as costas ao trabalho.
Em contra-partida, alguns há, que nos vêm chantagear, dizendo que a ajuda para uma próxima festa, dependerá de ter ou não a sua rua iluminada com centenas de lâmpadas coloridas, que em nada beneficiam o ambiente, antes pelo contrário e ainda nos leva uma boa parcela da poupança e do esforço de cada um , é no mínimo decepcionante e extremamente injusto.
Felizmente há pessoas que nos dão palavras de incentivo, que nos comoveram, tais como o Vítor Rodrigues, que juntou um bom donativo, para ajudar às despesas.
É que apesar de se tratar de uma festa, não é uma brincadeira...!
Ilda Celeste Ferreira
in Jornal de Arganil, de 16/10/2008
Confesso que às vezes tenho saudades de outros tempos, em que era tudo tão simples e as pessoas viviam as festas com tanta intensidade. Não havia casas de convívio, tudo era preparado pelos mordomos eleitos e esse tudo era basicamente um peditório pelas aldeias vizinhas, a missa, o leilão, uma banca para vender as cervejas e uns copos de vinho. O baile era num terreiro mal amanhado ao som de uma aparelhagem. Ainda me lembro, talvez há mais de 40 anos, em que na festa da Cerdeira, dançámos toda a noite até nascer o sol, ao som da aparelhagem do Sr. António Almeida Seiroco de Arganil. Era vira o disco e toca o mesmo, literalmente, uma vez que eram utilizados discos de vinil que se colocavam no gira-discos, e quando chegava ao fim da música mudava-se a agulha para o princípio, para a dança durar mais um pouco!...
Ah!! É verdade! Como não havia electricidade nas nossas aldeias, na noite da festa o recinto era iluminado com lâmpadas alimentadas por um gerador, que também nos dava a música...
Hoje em dia, à partida a ideia é arranjar dinheiro para pagar todas as despesas inerentes à festa (que não são poucas) e tentar que reste alguma coisa, por pouco que seja, para ajudar em alguma obra necessária. Primeiro há que angariar patrocínios das empresas para compor o cartaz. Não é fácil andar a bater à porta destas, porque já estão fartos destes peditórios. Enquanto alguns (poucos) nos recebem com um sorriso e ainda nos dão mais do que pedimos, outros nos recebem de má cara ou com um sorriso amarelo... e nós saímos incomodados, porque sabemos que a vida não está fácil e os negócios não vão assim tão bem.
Depois há que contratar as animações e regatear com os conjuntos, para fazerem um preço mais baixo, e nunca se agrada a todos na escolha feita.
Seguidamente, toca a espalhar os cartazes, que ao outro dia, muitos surgem rasgados, vamos lá saber porquê...
Quanto às rifas para sortear no dia da festa, as pessoas dizem que os prémios são "reles". Mas ainda temos esperança que um dia o João Paixão nos dê um plasma e a Neves e Bandeira um carro de preferência topo de gama, para sortear!
Depois há que compor a quermesse, porque a Bela quer ver as prateleiras compostas com prendas bonitas e atraentes e discute-se se os papelinhos hão-de ser a cinquenta cêntimos ou a 1 euro (sim, porque saía sempre!).
A seguir vamos juntar as peças de artesanato que as senhoras confeccionam ao longo do ano (gastando material e ganhando dores nas costas), para oferecer à festa e depois pedem um preço baixinho para tentar vender... mas nem assim se vende. Sim, porque a crise já se reflecte nas festas...
Há que fazer as compras para o bar e cozinha, e embora se queira poupar, também não queremos passar pela maior vergonha de chamar as pessoas a nossa casa e faltar a comida. Resultado: sobra sempre e lá vai alguma para congelar, outra para as galinhas da Alice e os cães até se lambem!...
Mas o mais importante, para além do convívio, é o trabalho e a dedicação das pessoas. Estas festas acarretam muito trabalho para todos: é necessário alguém para tratar do som, para enfeitar, confeccionar, servir à mesa, lavar a loiça (visto que a ideia dos pratos descartáveis não foi aceite) a Bela Nartins e a Lídia apanharam com um bom frete a lava-la e ainda ficaram tachos e as panelas para depois...
Todas as ajudas são bem vindas. De todas elas realço a colaboração de um homem, que não sendo do Esporão e nem cá tendo raízes, nos deu um bom exemplo de trabalho e dedicação. O Ribeiro trabalhou dois dias e duas noites até à exaustão! Às vezes resmungando, mas nunca virando as costas ao trabalho.
Em contra-partida, alguns há, que nos vêm chantagear, dizendo que a ajuda para uma próxima festa, dependerá de ter ou não a sua rua iluminada com centenas de lâmpadas coloridas, que em nada beneficiam o ambiente, antes pelo contrário e ainda nos leva uma boa parcela da poupança e do esforço de cada um , é no mínimo decepcionante e extremamente injusto.
Felizmente há pessoas que nos dão palavras de incentivo, que nos comoveram, tais como o Vítor Rodrigues, que juntou um bom donativo, para ajudar às despesas.
É que apesar de se tratar de uma festa, não é uma brincadeira...!
Ilda Celeste Ferreira
in Jornal de Arganil, de 16/10/2008
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