José Matos Cruz
Na quinta-feira passada recebemos um telefonema e alguém do outro lado da linha dáva-nos a triste notícia: «morreu o Matos Cruz». Não queríamos acreditar. Poucos dias antes, tínhamos encontrado este amigo em Góis, na Biblioteca Municipal, onde era apresentado um programa de desenvolvimento para o Município, e como sempre falámos de nós, dos amigos, da terra. E dizia-nos o Matos Cruz, sempre optimista, com a bonomia que o caracterizava, «ainda tenho muito que fazer».
Apesar de ter ultrapassado os oitenta, José de Matos Cruz era um jovem. Um jovem de espírito e a idade não era impedimento para que fosse um homem informado e interessado. Pela família, pelos amigos, pela sua terra, pelo Regionalismo e também um católico, valente e consciente, combatendo o bom combate ao serviço da Igreja, dos irmãos e da comunidade. E ao longo da vida, com essa sua maneira de ser e de estar, Matos Cruz foi capaz de fazer e de ter muitos Amigos, mas recebeu também muitas ingratidões, foi incompreendido e até ofendido na sua dignidade mas nem por isso se desviou dos princípios em que acreditava, de trilhar os caminhos rectos da verdade que defendia e era a sua bandeira.
Matos Cruz era um bom. É hábito, quando alguém morre, dizer quase sempre estas palavras. Fazer elogios tantas vezes fáceis, mas balofos sem sentido e sem serem sentidos. Mas este homem era de facto um homem bom. Com defeitos, certamente, mas também com muitas virtudes, que nem sempre foram reconhecidas e aproveitadas com deviam e mereciam por parte de alguns que se esquecem que a gratidão é uma das mais sublimes virtudes.
Falar da vida e obra de José de Matos Cruz é falar de alguém que passou pela vida fazendo o bem. Mas nem sempre a vida terá sido justa para com ele. Nasceu e cresceu na sua Várzea, que tanto amava. Aprendeu as primeiras letras e como tantos outros da sua idade que não nasciam em berço de ouro, cedo começou a sentir o peso da responsabilidade do trabalho. Comeu o pão que o diabo amassou. Vendeu minério quando o seu concelho esteve no auge com a exploração do volfrâmio (e sobre isto contava histórias e recambolescas aventuras), passou pelo Seminário (que foi e sempre considerou importante na sua formação), militante e activista da Juventude Operária Católica, andou por Lisboa, depois pelo Brasil, regressou novamente a Lisboa e à sua Vila Nova do Ceira, onde gostava de passar o maior tempo possível. Serviu o Regionalismo, foi vereador da Câmara Municipal de Góis e estava sempre na primeira linha para ajudar e elevar as colectividades da sua terra e do seu concelho, não só quando estavam nos seus momentos mais altos, mas sobretudo quando crises batiam à porta. Na Casa do Concelho de Góis, na Comissão de Melhoramentos, cuja bandeira cobriu a sua urna até à última morada.
No «Varzeense», de que foi durante anos chefe de redacção, José de Matos Cruz fazia a sua tribuna privilegiada não só para a defesa dos valores em que acreditava, mas também para a defesa da terra, da região. Em A Comarca de Arganil, de que era um verdadeiro amigo, nos muitos artigos e reportagens que aqui escreveu, nas suas colunas, dando a cara sem se esconder, como fazem os cobardes, no anonimato venenoso que tantos utilizam para espalhar a confusão e a discórdia, para despejaram a maldade e o ódio, como infelizmente acontece por parte daqueles que nunca fizeram nada por ninguém, nem pela comunidade onde infelizmente estão inseridos.
Era isto, era esta hipocrisia, que o Matos Cruz contrariava e também combatia. Isto era o contrário do que defendia e praticava. E por tudo isto também muito mais havia a dizer deste Amigo que agora nos deixou. Não temos o engenho e arte para o fazer como gostaríamos, porque é sempre difícil, para nós e nestes momentos, falar de um Amigo. Um Amigo que certamente não tinha muito, em termos materiais. E por isso, segundo o ditado, nada valia. Mas o ditado é contrariado porque o Matos Cruz valia muito. Porque além de ser uma verdadeiro Amigo, tinha um grande coração, um coração do tamanho do mundo, onde cabiam todos, pobres e ricos, grandes e pequenos, brancos ou pretos, crentes ou ateus. Tinha também inimigos, certamente, mas a prova de quanto era estimado foi o seu funeral. Muitos amigos e muitos mais viriam se disso tivessem conhecimento. Muitas flores. As orações e os cânticos a Nossa Senhora, de que tanto gostava, a «embalarem» os seus restos mortais a caminho da última morada. Com o coração a sangrar, o filho do Matos Cruz, o padre Robson, presidiu às cerimónicas, concelebradas pelos padres António Calisto e Carlos Cardoso. Falou do pai, do seu exemplo, do seu amor à família, às causas que abraçou e à terra que o viu nascer, numa homilia que foi um autêntico hino de amor. E depois, os sinos da torre da igreja que tanto amava, a sua igreja de Vila Nova do Ceira, tocaram sentidamente durante a última viagem e até o seu corpo, frio, descer à terra no cemitério da Mata.
J. M. Castanheira
in A Comarca de Arganil, de 22/04/2008
Apesar de ter ultrapassado os oitenta, José de Matos Cruz era um jovem. Um jovem de espírito e a idade não era impedimento para que fosse um homem informado e interessado. Pela família, pelos amigos, pela sua terra, pelo Regionalismo e também um católico, valente e consciente, combatendo o bom combate ao serviço da Igreja, dos irmãos e da comunidade. E ao longo da vida, com essa sua maneira de ser e de estar, Matos Cruz foi capaz de fazer e de ter muitos Amigos, mas recebeu também muitas ingratidões, foi incompreendido e até ofendido na sua dignidade mas nem por isso se desviou dos princípios em que acreditava, de trilhar os caminhos rectos da verdade que defendia e era a sua bandeira.
Matos Cruz era um bom. É hábito, quando alguém morre, dizer quase sempre estas palavras. Fazer elogios tantas vezes fáceis, mas balofos sem sentido e sem serem sentidos. Mas este homem era de facto um homem bom. Com defeitos, certamente, mas também com muitas virtudes, que nem sempre foram reconhecidas e aproveitadas com deviam e mereciam por parte de alguns que se esquecem que a gratidão é uma das mais sublimes virtudes.
Falar da vida e obra de José de Matos Cruz é falar de alguém que passou pela vida fazendo o bem. Mas nem sempre a vida terá sido justa para com ele. Nasceu e cresceu na sua Várzea, que tanto amava. Aprendeu as primeiras letras e como tantos outros da sua idade que não nasciam em berço de ouro, cedo começou a sentir o peso da responsabilidade do trabalho. Comeu o pão que o diabo amassou. Vendeu minério quando o seu concelho esteve no auge com a exploração do volfrâmio (e sobre isto contava histórias e recambolescas aventuras), passou pelo Seminário (que foi e sempre considerou importante na sua formação), militante e activista da Juventude Operária Católica, andou por Lisboa, depois pelo Brasil, regressou novamente a Lisboa e à sua Vila Nova do Ceira, onde gostava de passar o maior tempo possível. Serviu o Regionalismo, foi vereador da Câmara Municipal de Góis e estava sempre na primeira linha para ajudar e elevar as colectividades da sua terra e do seu concelho, não só quando estavam nos seus momentos mais altos, mas sobretudo quando crises batiam à porta. Na Casa do Concelho de Góis, na Comissão de Melhoramentos, cuja bandeira cobriu a sua urna até à última morada.
No «Varzeense», de que foi durante anos chefe de redacção, José de Matos Cruz fazia a sua tribuna privilegiada não só para a defesa dos valores em que acreditava, mas também para a defesa da terra, da região. Em A Comarca de Arganil, de que era um verdadeiro amigo, nos muitos artigos e reportagens que aqui escreveu, nas suas colunas, dando a cara sem se esconder, como fazem os cobardes, no anonimato venenoso que tantos utilizam para espalhar a confusão e a discórdia, para despejaram a maldade e o ódio, como infelizmente acontece por parte daqueles que nunca fizeram nada por ninguém, nem pela comunidade onde infelizmente estão inseridos.
Era isto, era esta hipocrisia, que o Matos Cruz contrariava e também combatia. Isto era o contrário do que defendia e praticava. E por tudo isto também muito mais havia a dizer deste Amigo que agora nos deixou. Não temos o engenho e arte para o fazer como gostaríamos, porque é sempre difícil, para nós e nestes momentos, falar de um Amigo. Um Amigo que certamente não tinha muito, em termos materiais. E por isso, segundo o ditado, nada valia. Mas o ditado é contrariado porque o Matos Cruz valia muito. Porque além de ser uma verdadeiro Amigo, tinha um grande coração, um coração do tamanho do mundo, onde cabiam todos, pobres e ricos, grandes e pequenos, brancos ou pretos, crentes ou ateus. Tinha também inimigos, certamente, mas a prova de quanto era estimado foi o seu funeral. Muitos amigos e muitos mais viriam se disso tivessem conhecimento. Muitas flores. As orações e os cânticos a Nossa Senhora, de que tanto gostava, a «embalarem» os seus restos mortais a caminho da última morada. Com o coração a sangrar, o filho do Matos Cruz, o padre Robson, presidiu às cerimónicas, concelebradas pelos padres António Calisto e Carlos Cardoso. Falou do pai, do seu exemplo, do seu amor à família, às causas que abraçou e à terra que o viu nascer, numa homilia que foi um autêntico hino de amor. E depois, os sinos da torre da igreja que tanto amava, a sua igreja de Vila Nova do Ceira, tocaram sentidamente durante a última viagem e até o seu corpo, frio, descer à terra no cemitério da Mata.
J. M. Castanheira
in A Comarca de Arganil, de 22/04/2008
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