quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O Mérito de uma Medalha (Irmãos Bandeiras, Ld.ª)

Excerto do texto proferido em 13 de Agosto de 2008 por ocasião da entrega da Medalha de Mérito da Câmara Municipal de Góis aos fundadores da empresa "Irmãos Bandeiras, Lda."

Filhos de Augusto Fernandes Bandeira e de Rosalina Alves, nasceram em S. Martinho - Góis, o Augusto em 1921 e o Eugénio Bandeira em 1923, no seio de uma família de mais 2 irmãs, a Alda e a Suzete. 2 anos de diferença que não os separaram posto que os uniram desde sempre, nas escassas brincadeiras, nos estudos, no trabalho e nos investimentos.
Iniciaram a sua actividade profissional muito cedo a par dos seus estudos ajudando o seu pai no mister de ferreiro, onde aprenderam a trabalhar e a moldar o ferro. Dedicaram também a sua infância e adolescência às amizades, iniciando-se no espírito social e cultural da época, as tertúlias musicais e folclóricas e a participação no Associativismo cultural e religioso.
O evoluir da vida permitiu, a construção mental de sonhos de vida, fazendo com que os irmãos Augusto e Eugénio Bandeira tentassem a sua sorte em Angola, na vila do Bom Jesus em Catete. Aqui, na fábrica de açúcar de seu nome Sociedade de Comércio e Construção, fizeram a sua aprendizagem na manutenção de maquinaria pesada a par da condução de homens, tendo-se feito com tal empenho e profissionalismo ao ponto de granjearem amigos entre empregados e bastos louvores entre patrões e administradores de várias nacionalidades.
O destino prega-nos inúmeras partidas e a guerra colonial coloca um impasse nestas vidas. Tomada a decisão conjunta dolorosa de regressarem a Portugal em 1961, fizeram-no para a sua terra, onde tinham as suas raízes intactas. Reiniciam as suas vidas.
Estudando as carências do concelho, nasce o projecto "Irmãos Bandeiras" em 1962 concretizando formalmente no papel uma sociedade que na prática tinha sido iniciada desde o nascimento dos Irmãos Augusto e Eugénio.
Primeira industria na área da metalurgia do ferro e mais tarde do alumínio, em Góis, começou sem empregados numa pequena garagem. Do ferro ao alumínio, dos motores de rega aos motores de todos os tipos tudo se arranjava e a todos se prestava ajuda, muitas e variadas vezes retribuídas com um muito obrigado.
A empresa foi crescendo em conteúdo e empregados, tendo-se construído em determinada altura como escola de formação nesta área. Em 1963 entra o primeiro aprendiz. Em 1967 foi dado novo arranque no edifício já em forma de industria, tendo sido adquiridas por esta altura a melhor maquinaria da época. Em 1968 foi constituída a sociedade por quotas limitadas e a terceira expansão é dada em 1973 já com 11 empregados e mais alguns aprendizes.
Podia-se ler no Jornal "O Goiense" em Março de 1973 "Estes dois homens, símbolo do trabalho e do querer reflectem em si a força da gente goiense! Souberam, além de mais criar ali dentro um clima de fraternidade entre eles e todos os seus colaboradores, o ambiente é totalmente familiar! Quase não se nota a diferença entre patrões e empregados, pois todos se ajudam uns aos outros, todos procuram cumprir da melhor maneira com o seu dever".
Se fosse hoje olhávamos para esta história como de sucesso, chamar-lhe-íamos incubadora de desenvolvimento económico, porque todos quantos trabalharam e aprenderam nesta empresa saíram para formarem novas empresas e novos pólos de desenvolvimento no concelho de Góis e noutros concelhos levando bem longe o nome da empresa "Irmãos Bandeiras, Lda" como escola deformação na área da metalurgia.
A 4 anos do cinquentenário desta empresa aqui fica o exemplo que perpetua o sucesso e a nossa homenagem a quem faz da sua vida um empenho de trabalho e de resultados sociais.
O Augusto mais cerebral e com mais jeito para a gestão e contabilidade fica naturalmente entregue também a gestão da empresa enquanto o Eugénio com mais gosto para o exterior e relações públicas ficam naturalmente entregues as compras e vendas ou seja a distribuição e montagem do trabalho final.
Foi o Eugénio, nestas viagens de trabalho, pelas aldeias da serra, que me deu a conhecer bem o concelho de Góis, suas riquezas e suas carências, num ensinamento de vida que perdura até hoje. Ensinou-me a nunca desistir na vida e nos projectos, ensinamento que fazia questão de praticar. Certa ocasião com a carrinha avariada e arranjada de improviso no local dizia "Nunca fiquei na estrada e nunca faltei a um compromisso, não será hoje". Assim fizemos esse dia, não desistimos e não faltámos aos compromissos. Era assim o Eugénio, demonstrando uma estirpe de carácter, um estoicismo que sempre lhe reconheci.
O Augusto, os mesmo valores, curioso como ninguém, no trabalho também nunca o vi desistir, arranjando um relógio de pulso, de parede ou de torre da igreja, desde os simples motores de rega dispersos pelas propriedades agrícolas até às máquinas pesadas tipo caterpilar, tudo se arranjava sem temor ou hipótese de desistência.
O Augusto ensinou-me a nunca esconder as raízes sociais e familiares. Excelente contador de histórias reais, que as tem às centenas, vividas pessoalmente na universidade da vida, sempre fez questão de me ensinar os valores da vida, do país, do concelho e das instituições. Tocador de banjo, instrumento em cujos acordes sublima por vezes o seu dia de trabalho.
O Augusto sempre foi interventivo socialmente quando sabia que podia contribuir com o seu saber e fazer em prol da comunidade. Foi com esta ideia que a certa altura e durante algum tempo dirigiu os destinos da Filarmónica da Associação Educativa e Recreativa de Góis e da Irmandade de S. Salvador do Mundo de Bordeiro. Com essa vontade de missão faz uma incursão na política autárquica pensando que também por essa via poderia ajudar. Sempre com a ideia de sem investimento não há empresas, sem empresas não há trabalho, sem trabalho não há progresso.
Estes 2 homens representam valores que temos a oportunidade de homenagear: vontade, determinação, audácia, trabalho e amor pela sua terra. Bem hajam.
Fernando J. Bandeira da Cunha
in Jornal de Arganil, de 11/09/2008

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